Quando pensamos em inovação, quando
pensamos no futuro, o que vem à mente da maioria das pessoas é realidade
virtual, inteligência artificial, deep learning, big data, impressão 3D, carros
autônomos, smart grid, viagens interplanetárias e afins. Mas inovação é muito
além disso. Ninguém vai deixar de comer, ninguém vai deixar de morar, ninguém
vai deixar de se vestir. O que eu quero dizer é que, apesar de toda a
sofisticação da inovação, de toda a sua quebra de paradigmas e de toda a sua
disrupção, ainda vamos continuar precisando do básico.
Como será o futuro das empresas "basiconas"? Não falo de
inovação de produtos e nem de modelo de negócios, falo de estratégia. Na década de 90 explodiu a globalização e com isso o
movimento dessas empresas significou, grosso modo, tirar suas fábricas da
Europa e dos Estados Unidos e levarem-nas para lugares mais baratos,
preferencialmente aqueles cuja mão de obra custava 1 dólar por dia.
Esse movimento de deixar a parte
inteligente nas sedes das empresas e a parte operacional onde o custo-benefício
for o melhor é o que ainda prevalece nos dias de hoje. Mas ele já não é
unanimidade. A verdade é que o que encaramos hoje como globalização já nasceu
falho. Além de todo o ranço social/trabalhista que ela gera, só por agora é que
as pessoas vêm questionando o fator ambiental, tanto pela legislação mais
frouxa dos países que recebem essas indústrias, quanto pelo logística complexa, que deixa um rastro de sujeira por onde passa.
Qual o sentido de uma reles blusa
fabricada na China cruzar os oceanos para ser vendida no Brasil por 15 reais? Ao
contrário do que muitos CEOs imaginaram nos últimos 25 anos, custo financeiro
não é a única variável dessa equação, que, não raro, gera um resultado negativo. Mas qual seria a solução então? Voltar ao que era antes, levando as
fábricas para os seus países de origem? Donald Trump agradece, mas não, definitivamente
esta não é a solução.
A questão é que agora estamos
entendendo o verdadeiro sentido da palavra globalização. Conhecimento sem
fronteiras. O medo que as pessoas tinham de que a ela tirasse a
identidade cultural de um país, de uma sociedade, não se concretizou. Ao
contrário, o meu conhecimento se diversificou e meu acesso à informação aumentou exponencialmente. O que antes era sim ou não, agora eu sei que pode
ser talvez. A comunicação que antes era relegada a alguns poucos grandes grupos
empresariais, agora está na mão de todos, de quem quiser.
Mas e do ponto de vista de
mercado, de economia? Se criar cadeias de suprimentos globais não é
sustentável, o que seria então? Economia local. Escrevi aqui há três semanas
sobre o dilema
da agricultura orgânica e que o ideal seria uma agricultura local. Quando falo
de economia local, não falo de isolar um país do resto do mundo e fazê-lo viver
apenas daquilo que produz. Economia local aqui é no sentido de comércio
local, produtor local.
Não, as empresas globais não
devem sumir. Pelo contrário. O que vai acontecer é que elas vão passar por um
processo de reconfiguração, da mesma forma que passaram ao se adequarem ao que
chamamos hoje de globalização. Essa reconfiguração passa por mais instalações espalhadas
pelo mundo, de tamanho menores, consumindo matéria prima local e atendendo demandas
locais. A marca vai ser global. O produto, local.
Aquele bla bla bla corporativo
que ouço há mais de 10 anos de pensar global e agir local vai, finalmente, sair
do papel. Isso significa menos transporte sujo, menos impactos ambientais, mais
empregos distribuídos por todas as regiões do planeta. Significa que as grandes
redes de varejo não vão deixar de ser grandes, mas terão instalações menores e
ficarão mais locais. Quase a mercearia de antigamente.
Do outro lado, nós, os consumidores,
também passaremos a ser mais locais. E isto nos dará a oportunidade de fazermos
mais coisas sem precisar sairmos de nossos bairros, gerando um sentimento maior
de comunidade e um grande impacto no redesenho das cidades, que serão menos dos
motores e passarão a ser mais dos pedestres.
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