Um dos conhecimentos mais
importantes e, incrivelmente, mais renegados da engenharia, principalmente a
civil, diz respeito à engenharia econômica. O engraçado é que apesar de ser um
patinho feio, a primeira publicação sobre o tema que se tem conhecimento data
de 1877 (The economic theory of railway
location). Ou seja, não é nenhuma novidade.
Mas afinal, o que vem a ser
engenharia econômica? A grossíssimo modo, seria algo como a aplicação de
conceitos econômicos, principalmente finanças, na tomada de decisão de projetos
de engenharia. Por isso destaquei a engenharia civil como a que mais deveria
olhar para esse tipo de conhecimento.
Eu, particularmente, nem acho
necessário que um engenheiro que planeja uma construção tenha necessidade de
saber finanças de forma ampla, pois para questões como investimento, VPL, TIR e
bla bla bla há uma pessoa especialista para cuidar do dinheiro. Mas dentre os
tantos conceitos de finanças, há, pelo menos, um que deveria ser fundamental
que todo engenheiro soubesse: custo-benefício.
Parece básico, na verdade é, mas
é o que menos vemos nas escolas de engenharia e na engenharia aplicada. E o
fato de pouco utilizarem a engenharia econômica em obras impacta, profundamente,
a sustentabilidade. O que dói mais é que, muitas vezes essa falta de aplicação
não se dá por falta de conhecimento, mas por pura decisão “estratégica”.
Vamos pensar numa construção tipo
Minha Casa, Minha Vida. O foco do programa é o público de baixa renda. Ok,
bacana. Não vou nem entrar no mérito da qualidade e dos problemas da maioria
das obras entregues até agora. Vou fingir que vivemos num mundo de fantasia e
todo o processo de construção do prédios tenha sido feito a contento.
Pergunto: há preocupação com preceitos
de bioarquitetura durante a fase de desenho do projeto? As unidades entregues
contam com telhado verde ou sistema de captação de água da chuva, por exemplo?
Os materiais utilizados são os mais eficientes do ponto de vista de consumo
energético e consumo de água?
A resposta é não para tudo. E isso
acontece por um princípio bem básico. Não raro, a construção de um prédio
sustentável, tecnicamente, é mais cara que a de um prédio comum. Os materiais
utilizados são específicos, como descarga dual flux, o design do prédio tem de
ter certas características que não o de um design comum, telhas mais baratas que
aumentam a retenção de calor devem ser abolidas e por aí vai.
Acontece que para falar de
sustentabilidade é preciso ir além do basicão. No caso, o custo direto. E por
isso é fundamental ter conhecimento sobre engenharia econômica. Principalmente
o tal do custo-benefício. Especialistas estimam que aplicar a sustentabilidade
em uma construção impacte entre 10% e 20% do preço final de uma obra. No
entanto, temos de pensar no ciclo completo.
Depois de entregue, uma
construção sustentável reduz, de cara, o custo de energia por meio de maior
conforto térmico natural e custo de água para o morador, seja por meio de reuso
ou por meio de redução de desperdício. Se tiver painel solar então, o custo
energético pode ser nulo ou bem baixo. Entrando na questão do urbanismo, a
construção sustentável melhora a mobilidade do entorno, auxilia na segurança da
região e, principalmente, melhora a qualidade de vida dos moradores. Isso sem falar em questões intangíveis para o meio ambiente, como redução do impacto nas mudanças climáticas.
A questão é que o retorno da sustentabilidade
na construção civil não é rápido. Não mesmo. Se pensarmos num Minha Casa, Minha
Vida, o foco é baixo custo da obra. Ponto. No caso de prédios comerciais, cuja
maior parte das salas vão para locação, nenhum proprietário vai querer pagar
mais para um imóvel em troca de o inquilino pagar menos por conforto térmico,
captação de água da chuva, uso eficiente de recursos naturais. O mesmo vale
para os apartamentos para locação.
E aí pergunto a vocês: o que
fazer? Pelo lado das construtoras, é fácil identificar pontos de aprimoramento,
como melhorar consideravelmente os projetos-base, resolver urgentemente o
problema do desperdício de materiais e entender que construção sustentável,
além de questões financeiras, tem um baita apelo de marketing. É só saber
comunicar.
Mas e pelo lado do consumidor,
principalmente em um imóvel destinado à locação, como criar um apelo de se
pagar mais por um imóvel onde inquilinos serão os grandes beneficiados em longo
prazo?