Antes de responder a pergunta, já digo de antemão que essa
expressão, sequer, existe. Na verdade, eu me apropriei do conceito que vem da
área de segurança do trabalho e ajustei para o contexto da sustentabilidade.
Mas enfim, o que seria cultura da sustentabilidade?
Pegando ainda a definição de segurança e a adaptando, seria
um conjunto de práticas e atitudes compartilhadas com os colaboradores de uma
empresa com o objetivo de tornar essa empresa sustentável. Quando digo conjunto
de práticas e atitudes, eu estou indo além do óbvio visível, de ação no dia a
dia, mas incorporar a cultura da sustentabilidade à estratégia e tomada de
decisão.
E é justamente aí, neste ponto, que o olhar da cultura da
sustentabilidade mais se difere da cultura da segurança. Para começo, a cultura
de segurança é tangível. Você consegue comparar ano a ano a escalada
a partir da quantidade de acidentes, horas de afastamento, óbitos, perdas
financeiras...
A sustentabilidade que vai muito além de legislação ou mesmo
gestão ambiental, a que tem viés holístico e sistêmico, essa sustentabilidade é,
absolutamente intangível, apesar de se ter alguns mecanismos de medição. A questão
é que ela é muito mais voltada para a geração de valor, por isso é tão complexo
medir o quanto uma empresa está ampliando ou amadurecendo essa cultura.
Além disso, a sustentabilidade é fundamentada em uma relação
de causa e efeito que não é nada direta. Tipo, o que significa uma empresa que
deixou de emitir não sei quantas mil toneladas de CO2 ou deixou de poluir um
curso hídrico do seu entorno? O quanto a ação de uma empresa valorizou por ela
ser sustentável ou o quanto o mercado a enxerga como mais confiável por ela ser,
efetivamente, uma empresa sustentável?
Acontece que ter esse tipo de questionamento e obter as respostas não são a porta de
entrada da cultura da sustentabilidade numa empresa. Pelo contrário, para mim é
a ponta final de um processo longo e repetitivo. E se uma empresa está pronta
para esse nível de sofisticação, significa que ela passou pelo maior desafio da
cultura da sustentabilidade, que é o de engajamento.
Na verdade, o engajamento é o ponto crítico para o
desenvolvimento de qualquer cultura organizacional. Seja sustentabilidade, segurança, inovação, diversidade, o que for. Não se esqueçam disso:
ENGAJAMENTO. E o maior dos problemas é que muita gente, muito RH, insiste que
para ter colaboradores engajados basta montar um programa de treinamento e aplicaá-lo pra todo mundo da mesma forma.
Hum... creio que não. Não mesmo.
Quando a gente fala de engajamento, as razões que levam uma
pessoa a ser engajada são absolutamente pessoais. É de dentro para fora. Independente
da área em que ela trabalha ou o nível hierárquico que ela ocupa. O engajamento
é único. Colocar numa sala 40 pessoas com diferentes motivações, diferentes
perspectivas, diferentes entendimentos e padronizar a informação passada é um belo
convite para o nada. Tempo e dinheiro jogado fora. E convenhamos, olhem o
orçamento que a área de treinamento tem e façam o ROI disso. Duvido que a conta
feche!
Enfim, entender o perfil dos colaboradores, como eles absorvem conhecimento, a percepção que eles têm para a sustentabilidade e como se relacionam com ela
no dia-a-dia é chave para o desenvolvimento dessa cultura na empresa. Não adianta
simplesmente achar que criar um EaD, colocar o presidente para falar, escrever
sustentabilidade na missão e nos valores e, até, inclui-la nas metas anuais vão
transformar uma massa de colaboradores em pessoas engajadas. Não vai. E de
novo, vai ser só tempo e dinheiro jogados fora.