Assim como tudo na vida, as
pessoas tendem a buscar um rótulo para a sustentabilidade. Porque é meio
ambiente, é responsabilidade social, é viés econômico, é triple bottom line, são
projetos, são processos, é planejamento, é sei lá mais o que. A bem da verdade
é que sustentabilidade pode ser tudo isso, pode ser qualquer coisa, a partir de
qualquer perspectiva. Sério.
Vou exemplificar a partir da
minha experiência com a sustentabilidade.
Eu, Julianna, tenho fases dentro
da sustentabilidade. Na verdade não deixo nenhuma para trás, vou evoluindo
dentro do tema e acumulando conhecimento e visões.
Fase 1: Responsabilidade
socioambiental. Quando comecei na área de RSE, por exemplo, de cara vi que
ficaria pouco tempo lá, pois sentia profundo incômodo de trabalhar em projetos
reativos, voltados para compensação e reputação. Vale ressaltar que é uma atuação
importante, é necessária, faz parte de requisitos legais, mas não é para mim. Próxima fase.
Fase 2: Sustentabilidade. Quando
comecei a trabalhar sustentabilidade de verdade, minha função era atrelá-la aos processos de
negócio/produção da empresa. Não tem como falar de sustentabilidade apenas
porque se tem o setor formalizado dentro da empresa. Ou ela está dentro das
áreas ou ela é história de ficção. Gostei dessa pegada. Gosto ainda, mas
apenas acho que já passou do meu momento. Próxima fase.
Fase 3: Planejamento estratégico
sustentável. A-N-I-M-A-L. Considerar a sustentabilidade dentro do planejamento,
visualizá-la de forma integrada às áreas, visão sistêmica da empresa,
indicadores de performance, metas. Amo. Sempre amarei. Mas ainda assim meu
tempo passou, mesmo que seja pouquíssimo praticado pelas empresas e ainda que
exista um vasto campo de atuação. Próxima fase.
Fase 4: Economia da
sustentabilidade. Olhar a perspectiva da sustentabilidade não só por aspectos
financeiros, mas por cenários macroeconômicos, tendências, políticas globais, visões
de longuíssimo prazo, lidar com a incerteza das grandes questões mundiais como mudanças
climáticas e escassez de recursos, analisar como tudo isso impacta o modelo de
negócios das empresas... meu xodozinho. É aqui que quero fincar minhas raízes.
No entanto, pelo escopo das empresas, essa visão hoje não é muito discutida.
Não estou falando de Academia, governo,
nem organismos mundiais tipo PNUMA ou IPCC. Nesses órgãos a economia da sustentabilidade
é algo relativamente bem resolvido. Já tem muita pesquisa, muitos estudos,
muitos artigos sobre o custo das mudanças climáticas, da adaptação, da
mitigação da perda da biodiversidade etc etc etc.
Meu ponto é: O que isso significa
para uma empresa ou um setor por inteiro? O que, por exemplo, significa para a
indústria de petróleo e gás ou a indústria automotiva, a resolução alemã de
proibir a circulação de carros movidos à gasolina ou diesel a partir de 2030? Como
esse nível de sustentabilidade é absurdamente incipiente nas empresas, voltemos
uma casa. Daqui a uns 10 anos, quem sabe, a gente avança de novo. Ou menos, eu espero.
Fase 3,5: Inovação para a
sustentabilidade. Esta é uma perspectiva que não é nova, mas a verdade é que as
empresas nunca deram o devido valor. Para ela existir, no planejamento
estratégico de uma organização deve ficar clara a orientação para inovação. E no caso,
a visão da inovação para sustentabilidade deve ser muito mais do que um produto
como resultado final. Ninguém hoje vai (ou deveria) gastar tempo e dinheiro na pesquisa e no desenvolvimento de um produto de alta emissão de carbono, ou de grande impacto
ambiental, por exemplo. Entenderam, empresas de petróleo e gás?
A questão é que praticar
efetivamente a inovação para sustentabilidade é ir além de produto sustentável. Significa a integração das novas
economias (economia circular, economia compartilhada, economia criativa) ao
processo produtivo e/ou ao planejamento estratégico. Significa inovar a partir da mudança que as novas economias vem
gerando no mercado, na sociedade e na forma como as pessoas consomem. Afinal, onde está, por exemplo, a maior
inovação para a sustentabilidade: no carro elétrico ou no carro compartilhado?