Agora vamos dar dois passos atrás
e contextualizar o que o mundo projeta como cidade daqui a alguns anos. De
acordo com a ONU,
o mundo caminhará para quase 10 bilhões de pessoas em 2050. Somado a isso,
estima-se que cerca de 6 bilhões dessas pessoas estarão morando em áreas urbanizadas.
Além de um mundo lotado de gente,
as projeções globais de urbanização para os próximos 30 anos* apontam para o
aumento no número de megalópoles, que são as megas cidades. Hoje temos algumas
gigantescas, como, por exemplo, Tóquio, Nova Déli, Shangai, Cidade do México e
São Paulo, com mais de 20 milhões de pessoas vivendo no entorno da região. Além
delas há outras, como Cairo, Mumbai e Pequim, se aproximando dessa marca.
Para daqui a 10 anos, as Nações
Unidas apontam a existência de 43 mega cidades com mais de 10 milhões de
pessoas, a maioria esmagadora em países em desenvolvimento. Isso sem contar as
regiões que rapidamente passarão pelo processo de urbanização e terão, num
piscar de olhos, mais de um milhão de habitantes.
Vocês conseguem imaginar não só a
gestão, mas, principalmente, a operação dessas cidades sem o uso da tecnologia?
Imagina a infraestrutura necessária para dar conta de tanta gente circulando em
espaços cada vez mais escassos e demandando cada vez mais de subsistemas como
água, energia, transporte, gestão de resíduos e afins?
Mas aí pergunto a vocês, o que a
sustentabilidade tem a ver com as smart cities?
Peguemos novamente o conceito de
cidades inteligentes lá da Comissão Europeia: “lugares onde redes e serviços
tradicionais se tornam mais eficientes a partir do uso de tecnologias”.
A primeira questão que a gente
tem de pensar quando fala do aumento de regiões urbanizadas e, principalmente,
do aumento populacional nessas regiões, é que o espaço não vai aumentar. Ele é
limitado e por isso terá de ser utilizado com a máxima verticalidade e
eficiência. A segunda questão é que alguns recursos naturais também são
limitados, como a água, por exemplo, e até mesmo a energia, que depende do smart
grid (redes inteligentes) para tornar viável a micro e mini geração
limpa e renovável.
Assim, é completamente impensável
uma cidade dos próximos 30 anos sem a presença da tecnologia. E quando
colocamos a tecnologia como ferramenta para redes e serviços mais eficientes,
estamos naturalmente falando de sustentabilidade. Imagina o quanto de água não
é desperdiçada diariamente com vazamentos pelas cidades, por exemplo? O quão mais
rápida pode ser a resposta a esse desperdício se houver a instalação de
sensores nos canos?
Será que poderemos abrir mão da
energia vindo das termos a partir do momento em que a tecnologia resolver o
problema da intermitência das renováveis? Ou então quantos prejuízos podem ser
evitados com o uso da tecnologia para a prevenção de enchentes ou impedimento
de alagamentos?
Somado a isso, tem ainda, para
mim, o principal desafio do urbanismo nas próximas décadas e que é o coração
das cidades sustentáveis: mobilidade. Como dar acesso e fazer circular de forma
eficiente uma cidade com 20, 30 milhões de pessoas? Como reduzir as emissões de
CO2 e a poluição gerada pelo transporte nas cidades? Como melhorar a qualidade
de vida das pessoas que precisam se deslocar diariamente por muitos quilômetros
por transporte público? Como reduzir o tempo das pessoas no trânsito?
Do ponto de vista de planejamento
de transporte, a gente tem de pensar que hoje, em grandes cidades, transportes
de média capacidade (ônibus, fundamentalmente) já não dá conta. Transporte de
alta capacidade, como metrô e trem, são as principais alternativas, mas são
obras caras e lentas. VLTs são mais rápidas e mais baratas, mas o processo de
construção impacta absurdamente as regiões com obras. Transporte individual
motorizado, ainda que por meio de carros elétricos, só são opção caso a
proposta seja ecoengarrafamentos.
Nesse contexto, refaço a pergunta-chave:
qual a melhor solução para a mobilidade sustentável em cidades cada vez mais
populosas e com menos espaços disponíveis? Para mim, a nada expert em
urbanismo, engenharia civil e smart grid, seria um pool de ações
que envolveriam integração de transporte público com transporte não motorizado,
redesenho de bairros, criação de novas centralidades, desenho de novos fluxos
para picos de circulação e muito, muito planejamento urbano.
Em muitas ações de mobilidade
urbana sustentável a tecnologia bit byte será fundamental. Em outras, basta o
uso da tecnologia social e visão estratégica. E vocês, o que acham? Como as smart
cities podem auxiliar a sustentabilidade nas cidades e vice-versa?
Para quem ainda não sabe, no
último dia 19/03 lançamos o SustentaíCast, um podcast semanal sobre
sustentabilidade nas empresas. Vai ao ar todas às quintas à noite e já tem dois
episódios disponíveis: https://linktr.ee/sustentaicast