Antes de começar o texto,
alinhemos expectativa. Quando falo de cultura, não falo de artes, mas de
identidade cultural, comportamento de determinada população em determinado
local. Ok, comecemos.
Quem trabalha em empresa, seja
empresa grande, seja startup, está acostumado a ouvir sobre a importância da
cultura empresarial. Eu mesma já saí de empresa quando vi que meus valores eram
antagônicos aos valores dela (não aqueles bonitinhos que aparecem no site, mas
o valor de dia a dia de trabalho).
Quando a gente fala das
multinacionais, uma das grandes dificuldades é manter a unidade cultural nos
mais diversos países em que a empresa atua e entender que muitas vezes ela terá
de se adaptar. Imagina que cada lugar onde a empresa atua possui um perfil
diferente. E quando a cultura local é forte e motivo de orgulho para uma população?
Como manter uma identidade organizacional ao mesmo tempo em que tem de valorizar
as características regionais de um lugar? Vou mais além: o que isso significa
em termos de impacto para as empresas?
Quem se lembra quando o Walmart entrou
no Brasil e era possível encontrar nas
lojas botas de ski e tacos de golfe? Quem se lembra das matérias que
saiu há alguns anos relaando o choque cultural
quando a InBev comprou a Anheuser-Busch, conhecida pela forte ligação com a
cidade de Saint Louis?
Seja do ponto de vista do
cliente, seja do ponto de vista do funcionário, a cultura local não é algo que
se possa deixar de lado. Se a empresa der de ombros para isso, ela deixa de ter
a tal “licença social” para operar. E isso custa muito caro.
Pensando no Brasil, um dos
estados que mais valoriza a cultura local é, sem dúvidas, Pernambuco. E foi lá
na cidade pernambucana de Goiana que visitei a Fábrica da Jeep (que produz o
Jeep Renegade e o Fiat Toro) no início do mês.
Quem acompanha o blog, sabe que
em abril fui visitar
a unidade da Fiat em Betim e ver como funciona a sustentabilidade no
processo produtivo da fábrica. Na visita a Goiana, pude verificar que a cultura
organizacional que vi em Betim se mantém. E para a sustentabilidade, manter a
cultura organizacional é fundamental.
A base para a sustentabilidade
corporativa é processo e melhoria contínua. Por conta disso, um padrão,
independente das fronteiras, é a garantia de que ela não só é um valor para a
empresa, como uma ferramenta de planejamento e gestão. E a visita a Goiana só
confirmou o que eu já sabia. É uma sustentabilidade super moderna, de fazer os
olhos brilharem.
Mas como se processos e melhoria
contínua não fossem suficientes, tem um lado da sustentabilidade da Fiat muito
sutil que, acredito, passa despercebido ao grande olhar. E é o que no final
acaba diferenciando uma empresa tradicional para uma empresa do futuro. Conforme
falei no texto sobre Betim, me chamou atenção a visão da Fiat de ir além de uma
montadora, pensando sob a perspectiva da mobilidade. Somado a isso, pude
conhecer um lado que pode parecer bobo num primeiro momento, mas que na soma
final faz toda a diferença.
A fábrica da Jeep em Goiana foi
construída numa região onde antes a economia era baseada em plantação de cana.
Quem conhece a cadeia produtiva de cana, sabe como ela, muitas vezes, é
degradante para a ponta final, ou seja, para quem faz a colheita. Não raro há
trabalho infantil e trabalho análogo ao escravo.
Aí a Fiat vai lá e inicia a
construção de uma fábrica gigantesca. Não só por questões legais, mas também por
questões de cultura organizacional e da “licença social” para operar, ela
contratou mão de obra local para a construção. Acontece que o cenário era que
ela tinha à disposição era a de mão de obra qualificada para, basicamente,
cortar cana.
E então a Fiat/seus fornecedores capacitou
uma mão de obra calejada dos canaviais a uma nova profissão. E a fábrica foi
construída. Uma vez construída, precisava-se de mão de obra para operar a
fábrica. E novamente a Fiat/seus fornecedores formou dentro da região a mão de
obra necessária. Ou seja, um legado para Goiana e seu entorno.
Se não bastasse a verdadeira
transformação social da região que a Fiat ajudou a promover, tem a cereja do
bolo que vem em forma de valorização da cultura local, que é algo intangível,
mas que ajuda a manter o bom clima organizacional, que impacta no turnover da
empresa, na gestão do conhecimento, na performance dos funcionários etc etc
etc. E deixo para vocês algumas fotos que tirei para tentar retratar em imagem
algo que simplesmente não se mede.
Meus filhos, se vocês não chamam
isso de sustentabilidade, podem deixar que eu chamo!