terça-feira, 14 de março de 2017

O sharewashing e a insustentabilidade das novas economias

Há um tempo ouvi uma palavra bem interessante: sharewashing. Maquiagem/lavagem compartilhada, pensei. Mas que raios seria isso? Como entusiasta da economia compartilhada, como entusiasta de novas economias, como entusiasta de modelos inovadores, como entusiasta da integração da sustentabilidade com tudo isso, fui pesquisar.

Pois bem, segundo minha busca pelo conhecimento, achei bons argumentos para se usar o tal do sharewashing. De cara, entendidos do assunto começam dizendo que empresas como AirBnB e Uber, ao contrário do que pensamos, não fazem parte da economia compartilhada. Um artigo de 2015 do HBR, inclusive, deu uma excelente explicação para isso: quando o compartilhamento é mediado pelo mercado e quando os envolvidos não se conhecem, isso deixa de ser compartilhamento para ser um simples serviço.

Para especialistas, há uma grande diferença entre comercializar e compartilhar. Por exemplo: um grupo de amigos que vai viajar e aluga um carro, um casa e divide as despesas. Isso é compartilhamento. Se você usa um serviço tecnológico de caronas e os usuários rateiam a despesa daquele deslocamento, isso é compartilhamento. Se você chama um motorista para te levar a um local e o objetivo dele com a prestação de serviço é o lucro, isso não é compartilhamento, mas uma mera atividade comercial. Ainda que esteja usando o seu carro particular para a atividade.

Ao contrário do real sentido da economia compartilhada, as empresas por trás de sharewashing atuam em um modelo baseado na economia do século passado. No entanto, elas utilizam ferramentas tecnológicas para ampliar o seu alcance. A diferença está aí, no uso da tecnologia para ampliar o seu alcance, não no modelo de negócios.

Somado a isso, há um monte de empresas querendo abocanhar uma fatia desse bolo que, segundo a McKinsey, vai chegar a 335 bilhões de dólares em 2025. O que está acontecendo é que empresas e marcas até então tradicionais estão se travestindo de descoladas, cool e mudando para a, então, economia compartilhada. Acontece que além dessa imagem bacana de inovação e modernidade, a verdade é que o que está por trás de tudo isso é a precarização do trabalho. Sem contar o desrespeito às leis e regulamentações governamentais.

No caso específico do AirBnB, li um artigo um dia desses, sobre a pressão de gentrificação que ele está fazendo nas áreas turísticas das principais cidades do mundo. Explico: se você tem uma quitinete em Copacabana e pode, sem o menor esforço, coloca-la para alugar no AirBnB e conseguir diárias de 150 reais (que está barato), para que você vai alugar para um mensalista e conseguir, no máximo, 1500 reais por mês? Do outro lado, se você é um morador da região mas não tem um imóvel próprio, ou você vai pagar uma fortuna de aluguel, ou vai ser relegado às zonas cada vez mais periféricas da cidade.

Isso é sustentabilidade? É esse o modelo de empresas do século XXI que queremos? Aproveito e também faço a mesma pergunta que a primeira pessoa a cunhar a expressão sharewashing fez: o sharewashing é o novo greenwashing?


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