Não, o título deste post não é
uma ironia, muito menos uma piada. Na verdade o título ideal seria o que a
política atual pode ensinar à sustentabilidade corporativa. Antes de explicar o
título, é bom deixar claro: tenho horror ao Donald Trump e o que ele representa. Seja
pelas questões climáticas e ambientais, pela misoginia, pelo protecionismo,
pelo preconceito, pelo racismo, pela forma como faz negócios. Só que isso não
significa que ele não possa me ensinar algo.
Mas vamos lá: o que Donald Trump
tem a ver com sustentabilidade? Na verdade muito pouco. Acho que nada. Apesar disso,
sua vitória nas eleições americanas é uma boa oportunidade para quem trabalha
com sustentabilidade corporativa, principalmente responsabilidade social, fazer
uma análise mais profunda sobre como funciona a área e os resultados que acabam
sendo gerados.
Trabalhei muito pouco tempo com RS,
mas mais do que experiência, observei muito como ela funciona e tenho talento
(modéstia à parte) de aprender com a observação. Para quem não está acostumado
com a área, em muitos casos, principalmente na indústria, na maioria das vezes,
ela existe como forma de colocar em prática obrigações legais de licenciamento.
Uma empresa de petróleo e gás ou
mineração, por exemplo, é obrigada a investir x% do valor do projeto em ações
na comunidade. Aí ela injeta muito dinheiro (muito mesmo) em iniciativas de
eficácia extremamente duvidosas, mas que atende a lei. Não lembro o valor dessa
porcentagem, mas falemos de 0,5%. Coloca aí uns 5 bilhões (estou sendo bem
conservadora) para colocar uma mina em operação. Isso significa 25 milhões para
ações nas comunidades impactadas apenas enquanto a mineradora está implantando
aquela operação.
Numa área de exploração é muito
difícil ter uma única empresa operando. Pensem em várias empresas atuando nas
mesmas comunidades de sempre. Isso é um problema. Mas é a lei. Somado a isso, não
raro, a área de RS ou RC trabalha com metodologias pré-fabricadas que foram
desenvolvidas por pessoas que as criaram com a bunda sentada em uma cadeira em
um escritório. Pessoas estas que possuem alta capacidade teórica sobre o
funcionamento do mundo perfeito e baixa capacidade de entendimento da prática
do mundo real.
Por mais que essas metodologias
contemplem atividades para “ouvir” o público interessado e isso realmente seja
feito, a grande verdade é que há um grande descompasso entre as expectativas
das empresas e as das comunidades. É muito fácil uma empresa cair na armadilha
do diagnóstico que ela faz de uma comunidade e achar que os gaps ali
encontrados são as necessidades daquelas pessoas. Ou simplesmente ignorar
diagnóstico, ignorar a dinâmica de funcionamento das pessoas daquele entorno e
chegar com uma fórmula pronta porque deu certo em alguma outra operação sua.
Pois bem, o que Donald Trump tem
a ver com essa história toda? Mesmo com toda ojeriza que o mundo demonstrou ter
por ele, ele soube, como ninguém, ouvir as dores do americano médio. O
americano que perdeu seu emprego de baixo valor agregado para o imigrante
ilegal, que viu a fábrica da sua cidade ser transferida para a China, o
americano cujo interesse é gasolina barata e carro beberrão na garagem. O americano que, infelizmente, não está nenhum pouco interessado em Acordo do Clima e que é a maioria da população.