terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Saneamento básico, educação e sustentabilidade

Desde o primeiro post deste blog, e lá se vão quase oito anos, procurei mostrar uma visão sistêmica de sustentabilidade, de como ela é calcada na relação causa x efeito e de como essa relação nem sempre é direta. Até escrevi um texto especifico sobre isso há pouco mais de um ano para que as pessoas nunca se esqueçam de como é básico. A quem interessar possa, segue o link: http://www.sustentabilidadecorporativa.com/2016/01/a-relacao-de-causa-e-efeito-da.html

Trouxe essa informação de volta porque hoje vou escrever sobre um tema que tem muito a ver com relação causa x efeito. Um tema que sempre foi crítico e ao mesmo tempo sempre foi deixado de lado na execução de políticas públicas do Brasil. É que não dá voto, sabe? Então, vou falar de saneamento básico. Um assunto, digamos, bem pouco digerível. Afinal, falar de cocô, lixo, esgoto e afins é bem desagradável.

Lá atrás, em janeiro de 2007, o governo federal sancionou a Lei 11.445, mais conhecida como a Lei do Saneamento Básico. O objetivo era estabelecer as diretrizes nacionais e a política nacional do setor, universalizando o serviço no Brasil. Dez anos se passaram e mesmo com a melhora nos indicadores, a situação ainda é calamitosa. Tipo, saímos do extremamente ruim para o muitíssimo ruim.

O que significa para o Brasil, ter, de acordo com a PNAD 2015, apenas 60,2% dos domicílios da região norte com abastecimento regular de água, por exemplo? Ou então o que significa ter rede de esgoto (por canalização ou fossa séptica) em 65,3% dos domicílios, sendo que na mesma região norte a cobertura não chega a 25%?

Nem de longe sou especialista no tema, mas posso dizer, sem sobra de dúvidas, o maior efeito da falta de universalização do saneamento básico em um país: perpetuação de desigualdade. Não adianta fazer política pública de transferência de renda, criação de cotas e afins e não resolver problemas estruturais. Nós, Brasil, temos a péssima mania de atacar o efeito, não a causa.

Para deixar claro o que estou dizendo, tem vários estudos que apontam a relação entre saneamento básico e desempenho escolar. Ou melhor, o impacto da falta de saneamento básico na performance escolar das crianças mais pobres. O Eduardo Giannetti, um economista e filósofo que eu adoro, é um que bate na tecla que grande parte dos principais problemas da educação básica brasileira tem mais a ver com a má formação neurológica de crianças por conta de doenças adquiridas nos primeiros anos de vida do que a própria qualidade de ensino.

Muitas dessas doenças são causadas justamente por contato com esgoto a céu aberto, corpos d’água poluídos, falta de coleta de lixo e falta de acesso à água potável, causando deficiência na aprendizagem. Assim, relegamos as crianças que vivem nas cidades/regiões mais pobres do país, a um futuro de baixa escolaridade, subempregos e eterna desigualdade. Basta ver a legião de analfabetos funcionais que o país gera ano a ano.

Se não bastasse a tragédia social e ambiental que ela causa, a falta de saneamento também acaba gerando profundos impactos econômicos no país. Seja pelo custeamento da saúde pública para o tratamento de doenças que não deveriam existir em pleno século XXI; seja no custeamento da própria educação, por conta de elevado índice de repetência e evasão escolar; seja pela necessidade de medidas paliativas de políticas de transferência de renda como forma de minimizar a desigualdade abissal do Brasil.

Então, por mais desagradável que seja falar de cocô, água suja e lixo, é fundamental entendermos a importância do saneamento básico para todos os pilares da sustentabilidade de uma cidade, de uma região, do país inteiro. E mesmo não dando voto, é um assunto que já passou do tempo de estar resolvido, pois seus impactos, além de cruéis, marcam a vida de uma massa de pessoas fadadas à desigualdade.

Para quem se interessa pelo tema e pelos dados de saneamento no Brasil, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental lançou um estudo sobre isso. Para baixar o material, basta clicar no link: http://abes-dn.org.br/?page_id=2525


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