Nós, seres
humanos, temos o hábito de dar valor para tudo. É mais fácil comparar, é mais
fácil mensurar, é mais fácil ver o que é mais ou menos importante. O valor pode
ser em números brutos, em indicadores de qualidade, em dinheiro, em custo...
Pode ser
mesmo?
Estamos
entrando na era do conhecimento. Um bem que você não vê, não toca, não compra.
Qual o valor financeiro de uma experiência de vida? Qual o valor de um
conhecimento tácito que, mesmo sendo externalizado, só você tem o borogodó para
fazer daquele jeito? Não tem como. Se seguir receita de livro fosse suficiente,
eu seria a melhor cozinheira do universo.
Mesmo que a
gente utilize como parâmetro a quantidade de projetos que foram para frente, a
redução de custos, os produtos gerados, ou lucro obtido a partir do trabalho
vindo de uma equipe sensacional, a verdade é que números por si só não refletem
o real valor de algo intangível.
Muitos
bancos, muitas empresas, muitas consultorias, tentam criar meios para se medir
o intangível. Os bancos, principalmente, precisam transformar valor em dinheiro
para, então, calcular o seu risco. Mas como uma empresa vai mostrar capacidade
de pagamento de empréstimo se ela não tem prédios, fábricas ou máquinas? Se seu
único ativo é, por exemplo, a criação de uma tecnologia inovadora?
Acontece
que o valor de algo não deve ser medido pelo seu atributo físico, mas o
contexto em que está inserido. Não tem como avaliar financeiramente uma rede de
relacionamento poderosa. Mais do que meros ativos que podem ser negociados,
processos redondinhos e capital humano fazem toda a diferença na rotina de uma empresa.
Mas quanto custa isso?
Capital
humano, capital social, capital estrutural, capital de relacionamento, capital
estratégico, capital criativo... tudo isso é o que, no final das contas faz a
grande diferença para uma empresa, para uma sociedade, para um país mas que,
literalmente, não tem preço. Basta ver os “valores” de mercado de empresas como
Google, Facebook, Amazon. Veja o que ali é ativo tangível e o que é intangível.
Do ponto de
vista da sustentabilidade, temos o capital natural. Já vi alguns livros e
alguns artigos escritos por economistas que criaram fórmulas matemáticas para
se “calcular” o valor desse capital natural. Cálculos que direcionam as ações
de uma empresa para algo do tipo: o que é mais barato, evitar a poluição um rio
próximo de uma fábrica ou pagar pela compensação?
Vejamos.
Ainda que
esses economistas estejam considerando as externalidades, coisa que o modelo
econômico do século XX costuma não fazer, como podemos medir o impacto de um
rio poluído (ainda que compensado de alguma forma), a perda de biodiversidade,
a qualidade do ar, a preservação de uma cultura local? Simplesmente não
podemos.
A extinção
de uma espécie não significa apenas que ela nunca mais vai existir. Ela está na
natureza por algum motivo. Ela faz parte de uma cadeia e tem o seu papel a
cumprir. Se ela sai, a cadeia se desestabiliza. Não tem valor financeiro que
compense isso. Um rio poluído abala um ecossistema. Que gera uma série de
impactos para o meio ambiente. Que gera uma série de impactos para nós,
humanos.
Ultimamente
tem-se falado do risco de extinção das abelhas. O que vamos fazer? Cuidar para
que isso não aconteça? Deixa para lá, afinal são apenas abelhas? Inventar o mel
de laboratório? Criar robozinhos que polinizam as flores? Não seria o caso,
então, de criarmos árvores biônicas, animais mecânicos e oxigênio artificial? É
para esse tipo de coisa que estamos levando o planeta?
A questão é
que o fato de não poder calcular um valor intangível de algo não significa que
ele não exista.