quarta-feira, 13 de maio de 2020

O que o corona vírus tem a nos ensinar sobre sustentabilidade para pessoas e empresas?


Já escrevi há pouco tempo sobre o covid aqui e, inclusive, a pergunta desse post foi mais ou menos o tema do primeiro episódio do SustentaíCast, que começou exatamente na semana em que o governador do Rio de Janeiro instaurou a quarentena, em meados de março. E apesar de já ser um tema relativamente batido, dado que é o que mais vem sendo discutido pelos profissionais de sustentabilidade nos dois últimos meses, sempre procuro trazer uma visão diferente.

Uma das primeiras questões levantadas, e que ninguém ainda tem a resposta, é se a disseminação do corona vírus é ou não fruto de desequilíbrios ambientais causados pelo homem. Simplesmente não sabemos. Outros pontos foram a redução das emissões de gases do efeito estufa, redução de poluição do ar, mares e rios, sem contar redução de atividades industriais intensivas em energia e matéria prima.

Obviamente tudo isso é muito bom, mas, paradoxalmente, sabemos que parar o mundo por muito tempo é absolutamente insustentável. Mas mesmo voltando, a verdade é que quando a pandemia acabar, a economia não será a mesma de meses atrás.

Para entenderem onde quero chegar, vou fazer um resgate de tempo. Eu comecei a palestrar em 2010, inclusive por causa do blog. Desde 2013, pelo menos, eu falo em minhas palestras que a gente ainda vivia no modelo do século XX, e que já tinha passado da hora de virarmos a chave para o século XXI. E apesar de não ter respostas ainda, acredito que essa pandemia vai fazer em alguns meses o que a gente vem postergando há 20 anos.

Eu, particularmente, consigo enxergar muitos legados que podem ser deixados pelo corona vírus para o planeta, para as empresas, para as pessoas. A grande dúvida é se serão mantidos após o fim da pandemia ou se o mundo forçará a ser tudo como antes. Espero que sejam. Espero muito que sejam.

Do ponto de vista individual, acredito que estamos meio que entendendo que não precisamos de tanta coisa para viver. A fartura do século XX nos acostumou a acreditar que bastava ter para ser. Mas não é bem assim. A necessidade está fazendo com que o consumo de forma geral diminua e as pessoas se deem conta que as relações, essas sim, são fundamentais para o corpo e para a alma.
   
E tiro como exemplo o dilema que a maioria dos influenciadores digitais está passando ultimamente. É uma casta criada no século XXI para avalizar um estilo de vida completamente insustentável que vínhamos carregando há décadas e décadas. Aí eu pergunto, salvo raríssima exceção, o que esses influenciadores tem a nos mostrar em tempos de pandemia? O desejo por um estilo de vida que nem a gente quer mais?

Do ponto de vista corporativo, há o legado de coisas simples, como finalmente estamos aprendendo a trabalhar remotamente e isso acaba por impactar em indicadores ambientai, como redução da necessidade de espaço físico, de transporte de pessoas, do custo intangível da (falta de) mobilidade, da melhora na qualidade de vida. É claro que não estou falando para trabalharmos o tempo inteiro de forma remota. Afinal, somos gente. E gente precisa ver gente, estar com gente. Mas imagina o impacto financeiro, social, ambiental se todas as empresas permitissem que seus funcionários fizessem trabalho remoto 1x por semana?

Além da questão da rotina corporativa, vejo uma outra possibilidade de legado do corona para as empresas e essa para mim é, talvez, a mais importante. As empresas tiveram e estão tendo de se reinventar. E rápido. Independente do tamanho, independente do setor. Desde a cafeteria do bairro que agora só pode fazer delivery, até a empresa de exploração de petróleo que viu o covid antecipar o que estava na iminência de acontecer, que é a ruptura do setor a ponto de o preço do barril ter ficado negativo em abril.

O distanciamento social, a queda no consumo, tão impondo não somente uma reinvenção pura e simples; as empresas estão sendo obrigadas a se desmaterializarem. Acontece que isso está começando a impactar no nível de modelo de negócios.

Uma indústria de bebida, cuja maior parte do faturamento vem da venda de cerveja para bares e restaurantes, não vai conseguir compensar essa perda simplesmente fazendo entrega na casa do cliente. Da mesma forma, que não vamos precisar ter 500 mudas de roupas se a vida vai ser mais indoor e parte do trabalho for feito em home office. Também não vamos mais precisar ter a posse do carro e de muitas outras coisas.

Meus queridos, o mundo mudou e mudou forte. A empresa que não perceber isso e não fizer a correlação de sustentabilidade com toda essa bagunça que está acontecendo, vai bater cabeça nas próximas décadas. Se sobreviver até lá.

E a sua empresa, está preparada para o futuro?



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