terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Engenharia econômica e sustentabilidade

Um dos conhecimentos mais importantes e, incrivelmente, mais renegados da engenharia, principalmente a civil, diz respeito à engenharia econômica. O engraçado é que apesar de ser um patinho feio, a primeira publicação sobre o tema que se tem conhecimento data de 1877 (The economic theory of railway location). Ou seja, não é nenhuma novidade.

Mas afinal, o que vem a ser engenharia econômica? A grossíssimo modo, seria algo como a aplicação de conceitos econômicos, principalmente finanças, na tomada de decisão de projetos de engenharia. Por isso destaquei a engenharia civil como a que mais deveria olhar para esse tipo de conhecimento.

Eu, particularmente, nem acho necessário que um engenheiro que planeja uma construção tenha necessidade de saber finanças de forma ampla, pois para questões como investimento, VPL, TIR e bla bla bla há uma pessoa especialista para cuidar do dinheiro. Mas dentre os tantos conceitos de finanças, há, pelo menos, um que deveria ser fundamental que todo engenheiro soubesse: custo-benefício.

Parece básico, na verdade é, mas é o que menos vemos nas escolas de engenharia e na engenharia aplicada. E o fato de pouco utilizarem a engenharia econômica em obras impacta, profundamente, a sustentabilidade. O que dói mais é que, muitas vezes essa falta de aplicação não se dá por falta de conhecimento, mas por pura decisão “estratégica”.

Vamos pensar numa construção tipo Minha Casa, Minha Vida. O foco do programa é o público de baixa renda. Ok, bacana. Não vou nem entrar no mérito da qualidade e dos problemas da maioria das obras entregues até agora. Vou fingir que vivemos num mundo de fantasia e todo o processo de construção do prédios tenha sido feito a contento.

Pergunto: há preocupação com preceitos de bioarquitetura durante a fase de desenho do projeto? As unidades entregues contam com telhado verde ou sistema de captação de água da chuva, por exemplo? Os materiais utilizados são os mais eficientes do ponto de vista de consumo energético e consumo de água?

A resposta é não para tudo. E isso acontece por um princípio bem básico. Não raro, a construção de um prédio sustentável, tecnicamente, é mais cara que a de um prédio comum. Os materiais utilizados são específicos, como descarga dual flux, o design do prédio tem de ter certas características que não o de um design comum, telhas mais baratas que aumentam a retenção de calor devem ser abolidas e por aí vai.

Acontece que para falar de sustentabilidade é preciso ir além do basicão. No caso, o custo direto. E por isso é fundamental ter conhecimento sobre engenharia econômica. Principalmente o tal do custo-benefício. Especialistas estimam que aplicar a sustentabilidade em uma construção impacte entre 10% e 20% do preço final de uma obra. No entanto, temos de pensar no ciclo completo.

Depois de entregue, uma construção sustentável reduz, de cara, o custo de energia por meio de maior conforto térmico natural e custo de água para o morador, seja por meio de reuso ou por meio de redução de desperdício. Se tiver painel solar então, o custo energético pode ser nulo ou bem baixo. Entrando na questão do urbanismo, a construção sustentável melhora a mobilidade do entorno, auxilia na segurança da região e, principalmente, melhora a qualidade de vida dos moradores. Isso sem falar em questões intangíveis para o meio ambiente, como redução do impacto nas mudanças climáticas.

A questão é que o retorno da sustentabilidade na construção civil não é rápido. Não mesmo. Se pensarmos num Minha Casa, Minha Vida, o foco é baixo custo da obra. Ponto. No caso de prédios comerciais, cuja maior parte das salas vão para locação, nenhum proprietário vai querer pagar mais para um imóvel em troca de o inquilino pagar menos por conforto térmico, captação de água da chuva, uso eficiente de recursos naturais. O mesmo vale para os apartamentos para locação.

E aí pergunto a vocês: o que fazer? Pelo lado das construtoras, é fácil identificar pontos de aprimoramento, como melhorar consideravelmente os projetos-base, resolver urgentemente o problema do desperdício de materiais e entender que construção sustentável, além de questões financeiras, tem um baita apelo de marketing. É só saber comunicar.

Mas e pelo lado do consumidor, principalmente em um imóvel destinado à locação, como criar um apelo de se pagar mais por um imóvel onde inquilinos serão os grandes beneficiados em longo prazo?


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