Quando ouço falar de sustentabilidade
das cidades, as pessoas batem muito na tecla do transporte público. Como se a
sustentabilidade de uma cidade se resumisse a isso. Um dos capítulos de Capitalismo
Natural (o melhor livro do planeta, em minha opinião) trata da construção
de bairros compactos e cita uma frase muito interessante:
“A maioria das pessoas
acredita que a alternativa para os automóveis é o transporte coletivo melhor.
Na verdade, são os bairros melhores.”
Alan Durning –
Sightline Institute
O que isso significaria
especificamente? De cara, que mobilidade urbana é um assunto muito mais
complexo do que apenas investir em transporte público de qualidade. Segundo que
a lógica do bom urbanismo funciona por meio de reação em cadeia. Peguemos como
exemplo o Rio de Janeiro, bairro de Santa Cruz. Para quem não conhece, é um
bairro que fica a quase 70km do centro da cidade. Imagina uma pessoa que mora
lá e trabalha no centro. São 140km todos os dias. Surreal, não? Acredite em
mim, isso acontece muito.
Para fazer o trajeto Santa Cruz-Centro
há a opção do trem e há algumas linhas ônibus. Apesar de ser, quando nada dá
errado, a escolha mais rápida, concordo que o sistema de trem do Rio de Janeiro
é precário. Quem opta por ir de ônibus, não faço ideia de quanto tempo demora,
haja vista que a Avenida Brasil em horário de pico é caótica. E também não é lá
muito melhor não. Ônibus sem ar condicionado, demora para passar nos pontos,
lotação e afins. Aí se a pessoa tem uma condição financeira melhor, ela usa o
carro.
Vamos sair do pensamento linear.
É sustentável fazer uma pessoa percorrer 140km diários para trabalhar, mesmo
com o melhor sistema de transporte público do universo? Pergunta básica: o que
leva uma pessoa a trabalhar a 70km de distância de sua residência? Na maioria
dos casos é porque é onde está o emprego. Ou os melhores empregos. No caso
específico do Rio de Janeiro, estamos falando de uma cidade de mais de seis
milhões de habitantes e basicamente uma única centralidade. Qual a solução
então? Descentralizar o Rio de Janeiro.
Acontece que para criar novas
centralidades, é preciso investir em melhorias dos bairros. E aí estou falando,
inicialmente, de boa infraestrutura de sistemas urbanos (água, energia,
saneamento básico, drenagem, resíduos). Depois estou falando de bom uso do solo
que, naturalmente, atrai segurança. Locais seguros atraem pessoas, atraem
empresas, atraem serviços.
Tendo diversas opções na sua
região ou em regiões próximas, as pessoas passam a usar melhor seus bairros e,
principalmente, passa a fazer uso pequenos trajetos, seja por transporte
público, seja por transporte não motorizado, seja à pé. Aí, em um caso como
esse, o transporte individual motorizado acaba, naturalmente, sendo minimizado.
Isso sem contar em outros benefícios adicionais, como melhoria de qualidade de
vida, melhoria na mobilidade urbana, segurança etc.