quarta-feira, 11 de março de 2020

É possível uma microempresa ser sustentável?


Que a sustentabilidade é uma necessidade imperativa no mundo dos negócios, isso é inegável. Mas num país com mais de vinte milhões de empresas formalizadas, sendo em quase sua totalidade MEI, micro e pequenas empresas, a maioria dos empreendedores acha que isso é papo para grandes indústrias, grandes prestadores de serviço ou grandes redes de varejo.

É claro que no mundo ideal, pôr em prática a sustentabilidade implica em disponibilizar recursos financeiros e humanos para custear projetos maravilhosos. Como seria lindo se isso fosse o mundo real, não é mesmo? Só que não é. E ainda assim não custa chamar atenção: recursos dispostos para a sustentabilidade, quando utilizados de forma estratégica, são investimentos que vão gerar uma série de benefícios e ganhos operacionais. E como todo mundo sabe, investimento é bem diferente de custo. Ele gera retorno.

Acontece que no mundo real, quando a gente fala de microempreendedores, uma das principais dificuldades é justamente dispor de capital para investir. Normal, afinal, na maioria das vezes ele, sequer, tem grana pra fazer o fluxo de caixa do mês. E aí vem a pergunta do milhão: sem hipocrisia e sem cagação de regra, como falar de sustentabilidade para esse público e que ela possa ser colocada em prática de forma real e efetiva?

A primeira coisa que a gente precisa entender é que a sustentabilidade é, antes de tudo, um processo de transformação de valores e mudança de comportamento. É ter em mente que o planeta já não comporta mais os excessos cometidos no passado e que é preciso bom senso na hora de comprar, produzir, negociar e vender.

Partindo desta lógica, o que você, micro ou pequeno empreendedor, que não dispõe de recurso financeiro para investir em sustentabilidade, pode fazer? Que tal começar pelo básico, como evitar desperdício, diminuir a quantidade de resíduo gerado, fazer coleta seletiva, consumir água e energia de forma responsável? Pode parecer pouco e até simplório. Na verdade é bem simplório, mas qualquer boa atitude vale. Sem contar que além de ajudar a minimizar questões relacionadas ao meio ambiente, você ainda pode economizar uma graninha no final do mês.

Somada à mudança de comportamento, é fundamental que os micro e pequenos empreendedores olhem para os processos da empresa: onde é possível melhorar? Tomemos um restaurante como exemplo. Tem pesquisa que aponta que 80% do desperdício de alimentos se dá na etapa de produção. Que tal observar o processo de preparo da comida para identificar gaps? Se é um restaurante a quilo, que tal passar uma semana observando a preferência dos clientes e preparar menos aquilo que tem menos saída?

Se é uma indústria e se o resíduo é inevitável, que tal buscar parceria com universidades para identificar o que pode ser feito, dentro de um processo de economia circular, com ele? Ou então, que tal buscar parceiros para comercializar esses resíduos, transformando o que ia pro lixo ou era custo em mais um dinheirinho no final do mês? Sei de algumas federações de indústrias que possuem bolsa de resíduos. Ah, também já tem um monte de startups direcionadas para esse tipo de negócio.

Enfim, o texto já está ficando longo, mas o que eu quero dizer é que qualquer empresa, de qualquer porte, independente do fator grana, pode e deve ser sustentável. Se o tema ainda for um tanto quanto complexo para você, comece pelo óbvio, pelo basicão. Acredite em mim. ele, sozinho, já faz uma baita diferença. Afinal, repito, estamos falando de um universo de 20 milhões de empresas, a maioria esmagadora delas MEI, micro e pequenas empresas.



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