terça-feira, 31 de março de 2020

A importância da tecnologia para as cidades sustentáveis

Há alguns anos um conceito bem interessante vem ganhando destaque quando o assunto é planejamento urbano e construção de cidades: as smart cities. Mas o que são as chamadas cidades inteligentes? De acordo com a Comissão Euopeia, são lugares onde redes e serviços tradicionais se tornam mais eficientes a partir do uso de tecnologias digitais e de comunicação, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Resumindo, é a presença da tecnologia no funcionamento rotineiro de uma cidade.

Agora vamos dar dois passos atrás e contextualizar o que o mundo projeta como cidade daqui a alguns anos. De acordo com a ONU, o mundo caminhará para quase 10 bilhões de pessoas em 2050. Somado a isso, estima-se que cerca de 6 bilhões dessas pessoas estarão morando em áreas urbanizadas.

Além de um mundo lotado de gente, as projeções globais de urbanização para os próximos 30 anos* apontam para o aumento no número de megalópoles, que são as megas cidades. Hoje temos algumas gigantescas, como, por exemplo, Tóquio, Nova Déli, Shangai, Cidade do México e São Paulo, com mais de 20 milhões de pessoas vivendo no entorno da região. Além delas há outras, como Cairo, Mumbai e Pequim, se aproximando dessa marca.

Para daqui a 10 anos, as Nações Unidas apontam a existência de 43 mega cidades com mais de 10 milhões de pessoas, a maioria esmagadora em países em desenvolvimento. Isso sem contar as regiões que rapidamente passarão pelo processo de urbanização e terão, num piscar de olhos, mais de um milhão de habitantes.

Vocês conseguem imaginar não só a gestão, mas, principalmente, a operação dessas cidades sem o uso da tecnologia? Imagina a infraestrutura necessária para dar conta de tanta gente circulando em espaços cada vez mais escassos e demandando cada vez mais de subsistemas como água, energia, transporte, gestão de resíduos e afins?

Mas aí pergunto a vocês, o que a sustentabilidade tem a ver com as smart cities?

Peguemos novamente o conceito de cidades inteligentes lá da Comissão Europeia: “lugares onde redes e serviços tradicionais se tornam mais eficientes a partir do uso de tecnologias”.

A primeira questão que a gente tem de pensar quando fala do aumento de regiões urbanizadas e, principalmente, do aumento populacional nessas regiões, é que o espaço não vai aumentar. Ele é limitado e por isso terá de ser utilizado com a máxima verticalidade e eficiência. A segunda questão é que alguns recursos naturais também são limitados, como a água, por exemplo, e até mesmo a energia, que depende do smart grid (redes inteligentes) para tornar viável a micro e mini geração limpa e renovável.

Assim, é completamente impensável uma cidade dos próximos 30 anos sem a presença da tecnologia. E quando colocamos a tecnologia como ferramenta para redes e serviços mais eficientes, estamos naturalmente falando de sustentabilidade. Imagina o quanto de água não é desperdiçada diariamente com vazamentos pelas cidades, por exemplo? O quão mais rápida pode ser a resposta a esse desperdício se houver a instalação de sensores nos canos?

Será que poderemos abrir mão da energia vindo das termos a partir do momento em que a tecnologia resolver o problema da intermitência das renováveis? Ou então quantos prejuízos podem ser evitados com o uso da tecnologia para a prevenção de enchentes ou impedimento de alagamentos?

Somado a isso, tem ainda, para mim, o principal desafio do urbanismo nas próximas décadas e que é o coração das cidades sustentáveis: mobilidade. Como dar acesso e fazer circular de forma eficiente uma cidade com 20, 30 milhões de pessoas? Como reduzir as emissões de CO2 e a poluição gerada pelo transporte nas cidades? Como melhorar a qualidade de vida das pessoas que precisam se deslocar diariamente por muitos quilômetros por transporte público? Como reduzir o tempo das pessoas no trânsito?

Do ponto de vista de planejamento de transporte, a gente tem de pensar que hoje, em grandes cidades, transportes de média capacidade (ônibus, fundamentalmente) já não dá conta. Transporte de alta capacidade, como metrô e trem, são as principais alternativas, mas são obras caras e lentas. VLTs são mais rápidas e mais baratas, mas o processo de construção impacta absurdamente as regiões com obras. Transporte individual motorizado, ainda que por meio de carros elétricos, só são opção caso a proposta seja ecoengarrafamentos.

Nesse contexto, refaço a pergunta-chave: qual a melhor solução para a mobilidade sustentável em cidades cada vez mais populosas e com menos espaços disponíveis? Para mim, a nada expert em urbanismo, engenharia civil e smart grid, seria um pool de ações que envolveriam integração de transporte público com transporte não motorizado, redesenho de bairros, criação de novas centralidades, desenho de novos fluxos para picos de circulação e muito, muito planejamento urbano.

Em muitas ações de mobilidade urbana sustentável a tecnologia bit byte será fundamental. Em outras, basta o uso da tecnologia social e visão estratégica. E vocês, o que acham? Como as smart cities podem auxiliar a sustentabilidade nas cidades e vice-versa?

Para quem ainda não sabe, no último dia 19/03 lançamos o SustentaíCast, um podcast semanal sobre sustentabilidade nas empresas. Vai ao ar todas às quintas à noite e já tem dois episódios disponíveis: https://linktr.ee/sustentaicast

 * Dados de 2018.


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