Esse texto tem três versões aqui no
blog e acho importante, de tempos em tempos, trazer novamente a pauta para as
pessoas. A primeira versão, que hitou pra caramba, foi escrita em 2010. Três
anos depois revisitei o texto e em 2017 dei uma modernizada nele. Acho que faz
sentido a essência dele voltar em 2020, principalmente porque a pandemia e
quarentena estão fazendo com que muitas pessoas revejam seus valores e o que
querem para a vida a partir de um novo normal que se inicia.
Pois bem, quem me conhece ou quem
me acompanha por aqui, pelas redes sociais, pelo podcast e pelos grupos de
whatsAPP sabe que tenho uma visão bem peculiar de sustentabilidade. Há mais de
dez anos, por exemplo, falo que ela não é uma área que começa e termina em si;
ela é integradora e trabalha dando suporte aos demais processos da empresa. E foi
com essa visão, inclusive, que nasceu a minha primeira empresa, a Agência de
Sustentabilidade, uma consultoria focada em desenvolver projetos de
sustentabilidade no nível de processos.
Vira e mexe, ainda hoje, recebo mensagem
de pessoas me perguntando como fazer para trabalhar com sustentabilidade corporativa.
Em quase onze anos de existência desse blog, digo que uns 60% dos e-mails que
respondi são de pessoas que entram em contato comigo foi sobre isso. Muitas
reclamam que para entrar na área as empresas exigem experiência, mesmo quando
ela está sendo formada e mesmo quando a área, apesar do nome, não faz
sustentabilidade.
Na primeira temporada do
SustentaíCast, acho que o quarto ou quinto episódio, falo exatamente sobre o
perfil da área de sustentabilidade, o escopo de trabalho, as competências
comportamentais e profissionais que o profissional da área deve ter, as “melhores”
formações... Fica a dica para quem ainda não ouviu!
Acontece que mesmo tendo a área
em um monte de empresa, ela costuma ser muito hostil a quem não está na patota.
Ainda mais em tempos de crise, já que é um dos setores que mais sofrem cortes
(falo sobre isso neste podcast). Há, ainda, um fator, digamos, agravante, pois,
geralmente, a área costuma ser muito enxuta, já que nem sempre as lideranças da
empresa enxergam o valor da sustentabilidade.
Ou seja, poucas vagas que, quando
aparecem, ou são ocupadas pelas mesmas pessoas de sempre, ou batem de frente
com a falta de profissionais qualificados (e é uma dificuldade real que
presencio aos montes, por mais que estejamos falando de uma área que caiu nas
graças das empresas há mais de dez anos).
Uma vez, conversando com uma
pessoa que fazia um MBA voltado para sustentabilidade, mas trabalhava em algo
completamente diferente, falei como ela poderia se tornar interessante para a
área. Porque a primeira coisa que aviso é que pós-graduação não vai habilitar
ninguém a ser um profissional de sustentabilidade e nem vai ser garantia de
emprego. Isso, inclusive, foi uma das coisas que mais me irritou quando fiz um
MBA na área, já que a maioria presente estava ali porque queria um emprego e
não contribuir com troca de conhecimento.
Julianna, já entendi o cenário, mas
gosto de sustentabilidade, quero trabalhar com isso, quero encontrar um
propósito na minha vida, mas a maldita falta de experiência tá pegando. O que
isso significa? Que meu mundo acabou, que estou condenado a ficar numa área que
não quero mais, insatisfeito no trabalho, amargurado com a vida e candidato a
uma úlcera?
Calma, jovem, não se desespere.
A principal dica que dou é fazer
um trabalho voluntário que proporcione experiência em sustentabilidade. Neste
caso, quando falo de voluntariado, não digo ir para uma creche limpar bumbum de
criança. Falo da possibilidade de se fazer um voluntariado sustentável e como
transformar uma ação meramente filantrópica em algo mais estratégico, que seja
bom para organização e bom para você.
Isso pode acontecer de duas
formas: seja participando de programas de voluntariado da sua empresa (apesar
de ser o tipo de programa que gera muita reputação, ainda mais em tempos de
pandemia, realmente não sei como está funcionando agora), seja você mesmo
procurando uma instituição do terceiro setor para propor soluções sustentáveis
para ela.
Julianna, mas o que seria propor
ações sustentáveis num trabalho voluntário?
Por exemplo, já pensou em
reestruturar o processo de captação ou criar uma campanha de arrecadação para
uma instituição do terceiro setor? Que tal ajudar uma entidade na melhoria dos
processos de forma a torna-los ambientalmente corretos? Ou então ser o
interlocutor da organização com empresas que impactam a região? Ou cuidar das
mídias sociais, gerando conteúdo de sustentabilidade e medindo o impacto do seu
trabalho no resultado final da ONG?
Outra sugestão que também dou é
aplicar a sustentabilidade na própria área em que você já trabalha. Tá no
financeiro? Procure mecanismos ou proponha projetos que envolvam finanças
sustentáveis. É do RH? Tem um mundo de ações para se fazer no engajamento
interno, em treinamento, recrutamento... Trabalha no marketing, na comunicação,
em supply, em IT? Dedique algumas horas da sua vida a como transformar o seu
setor em uma área sustentável.
Inclusive, a segunda temporada do
Sustentaí no Youtube foi, justamente, sobre como podemos aplicar a
sustentabilidade na nossa profissão sem ser da área de sustentabilidade. Teve
jornalismo, marketing, economia, arquitetura, gastronomia, gerenciamento de
projetos, publicidade, comunicação interna, engenharia química, design,
engenharia de produção, moda... Não sei se esqueci alguma. Mas se esqueci, é só
procurar na playlist.
Então galera, se vocês realmente
querem trabalhar na área de sustentabilidade, mas estão com dificuldades,
sugiro seguir algum desses caminhos. Façam isso, gerem resultados e depois
coloquem no currículo. Quando essa loucura passar, porque ela vai passar, tenho
certeza que terão uma baita história para contar de suas experiências com
sustentabilidade.