Quando falamos de economia
compartilhada, pensamos de cara em empresas como Uber, Airbnb e similares. Pensamos
também na possibilidade de qualquer pessoa ganhar um dinheiro extra, descentralizando
o processo produtivo, seja alugando um quarto vazio em casa, seja fazendo um
bico no volante num sábado à noite que ninguém o chamou para sair. De forma
bem rasa, esse é o princípio da economia compartilhada.
Acontece que a economia
compartilhada é muito mais do que uma grana a mais no final do mês. É um novo
modelo onde os impactos gerados por ela mudam completamente a forma de uma
economia tradicional trabalhar. Então eu pergunto: como ela poderia se integrar
a um modelo de administração naturalmente centralizador das empresas e mesmo no
setor público?
Falemos de Uber e seus similares.
Sempre bato na tecla que carro é um dos produtos mais ineficientes que existe
no modelo econômico do século passado. Se você for trabalhar de carro, ele
fica, mais ou menos, duas, três horas em atividade (isso se for trânsito pesado
como no Rio), para o restante do tempo ficar parado ocupando espaço. E se você
não utiliza o carro nem para trabalho, aí mesmo que a eficiência vai para o
ralo.
Peguemos empresas com equipe de
vendas ou que por algum motivo precise de uma considerável frota de automóveis.
Mesmo que os profissionais de vendas utilizem o carro com muito mais eficiência
que uma pessoa comum, ainda assim ele não chega a ser utilizado por metade de
um dia. Bem longe disso. Não sei se o custo de locação é mais barato, mas ainda
que não seja, é comum que essa frota seja alugada. E concordo que tenha de ser
assim. Não é business de uma Unilever da vida gerenciamento de carro de vendedor,
por exemplo.
Pensemos então como o Uber pode
atuar nesse mercado. Não falo de gerenciamento de frotas, pois seria trocar o
seis por meia dúzia. Falo de montar uma equipe enxuta onde cada motorista
atende X vendedores e o carro funciona de forma mais otimizada. Ou que, ao menos,
fique parado pelo menor tempo possível que o carro que o vendedor costuma usar.
Certamente este modelo é mais sustentável, mais eficiente e pode ser, até, mais
barato (não coloquei a conta no papel, mas fica a sugestão).
Agora pensemos no setor público.
Como os governos federal, estadual e municipal podem entregar um serviço de
mais qualidade e utilizar melhor o dinheiro do contribuinte ao integrar o
modelo de economia compartilhada à gestão pública?
O setor público brasileiro,
tradicionalmente, tem de administrar prédios próprios. Prédios muitas vezes
subutilizados e emperrados pela máquina burocrática. Prédios muitas vezes localizados
em áreas supervalorizadas que poderiam gerar um bom caixa para o governo.
Patrimônio muitas vezes cuidado de forma ineficiente, seja na cobrança de um
aluguel muito baixo, na manutenção precária por falta de fiscalização adequada
ou qualquer um daqueles motivos que só encontramos no sistema público.
Mas e se o setor público do
Brasil utilizasse um modelo de Airbnb de espaços corporativos? Ou então
adotasse um modelo de coworking? Não seria mais barato e mais eficiente? Não
tiraria um peso financeiro das costas do Estado, assim como um peso administrativo?
Quão mais eficiência a aplicação de uma visão voltada para as novas economias poderia
gerar no setor público? E que impacto isso pode trazer para aqueles que
financiam a máquina pública, no caso o cidadão?