Falar de empreendedorismo ou
negócio social já não é algo estranho para o público médio. O tema é recorrente
em publicações, na TV, nas universidades, nas redes sociais... já tem até curso
sobre isso e até mesmo hackathons.
Apesar de ser tema recorrente, não raro, as pessoas confundem empreendedorismo
social e empreendedorismo sustentável. Acontece que, mesmo sendo temas bem
interligados, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Há alguns anos, quando o chamado empreendedorismo
social começava a despontar, ele, sequer, tinha esse nome. Era chamado de setor
dois e meio ou quatro setor. Inclusive, a quem interessar possa, tem um texto
que escrevi sobre isso há quase sete anos. Segue o link: http://www.sustentabilidadecorporativa.com/2011/05/sustentabilidade-e-o-quarto-setor-ou-o.html.
Apesar de extrema importância,
confesso que vejo muito nos dias de hoje uma glamourização, uma goumertização e
uma modinha por negócios sociais. Afinal, é bonito, a gente ganha um quinhão no
céu e ninguém tem coragem de chamar empreendedor social de opressor da massa
trabalhadora. Enfim, não entrarei muito na questão filosófica que cerca os
negócios sociais, mas o fato é que tem muita gente acha que isso é
sustentabilidade. Não, não é. Ou melhor, não necessariamente.
Grosso modo, os negócios sociais
são um setor onde as organizações possuem fins lucrativos, mas atuam voltadas
para uma causa específica. É atuando nessa causa que entra o conceito de
geração de valor, que o povo adora, mas frisando que gerar valor não é
exclusivo de negócios sociais (mas isso é papo para outro post).
Por exemplo: uma organização
voltada para alimentação saudável que trabalha no desenvolvimento de
cooperativas de agricultura orgânica. Uma empresa que trabalha com produtos ou
soluções voltadas para o empoderamento feminino. Uma empresa que ajuda a
melhorar as habitações em regiões da periferia das cidades.
Para quem tem interesse em
negócios sociais, um bom lugar para começar a se inteirar sobre o assunto é o Social Good Brasil, uma organização
cujo propósito é disseminar e incentivar o uso das novas tecnologias e mídias
sociais para enfrentar os grandes problemas mundiais.
Outro lugar bem bacana é o Yunus Negócios Sociais, que é
a unidade brasileira da Yunus Social Business
Global Initiative. A YNS tem como objetivo desenvolver negócios sociais
pelo país através de seu fundo de investimentos e aceleradora para negócios
sociais.
Mas Julianna, se isso não é empreendedorismo
sustentável, é o que então? É negócio social, ué. Volte ao quinto parágrafo e
leia novamente a definição.
Vamos lá, meu jovem, uma coisa
que é legal saber: todo empreendimento social é, potencialmente, um
empreendimento sustentável. Nem todo empreendimento sustentável é um empreendimento
social.
Quando falamos de
empreendedorismo sustentável, não estamos falando das causas que motivam as
empresas a surgirem, nem dos problemas socioambientais que elas querem
resolver, mas de como a sustentabilidade atua no modelo de gestão de uma
empresa, nos processos operacionais, nos processos de negócio, no planejamento
estratégico, no produto.
Por exemplo: uma pessoa que
resolve abrir uma empresa de entregas que só funciona com bicicletas, é um
empreendimento sustentável sem ser um negócio social. Ou um restaurante que só
utiliza legumes, verduras e frutas de agricultura familiar. Ou uma empresa que
utiliza a economia circular para gerar menos resíduo em sua produção.
Lembrando que não basta uma ação
ou um processo específico para o empreendimento ser sustentável. É preciso que
a sustentabilidade esteja inserida dentro de uma visão sistêmica e integrada à
gestão.
E lembrando, também, que atuando
ou não em uma causa, seja um negócio que vai transformar o mundo ou apenas mais
um negócio no bairro, o empreendedorismo social e o empreendedorismo
sustentável são fundamentais para o bom funcionamento de qualquer sociedade.