segunda-feira, 20 de março de 2017

Economia local, sustentabilidade e o futuro da globalização

Quando pensamos em inovação, quando pensamos no futuro, o que vem à mente da maioria das pessoas é realidade virtual, inteligência artificial, deep learning, big data, impressão 3D, carros autônomos, smart grid, viagens interplanetárias e afins. Mas inovação é muito além disso. Ninguém vai deixar de comer, ninguém vai deixar de morar, ninguém vai deixar de se vestir. O que eu quero dizer é que, apesar de toda a sofisticação da inovação, de toda a sua quebra de paradigmas e de toda a sua disrupção, ainda vamos continuar precisando do básico.

Como será o futuro das empresas "basiconas"? Não falo de inovação de produtos e nem de modelo de negócios, falo de estratégia. Na década de 90 explodiu a globalização e com isso o movimento dessas empresas significou, grosso modo, tirar suas fábricas da Europa e dos Estados Unidos e levarem-nas para lugares mais baratos, preferencialmente aqueles cuja mão de obra custava 1 dólar por dia.

Esse movimento de deixar a parte inteligente nas sedes das empresas e a parte operacional onde o custo-benefício for o melhor é o que ainda prevalece nos dias de hoje. Mas ele já não é unanimidade. A verdade é que o que encaramos hoje como globalização já nasceu falho. Além de todo o ranço social/trabalhista que ela gera, só por agora é que as pessoas vêm questionando o fator ambiental, tanto pela legislação mais frouxa dos países que recebem essas indústrias, quanto pelo logística complexa, que deixa um rastro de sujeira por onde passa.

Qual o sentido de uma reles blusa fabricada na China cruzar os oceanos para ser vendida no Brasil por 15 reais? Ao contrário do que muitos CEOs imaginaram nos últimos 25 anos, custo financeiro não é a única variável dessa equação, que, não raro, gera um resultado negativo. Mas qual seria a solução então? Voltar ao que era antes, levando as fábricas para os seus países de origem? Donald Trump agradece, mas não, definitivamente esta não é a solução.

A questão é que agora estamos entendendo o verdadeiro sentido da palavra globalização. Conhecimento sem fronteiras. O medo que as pessoas tinham de que a ela tirasse a identidade cultural de um país, de uma sociedade, não se concretizou. Ao contrário, o meu conhecimento se diversificou e meu acesso à informação aumentou exponencialmente. O que antes era sim ou não, agora eu sei que pode ser talvez. A comunicação que antes era relegada a alguns poucos grandes grupos empresariais, agora está na mão de todos, de quem quiser.

Mas e do ponto de vista de mercado, de economia? Se criar cadeias de suprimentos globais não é sustentável, o que seria então? Economia local. Escrevi aqui há três semanas sobre o dilema da agricultura orgânica e que o ideal seria uma agricultura local. Quando falo de economia local, não falo de isolar um país do resto do mundo e fazê-lo viver apenas daquilo que produz. Economia local aqui é no sentido de comércio local, produtor local.

Não, as empresas globais não devem sumir. Pelo contrário. O que vai acontecer é que elas vão passar por um processo de reconfiguração, da mesma forma que passaram ao se adequarem ao que chamamos hoje de globalização. Essa reconfiguração passa por mais instalações espalhadas pelo mundo, de tamanho menores, consumindo matéria prima local e atendendo demandas locais. A marca vai ser global. O produto, local.

Aquele bla bla bla corporativo que ouço há mais de 10 anos de pensar global e agir local vai, finalmente, sair do papel. Isso significa menos transporte sujo, menos impactos ambientais, mais empregos distribuídos por todas as regiões do planeta. Significa que as grandes redes de varejo não vão deixar de ser grandes, mas terão instalações menores e ficarão mais locais. Quase a mercearia de antigamente.

Do outro lado, nós, os consumidores, também passaremos a ser mais locais. E isto nos dará a oportunidade de fazermos mais coisas sem precisar sairmos de nossos bairros, gerando um sentimento maior de comunidade e um grande impacto no redesenho das cidades, que serão menos dos motores e passarão a ser mais dos pedestres.


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