Se a gente olhar um gráfico de
distribuição das emissões de gases de efeito estufa, o setor energético, as
atividades industriais e o uso da terra (agricultura e pecuária), tecnicamente,
são os maiores emissores. Acontece que isso acaba gerando muita desinformação
no sentido de que, não raro, ativistas fazem campanha contra as empresas e os
setores, acusando-os de as grandes vilãs das mudanças climáticas.
O primeiro problema dessa
informação é que ela tira a responsabilidade individual que cada um tem com o
meio ambiente e com o aquecimento global. Se não me engano, no gráfico de
emissores de GEE, as atividades humanas não chegam a 5%. Não tenho certeza, mas
é um número realmente baixo. E a gritaria é gigante principalmente porque
grande parte da agricultura, sequer, é para alimentar gente.
Ué, Julianna, mas não foi você
mesmo quem disse que as emissões das atividades humanas não chegam nem a 5% do
total? Que responsabilidade é essa?
Alooooooou. Falei das emissões
diretas, né?
Mas vamos pensar nas emissões
indiretas, porque essas são o verdadeiro problema. A agricultura existe para
que? Parte dela vai para nossa alimentação, parte para alimentação animal. Ok,
passemos para a segunda fase: para que existe então a pecuária? Para sustentar
uma dieta HUMANA baseada em proteína (cuidado com a interpretação, pois não
prego o veganismo. Eu prego cada um fazer as suas escolhas baseadas em
equilíbrio).
Para que serve a indústria de
base e de bens de capital? Para alimentar e viabilizar indústrias de bens de
consumo que servem para nos entupirem de, não raro, produtos que não
precisamos. A mesma lógica vai para a energia. A maior demanda energética não é das pessoas, mas das indústrias. Sendo que neste caso ainda há um agravante,
já que 68% das emissões vem deste setor.
E o que eu quero dizer com isso?
Que na verdade, enquanto algumas mentes brilhantes estão buscando soluções
grandiosas para um problema gigantesco e enquanto algumas outras mentes não tão
brilhantes ficam apontando o dedo para os “culpados” errados, a verdade é que a
resposta está no micro, ou seja, no indivíduo. Mas vamos com calma porque ao
mesmo tempo em que a solução está com a gente, ela é dificílima de ser
alcançada. E é difícil pelo seguinte: o quanto estamos dispostos a abrir mão do
nosso conforto, das benesses que temos, da vida boa em prol da
sustentabilidade?
É fácil pagar de ativista e eu
mesma vejo muita gente (querida, até) com um discurso lindo, e completamente
desalinhado com o que pratica. Isso é o que eu chamo de hipocrisia do bem.
Discurso desalinhado com a prática, mas em prol de uma boa causa. Há também
aqueles que pregam soluções completamente inviáveis para um público médio. E
por público médio falo de quem não tem e não quer ter a sustentabilidade com
causa.
Há, ainda, os que acham que a
solução para a sustentabilidade está na simples substituição de produto
impactantes por produtos sustentáveis. Esses eu nem tenho uma palavra gentil
para classificar. Tipo são aqueles que não olham um palmo adiante e acham que a
solução é canudo de bambu, copo de silicone de 50 reais ou trocar um carro
movido à gasolina por um movido à energia elétrica.
Então a solução são os
ecoengarrafamentos, meus caros?
A questão é que, no final das
contas, direta ou indiretamente, nós, quase oito bilhões de pessoas, somos os
verdadeiros responsáveis tanto pelo problema, quanto pela solução da
sustentabilidade. E onde está a solução? Certamente não está em buscar produtos
menos impactantes para o meio ambiente e manter o estilo de vida de sempre. A
verdade é que a solução está no comportamento, na virada da chave do “eu quero”
para “eu preciso?”
Eu disse que não seria fácil.