Quando se fala em inovação, a
gente pode analisar por diversos ângulos. O da melhoria de processos, de novos
produtos, novos modelos de negócios, ou mesmo uma grande disrupção, que abraça
tudo junto ao mesmo tempo, com uma pitada de caos e certa destruição de
mercado.
O que tenho visto ao longo dos
anos é que a inovação é uma das maiores aliadas da sustentabilidade corporativa
e vice-versa. Pelo menos deveria ser. Digo isso porque na minha visão, e
acredito que de várias pessoas, não faz sentido algum uma empresa pensar na
inovação isolada da sustentabilidade.
Peguemos a melhoria de processos,
por exemplo. Neste caso falo de buscar formas de redução de consumo de
materiais, recursos naturais, redução de desperdício, de falhas, de custos,
novos processos que geram menos resíduos... Por essa perspectiva digo que a
engenharia de produção é a engenharia da sustentabilidade (ok, do século XX,
mas isso é outro papo), já que uma das premissas de atuação dela é, justamente,
a busca pela eficiência das operações.
Lean manufacturing,
six sigma, qualidade
total... tudo isso tem como pano de fundo a sustentabilidade, ainda que ela
não seja o objetivo principal. Aliás, a
quem interessar possa, na temporada do Sustentaí sobre sustentabilidade nas
profissões, tem um vídeo que falo exatamente sobre isso: https://www.youtube.com/watch?v=QWsm83prmZ4
É claro que se a gente olhar na
lupa, melhoria de processos não é inovação. Acontece que está dentro do escopo,
principalmente no Brasil, onde até a compra de maquinário mais sofisticado já
coloca a empresa no rol das inovadoras. É meio doido isso, mas façam como eu, simplesmente
aceitem e sigam a vida.
Indo para a inovação de produtos,
me digam qual o sentido de ir para o mercado algo novo que não seja minimamente
sustentável? Não sou inocente de achar que isso é preocupação da maioria, mas
ainda assim não tem lógica nos dias de hoje isso não ser default na indústria. Não
estou falando de lançar um produto sustentável, mas um produto qualquer que cumpra
os requisitos de sustentabilidade, desde o design até a ponta final.
Inclusive, recomendo pesquisarem
o caso da Nike sobre desenvolvimento de produtos e o sistema Making. Não sei
como ele está hoje, até dei uma procurada, mas o site que apontavam está fora
do ar, então é provável que o projeto não exista mais. Mas de qualquer forma, o
registro histórico vale a pena.
Em 2013 fiz uma palestra e falei
sobre esse case. Na verdade, falei sobre a escalada da Nike para a
sustentabilidade, desde o escândalo de mão de obra infantil, até chegar no
Making. A palestra foi gravada e disponibilizada no youtube. Apesar do tempo,
ainda continua bem atual. Quem tiver interesse em assistir (modéstia à parte,
vale bem a pena), basta acessar o link: https://www.youtube.com/watch?v=EYlvvGSyY68.
Sobre inovação em modelo de
negócios, que é o meu grande xodozinho, parto da mesma lógica: não faz sentido
esse nível de inovação sem levar em conta a sustentabilidade. Por exemplo: de
que adianta as montadoras de carro buscarem a reinvenção do setor sem levar em
consideração o modelo de servitização aliado à tendência de eletrificação e do
próprio vehicle to grid
(V2G)?
Pegando o gancho justamente da
servitização, que é uma das maiores tendências da indústria do século XXI (alô
galera, transformação digital entra em melhoria de processos, beleza?), é aqui
que vejo a maior integração entre inovação e sustentabilidade. Citei acima o
caso das montadoras de veículos, mas tem vários outros. Energia, por exemplo.
Um nicho que algumas
distribuidoras estão entrando é o da gestão da minigeração de energia. Tipo: um
prédio, um condomínio ou uma instalação industrial quer gerar a sua própria
energia. A empresa é contratada para fazer o plano de geração e a gestão da
energia produzia buscando a maior eficiência possível no menor custo... tudo
isso tendo como pano de fundo a energia limpa e renovável.
Enfim, apesar de a maioria esmagadora
das empresas estar entrando agora no que eu chamo de sustentabilidade 3.0, que
é o da melhoria de processos, o futuro está na integração inovação e
sustentabilidade num nível infinitamente mais sofisticado que passa pelo modelo
de negócios. Não acredita? Espera e paga pra ver.
P.S. A imagem desde post remete à
sexta onda de inovação, que é considerada a onda da sustentabilidade. As ondas
de inovação foram uma teoria criada na primeira metade do século XX pelo
economista austríaco Joseph Schumpter, que identificou que os super ciclos de
inovação tiravam a economia do seu estado de equilíbrio. Escrevi sobre isso
três anos atrás: http://www.sustentabilidadecorporativa.com/2017/04/sustentabilidade-e-sexta-onda-de.html