Nos últimos anos tenho lido muito
sobre sustentabilidade. Sustentabilidade do ponto de vista da administração,
sustentabilidade do ponto de vista da economia, sustentabilidade do ponto de
vista da comunicação, da engenharia e mais um monte de ponto de vista. Dependendo
da fase gosto mais de uma coisa, gosto mais de outra.
Confesso a vocês que agora estou na
transição da sustentabilidade do ponto de vista da economia para a
sustentabilidade do ponto de vista da inovação. No entanto, percebo que há uma
grande escassez de títulos com esse assunto. Caso vocês conheçam algum sobre
inovação e sustentabilidade que acham que vale a pena indicar, ficarei super
feliz.
O meu top 10 de livros de
sustentabilidade é um apanhado das várias fases que eu tive dentro da área e
não apenas um reflexo do que mais tenho lido ultimamente. Por isso essa lista é
atualizada de tempos em tempos. Então se você já me ouviu falando de algum
livro que não esteja aqui, o mais provável é que ele tenha saído dos meus
favoritos. O que não significa que não continue sendo bom. Apenas surgiu um
melhor.
Enfim, a lista mais atual:
1) Capitalismo natural (Natural
capitalism)
Digo sem a menor dúvida que esse
livro não é só o melhor de sustentabilidade corporativa, mas o melhor que já li
na vida (ok, confesso que gosto de uma leitura pouco digerível no café da
manhã). É uma visão muito pragmática sobre como a sustentabilidade pode (e vai)
impactar o modelo de negócios das empresas. Tão pragmática que chega a
incomodar. Mas sabe o que é mais chocante? Esse livro foi escrito no final da
década de 90. Se é desconcertante hoje, imagina na época! A notícia boa é que ele
foi reimpresso e está disponível para quem quiser comprar. O meu, que foi um
presente, teve de ser comprado em um sebo.
Da mesma autora de Capitalismo
natural, o livro não chega a incomodar se você já leu o primeiro, mas é
igualmente sensacional e mostra em uma linguagem muito conhecida de CEOs,
diretores e empresários, a do retorno financeiro, o porquê de acreditando ou
não nas mudanças climáticas, é bom investir em uma economia de baixo carbono.
3) Reinventando o fogo (Reinventing
fire)
Fechando a trinca de ouro, mais
um livrão da porra do outro autor de Capitalismo Natural. Aqui o tema
fundamental é energia e as soluções alternativas ao petróleo, carvão, gás
natural e ao shale. O livro
mostra como é possível, até 2050, os EUA se livrarem da energia de alto
carbono. Passando longe da utopia, Amory Lovins fundamenta a economia de baixo
carbono, a criação de um mercado energético estável (lê-se, sem guerras e
ditaduras) e com muito mais empregos que o modelo atual. Em tempos de Estados
Unidos fora do Acordo do Clima, em tempos de Alemanha, China e afins impondo
uma data para o fim da circulação de veículos movidos à combustão, o livro,
lançado em 2013, continua atual e necessário, citando muitos dados técnicos,
muitos dados econômicos e instigando o público a sair da zona de
conforto.
4) Canibais com garfo e faca (Cannibals
with forks)
Clássico da sustentabilidade,
para quem não sabe, foi nesse livro que John Elkington cunhou a expressão triple
bottom line (tripé da sustentabilidade). É um baita livro. Não tão
desconcertante quanto minha trinca de ouro, mas dada a época em que foi
escrito, bastante inovador. Aliás, ainda hoje ele é bem vanguardista, a ponto
de Elkington, há alguns anos, ter feito mea culpa e dito que o livro era muito
avançado para a época. Se alguém é louco de seguir minhas dicas, aconselho a
ler esse livro antes de qualquer outro da lista.
5) Corporação 2020 (Corporation 2020)
Já escrevi uma resenha
específica sobre esse livro e
não tem uma palestra que eu dê que não o recomende. Inclusive, é bibliografia
obrigatória de meus artigos acadêmicos sobre inovação em modelos de negócios
sustentáveis. É simplesmente sensacional a história contada sobre as crises
econômicas, sobre o papel do lobby e da publicidade na (in)sustentabilidade das
nações e principalmente porque falar das empresas do século XX é falar de um
negócio que deu errado. Não, não estamos falando de faturamento e de lucro, mas
de geração de valor. E aí vem os apontamentos para a empresa do novo século,
deixando para trás consumismo irresponsável, energia artificialmente barata e
falta de transparência.
6) A economia do hidrogênio (The
hydrogen economy)
Do ponto de vista da energia, o
hidrogênio é um dos elementos mais subvalorizados que se tem notícia. Super
sustentável e super abundante, a verdade é que o lobby dos combustíveis fósseis
nunca o deixou decolar. E quando ele passou a ter alguma voz no mercado, veio a
energia renovável para começar a ocupar o espaço de protagonista que é seu de
fato. De qualquer forma, esse livro é muito importante, sem contar que é uma
leitura deliciosa. Mais do que falar das possibilidades econômicas do
hidrogênio, é um livro que conta a história da energia, desde muito, muito
tempo atrás, até a atualidade. A forma como o livro é escrito é tão gostosa, mas
tão gostosa, que a gente aprende física e história sem nem perceber. Muitas
vezes num mesmo parágrafo. A explicação da queda do império romano pela
perspectiva da termodinâmica é poesia pura. Ah, e se vocês realmente forem
seguir o meu conselho, leiam tudo que puderem do Jeremy Rifkin, o autor. O cara
é o maluco mais sensacional que terão notícia depois do Elon Musk.
The Natural Step é o primeiro
livro sobre inovação e sustentabilidade de que se tem historia. E essa história
começou há muito tempo, na década de 80. O livro é a narrativa de como um
médico oncologista desenvolveu uma metodologia de sustentabilidade para ser
aplicada nas empresas e os desafios que ele enfrentou para que as empresas e
mesmo governos a adotassem. Médico. Oncologista. Sustentabilidade. Década de
80. Ah, o mais interessante é que, não raro, esse livro está em vários TOP 10
de livros de inovação até hoje. A quem interessar possa, também é bibliografia
obrigatória em meus artigos acadêmicos sobre inovação em modelos de negócios sustentáveis.
Muita gente vai me perguntar o
porquê de colocar esse e não o clássico do Capra, A teia da vida na lista.
Simples: porque eu não gosto dele. Acho um livro chato, pesado, apesar de ter
muitas informações importantes. A visão sistêmica da vida é o contrário do que
acho sobre A teia da vida. Um livro leve, delicioso e viciante. Entender o que
é visão sistêmica e como ela se aplica no nosso dia a dia é fundamental para
entender a sustentabilidade e entender todas as causas e efeitos dela. Simplesmente
M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O.
Lançado em 2012 e escrito pelo
querido economista Ricardo Abramovay, Muito além da economia verde, é um livro
sem cerimônias e toca o dedo na ferida. Melhoria de processos não é o
suficiente enquanto mantivermos nossa cabeça voltada para um modelo de consumo
do século passado. E nessa lógica, o livro fala que o tripé da sustentabilidade
não é suficiente, por isso é fundamental aliá-lo à tecnologia, sociedade em rede
e às novas economias. Palavra-chave do futuro: compartilhamento. Inclusive, foi
um argumento tirado desse livro que me fez escrever o texto anterior, sobre o
mito da economia circular.
10) Saí da Microsoft para mudar o mundo (Leaving
Microsoft to change the world)
Numa análise fria, o livro não
tem muito a ver com sustentabilidade corporativa. Mas faz todo o sentido em
tempos em que muita gente fala de trabalho com propósito e geração de valor. O
livro mostra claramente o perfil que quem trabalha na área deve ter, que vai
além do perfil técnico e conhecimento do assunto. É um livro altamente
apaixonante e inspirador. Uma baita aula de empreendedorismo social quando o
tema ainda não estava na moda e uma baita aula de gestão sustentável do
terceiro setor.
Faixa bônus:
Lições de um empresário radical (Confessions
of a radical industrialist)
Confesso que o título é mais
apropriado para um livro de vendas, mas ele é simplesmente
S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L. Quando digo sensacional, é sensacional mesmo. O livro é
a história de Ray Anderson, já falecido, um dos grandes expoentes da liderança
empresarial para a sustentabilidade. Em 1994, questionado a respeito das
políticas ambientais de sua empresa, a Interflor, Ray teve uma epifania e
começou a sua peregrinação sustentável. Muito antes de se falar em PSS (Product
Service System), sigla que está na moda hoje e é o futuro da indústria no
século XXI, Ray procurou inovar dentro de um setor que é praticamente uma commodity e oferecer serviço, ao invés
de placas de carpete para seus clientes.