Agricultura orgânica é um assunto que está na moda. Não vou entrar no mérito de custo financeiro ou mesmo a questão de saúde. Por N razões os produtos orgânicos precisam ser mais caros. Por não conter agrotóxicos, a durabilidade dele é baixa, por não conter agrotóxico a produtividade é mais baixa. Mesmo com esses percalços, o consumo de produtos orgânicos tem crescido a passos vertiginosos. O que é muito interessante.
A agricultura orgânica possui muitos benefícios. Saúde das pessoas, melhor qualidade e maior saúde do solo utilizado para plantio, eliminação de um produto que, dentre diversas polêmicas, é derivado do petróleo, estímulo ao cooperativismo, já que, não raro, a agricultura orgânica é pequena (por conta justamente de suas limitações, dificilmente ela vai ser posta em prática pelo grande agronegócio.) Ok, a agricultura orgânica é linda.
Mas aí você tem o outro lado. Somado à menor produtividade e durabilidade dos produtos, temos menos variedade de produtos e uma questão-chave que quase ninguém analisa criticamente: logística. Por mais doido que possa parecer, se a gente fizer um inventário de emissões de gases do efeito estufa do setor agrícola, a agricultura orgânica emite mais CO2eq que a agricultura tradicional, ainda que a segunda utilize produto derivado do petróleo.
Junto com a agricultura orgânica, outro movimento que vem ganhando bastante força é o da valorização da economia local. Eu, particularmente, sou uma grande entusiasta deste movimento. Valorizar a cultura e as características da região, valorizar o pequeno empreendedor, os negócios locais. Dentre os muitos benefícios indiretos desta prática está o de melhoria da mobilidade e consequentemente redução das emissões de gases do efeito estufa por transporte. Isso acontece porque ao valorizar a economia local, há uma maior incidência de pequenos trajetos, maior uso de veículos não motorizados e deslocamentos à pé.
De acordo com pesquisa do Observatório do Clima de 2015, no Brasil, o setor energético é o segundo maior emissor de gases do efeito estufa (perde para o desmatamento). Levando-se em consideração que nossa matriz de energia elétrica é, em sua maioria, de origem renovável, grande parte das emissões do setor diz respeito à energia oriunda de petróleo e gás, que vai, majoritariamente para combustível.
Corta. Voltemos para a agricultura orgânica, que além de pequena, é muito pulverizada. Se você quer colocar apenas alimentos orgânicos no seu prato, você não faz ideia da logística necessária para que esses produtos chegue a você. E isso tem uma conta ambiental pesada. Uma das soluções para ajudar, parcialmente, a fechar a conta passa pela massificação da chamada agricultura urbana, completamente incipiente no Brasil.
A agricultura urbana vem sendo apontada por muitos como fator chave para a segurança alimentar do futuro, já que o atual modelo agrícola não é viável em um planeta que cresce exponencialmente e vai passar dos 9 bilhões de habitantes em 2050. E no que ela consiste? Na prática da agricultura dentro da cidade, utilizando os recursos humanos e materiais, produtos e serviços encontrados dentro ou em redor da área urbana. Em muitos casos o cultivo se dá por meio de ocupação de terrenos que estão em desuso.
Mas Julianna, não estávamos falando de agricultura local? Do nada você muda para agricultura urbana? Calma, jovem, já estou chegando lá. A questão é que, ao contrário das demais formas de agricultura, a agricultura urbana preza pelo contato e pela proximidade ao seu consumidor final. Ou seja, o preceito básico da economia local. E junto com essa proximidade, temos uma série de outras vantagens.
Uma das vantagens: novas formas de emprego na cidade. Aumento de área verde, melhoria na qualidade do ar, temperaturas mais amenas. Por ser a agricultura urbana uma atividade local, é muito mais fácil ampliar o alcance da agricultura orgânica nesse modelo e até mesmo reduzir custos. A logística, meus caros, a logística é, infinitamente, reduzida e isso impacta diretamente na questão climática. Fora os ganhos intangíveis de se ter uma produção próximo às pessoas, como maior contato e harmonia com a natureza, por exemplo.
Em Nova York o modelo de agricultura urbana faz muito sucesso. Não raro, as pessoas estão utilizando os telhados dos seus prédios para cultivar alimentos ou mesmo criando hortas verticais. Eu, particularmente penso no uso das edificações pra agricultura de duas formas: a possibilidade de construção da minha própria horta e a possibilidade de alugar espaço em um prédio para alguma empresa que tenha interesse em investir em agricultura urbana em larga escala. Outro bom exemplo é o de Xangai, que se tornou case mundial, e hoje produz 60% dos vegetais, 90% dos ovos e 100% do leite consumido na própria cidade.
E aí, agricultura local ou apenas agricultura orgânica?