quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A sustentabilidade e a importância do legado corporativo


Como 2020 é um ano olímpico, acho que falar de legado é bem pertinente e tem tudo a ver com sustentabilidade. Ainda mais porque o Rio de Janeiro foi a última cidade anfitriã dos Jogos em 2016. Para quem não sabe, sou apaixonada por esportes, em especial o basquete. Fui atleta competitiva por muitos anos, cisquei em outras modalidades, como salto em altura, corrida e, até xadrez, se é que isso é esporte! Mas, confesso, meu coração bate forte pela bola laranja.

Enfim, sempre gostei demais do ambiente esportivo e isso influenciou, até, a minha formação universitária, já que estudei jornalismo porque meu sonho era ver uma olimpíada. Em 2010, quando estava em Londres, tive a oportunidade de conhecer o projeto de legado dos Jogos 2012. Até escrevi sobre isso na época, quase uma década atrás. Como não voltei à cidade depois disso, não sei dizer como a questão foi conduzida. Mas li por alto que teve problemas.

Agora imagina: se Londres, que tinha um projeto incrível, super estruturado, feito num país desenvolvido, teve problemas, o que podemos falar do legado do Rio? Na verdade, a pergunta a ser feita é: que legado os Jogos do Rio trouxe para o país? Simplesmente nenhum. Um erro crasso de design e gestão de projeto. 

E digo mais, até porque estive lá dentro: foi erro não só pelo lado governamental não. Pelo contrário, falha de todos os agentes, públicos e privados. A interdição do Parque Olímpico recentemente é um exemplo da falha pública. O que foi feito com os 30 milhões de itens adquiridos para os Jogos e isentos de impostos é exemplo de falha privada. Aliás, pergunta séria: alguém sabe o que realmente foi feito com as compras realizadas pelo Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016? Ouvi falar que em algum momento eles iam lançar um portal de doação para as instituições se cadastrarem, mas não sei nada além desse ouvi falar.

O problema de legado no Brasil é que a gente só se preocupa com ele no fim do processo. É algo do tipo: primeiro a gente faz o que tem de fazer para a coisa acontecer, depois a gente pensa em como gerenciar ou dar utilidade para depois do nosso uso. Comparando com o ambiente de produção, é bem parecido com as falhas cometidas na economia circular. Ao invés de a destinação de resíduos ser contemplada no início do processo, a maioria das empresas pensam no que fazer  depois que o resíduo é gerado.

Adentrando melhor na questão corporativa, além dessa questão de “legado” pós-uso de materiais, outra questão que me vem à mente é o legado do conhecimento. Muitas empresas hoje lidam de forma mais estratégica com a gestão do conhecimento. Ainda está engatinhando, mas, não raro, já vejo em algumas empresas a área formalizada.

E por que a gestão do conhecimento é importante e o que ela tem a ver com legado e sustentabilidade? Porque este é o maior ativo de uma empresa. Não é máquina, não é prédio, não é matéria prima, não é investimento no mercado financeiro. É conhecimento. Imagina uma situação extrema onde um colaborador é o ultra maxi mega especialista em uma operação que foi desenhada por ele. Absolutamente imprescindível para a empresa. E ele morre. Se ninguém mais na empresa detém aquele conhecimento, o que  fazer?

Como disse, esse é um exemplo extremo. Mas tem formas muito mais sutis e que acabam resvalando na área de sustentabilidade. Deixa eu explicar. Uma das premissas da sustentabilidade dentro das operações é a melhoria de processos. Reduzir consumo de água, energia, reduzir desperdício, resíduos, consumo de materiais etc etc etc. Quem conhece melhor a operação se não quem está dentro dela, não é mesmo?

E aí que é da natureza humana procurar essa melhoria de processos. O que não necessariamente é da natureza humana é comunicar essa melhoria. Então quando ela (a melhoria) não advém de uma diretiva da própria empresa, mas sim das pessoas, há grandes chances de essa melhoria ficar restrita à própria pessoa ou a um grupo de pessoas. Se a pessoa/pessoas sai/saem sem formalizar esse conhecimento, ele simplesmente se perde. Sem contar a perda de oportunidade de ver a iniciativa replicada a outras áreas ou outras operações.

Agora o Brasil, ufa, está saindo da, provavelmente, pior crise econômica que já passamos. Milhões de desempregados, milhões de pessoas que de 2014 até 2017, principalmente, foram sendo demitidas aos montes. Imaginem a quantidade de conhecimento perdido nesse processo? E qual será custo de tê-lo de volta, se é que isso é possível, quando a economia voltar a bombar?



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