Hoje está super na moda as
empresas falarem de diversidade. Diversidade não só da porta para fora, com
produtos voltados para vários tipos de minorias e maior representatividade em
campanhas publicitárias, como também diversidade da porta para dentro. Está tão
na moda a da porta para dentro, que qualquer empresa grande criou uma área de
diversidade para chamar de sua. Oi?
É sério mesmo que precisa ter
um/a gerente, um/a analista e um/a estagiário/a de diversidade? Não seria papel
da área de recrutamento e seleção identificar as pessoas com perfil diverso sem
as barreiras que todo mundo está careca de saber? Não seria papel da área de
desenvolvimento organizacional criar uma cultura corporativa orientada para a
diversidade? E, mais ainda, trabalhar o engajamento e a gestão da mudança
necessária, principalmente a mente dos gestores para não colocar muros e
amarras na hora da contratação?
Além de modinha, essa diversidade
que todo o mundo corporativo abraçou agora é a diversidade visível e fácil de
ser identificada. Quantas mulheres tem na força de trabalho da minha empresa? Quantos
negros? Quantos deficientes? Pergunta lá no Posto Ipiranga, ué! Quer dizer, é
só puxar o relatório no software de gerenciamento de pessoas.
Mas mais do que puxar relatório,
você vê essas pessoas circulando nos corredores das empresas. E isso é
altamente estratégico para as empresas porque elas não somente se beneficiam da
cultura da diversidade, como elas fazem (E MUITO) marketing em cima disso. Quer
dizer, tem empresa que faz mais marketing do que diversidade, mas isso é papo
para outro post.
Apesar de eu não achar errado
querer capitalizar em cima de boas ações corporativos, sei lá, parece que ao
fazer isso a empresa está expondo carne seca no varal. Tipo, não está fazendo
mais do que a obrigação, sabe? E mais do que cor, aquelas pessoas estão ali
(acredito eu) por mérito. A única diferença é que os filtros utilizados foram
outros.
Mesmo achando a diversidade que
só agora as empresas parecem ter descoberto algo deveras importante, diria que
ela já está mais do que ultrapassada. Sim, atirem pedras, mas diversidade de
cor, gênero, orientação sexual, deficiência e afins é algo que a gente já
deveria ter trabalhado (e superado) há muito tempo. Tipo, pelo menos uma década
atrás. E digo isso porque o mundo muda tão freneticamente, que hoje a gente tem
uma nova demanda por diversidade e essa é muito mais complexa de lidar.
Tenho uma visão bem curiosa e,
digamos, engraçada sobre a diversidade do futuro. Para mim, a diversidade do
século XXI vão ser as grandes empresas do século XX contratando gente maluca.
Digo empresas do século passado porque as de agora foram fundadas por malucos e
eles são a maioria nos demais cargos.
E o que eu quero dizer com gente
maluca?
Gente que tem uma lógica
diferente de pensar; que não está nem aí para paradigmas, para regras
cristalizadas, para burocracias corporativas, para o top-down. Gente que,
realmente, pensa fora da caixa. Mas mais do que isso: é gente que enxerga um
palmo à frente, que vai além do óbvio e questiona o status-quo do business as usual. É gente que vê o
futuro e sabe que ele é completamente diferente do que vem sendo feito hoje. E sabe
também que tem de colocar a mão na massa urgente para que as empresas de ontem
não sejam engolidas pelas empresas de amanhã, nativamente malucas.
Se a gente parar para pesar, as
empresas deveriam disputar a tapa os malucos, não é mesmo? Na verdade, elas
precisam miseravelmente de gente com esse perfil, justamente para se manter
perene nas próximas décadas.
Peraí, Julianna, se tem maluco
dando sopa por aí e as empresas precisam deles, o mundo é perfeito, não? Qual a
pegadinha que eu ainda não entendi?
Pois bem, precisar não significa
querer. Quer dizer, o problema não é nem querer. As empresas querem. O problema
é o que as empresas fazem com essas pessoas quando elas são contratadas.
Imagina o desconforto de funcionários padrão (não encarem isso como algo ruim)
vendo o modelo de gestão que eles conhecem e dá muito lucro sendo desconstruído
por quem mesmo? Pelos malucos.
O que você, que sempre ganhou
prêmios e promoções por sua eficiência, sua eficácia, seus resultados, faria ao
ter o seu trabalho questionado por um grupinho que chegou para fazer tudo
diferente? Por gente que viaja na maionese e transforma informações abstratas
em ações concretas, gente que não tem medo do novo e que adora tentar novas
ferramentas, novas abordagens, novas formas de fazer aquilo que ninguém faz?
Não precisa responder não, eu respondo:
ao mesmo tempo em que as companhias precisam miseravelmente dos malucos, elas
os odeiam. Quer dizer, as pessoas que lá trabalham. O ambiente corporativo para
esse tipo de gente é bastante hostil. Não raro, as empresas trazem essas
pessoas para dentro e, das duas uma: ou as colocam dentro da caixa ou as
relegam a uma garagem de whatever. E
tá na moda, viu? Agora toda empresa quer ter uma garagem para chamar de sua.
A verdade é que a diversidade do
século XXI é muito mais do que ampliar o espectro de contratação de forma a
valorizar cores, gêneros e pesos diversos. A diversidade do futuro está no
pensamento. Em se cercar de pessoas que pensam diferente, que fazem as coisas
de forma diferente, que questionam e põem em xeque o que vem sendo feito até então.
E sabendo lidar com isso, as outras diversidades, as visíveis, as óbvias, as
expressas por estatísticas são consequência.
Aí pergunto: como é a sua empresa
ao lidar com o pensamento diferente? Ela realmente encara a diferença como
valor e estratégia, ou o ambiente para o diverso, para o pensar fora da caixa é
hostil? Porque se for, a sua empresa até pode se achar o suprassumo por
contratar um "profissional de diversidade" para facilitar a entrada
de gente com cabelo black power no ambiente corporativo, mas a verdade é que
ela corre o risco de pagar um preço alto lá na frente.