Sustentabilidade é um processo de melhoria contínua.
Foi exatamente com essa frase que
iniciei minha visita à Fábrica da Fiat em Betim, Minas Gerais, há duas semanas.
Na ocasião participei do Circuito das Águas com o intuito de conhecer o
programa que reutiliza impressionantes 99,4% da água da fábrica. A verdade é
que aquela visita se mostrou muito além de uma empresa que faz excelente gestão
de recursos hídricos. Falemos disso no decorrer do texto.
Em 2008, quando recém-saída da
área de responsabilidade social e na transição para sustentabilidade, já batia
na tecla de que sustentabilidade não era uma área isolada na empresa, mas um
processo a ser trabalhado por todas as áreas. Inclusive, em 2012, escrevi um
white paper sobre o assunto, que está disponibilizado em meu slideshare para
quem se interessar: http://pt.slideshare.net/sustentavel1/sustentabilidade-30-email.
Mas de volta à visita à Fábrica
da Fiat, antes de conhecer o processo de gestão de recursos hídricos, tive a
oportunidade de visitar outros setores e verificar como cada área tem sua responsabilidade
com metas de sustentabilidade. Para isso, há pontos focais que são responsáveis
pela coleta e reporte dos indicadores, que são devidamente monitorados e controlados
junto à área de meio ambiente.
Se pesarmos do ponto de vista de
tempo presente, gestão da sustentabilidade dentro dos processos da empresa é o
que tem de melhor a ser feito. E o mais interessante é que você empodera os
colaboradores por não precisar ser da área de sustentabilidade para fazer
sustentabilidade de verdade.
Então fui lá fazer o Circuito das
Águas. Uma estação de tratamento moderníssima, com técnicas de tratamento super
inovadoras. Não sou muito entendida da área, mas me chamou atenção a utilização
do processo de osmose reversa. Graças a ele e ao sistema MBR, a Fiat saltou de
92% no reuso da água para 99,4% em 2010. E o que isso significa? Praticamente a
eliminação da captação da água da rede pública e uma economia equivalente ao consumo
de uma cidade de 30 mil habitantes!
Se não bastasse todo o
encantamento que tive com os processos produtivos da Fiat e a sustentabilidade
de hoje posta em prática em sua plenitude, veio a cerejinha do bolo. E aí meu
olho brilhou de verdade: a visão de futuro.
Há um bom tempo venho batendo na
tecla de que num futuro não tão longínquo, mais do que processos, a
sustentabilidade vai impactar o modelo de negócios das empresas. Sem exceção,
independente do setor. Umas vão sofrer mais, outras menos, mas todas sofrerão.
E ai de quem não estiver preparada.
Pois bem, durante o almoço tive a
oportunidade de conversar com um designer que trabalha na área de pesquisa da
Fiat. Não, ele não é um designer que projeta carros mais eficientes, que
consomem menos matéria prima ou carros mais leves que podem consumir menos
combustível. Ele é um cara que trabalha na área de pesquisa tentando entender o
comportamento das cidades daqui a 10, 20 anos e o papel do automóvel nesse novo
cenário. Ou seja, a visão de futuro que uma montadora precisa ter.
Em cidades cada vez mais
urbanizadas e inchadas, falar de sustentabilidade do setor automotivo apenas
pela perspectiva de processos é falar basicamente da sustentabilidade de hoje.
Mas acontece que o hoje já não é suficiente. Afinal, o que poderemos esperar a
partir desse único olhar de sustentabilidade dentro de processos? Carros ultra
eficientes gerando ecoengarrafamentos!
Pensar o papel do automóvel em
cidades que caminham para o baixo carbono, pensar o papel do carro dentro de um
contexto de transporte de alta capacidade ou de transportes não motorizados, pensar
o papel do carro pela perspectiva dos seus impactos, sociais, ambientais e
econômicos é fundamental.
Por isso, falar de sustentabilidade
de uma empresa automobilística no longo prazo é ir muito além de processos; é falar
da transição para uma empresa de mobilidade. Só que, somado a isso, é preciso não
demonizar o automóvel, que tem papel importantíssimo dentro do sistema
econômico dos países, principalmente de um país como o Brasil.
Assim, diante de uma visão bem
ampla, saí da visita na fábrica da Fiat com a certeza de que, mais do que
pensar em vilões, cabe a todo setor automobilístico contribuir para a
construção e o planejamento de cidades melhores, onde carros, ônibus, trens,
metrôs e bicicletas e cidadãos caminham em perfeita harmonia.