terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O que significa para o Brasil, para a Petrobras e para a sustentabilidade o petróleo barato?

Eis que o preço do barril de petróleo chegou a menos de 30 dólares. Apesar de o plano de negócios da Petrobras, lançado na semana passada, projetar 45 dólares para o barril no futuro, a verdade é que não há projeção alguma de alta para os próximos anos. Pelo contrário, com a volta do Irã para o jogo, o preço tende a cair ainda mais.

Mas o que isso significa do ponto de vista da sustentabilidade?

No início do ano passado, quando o preço do barril começou a cair de vez, escrevi sobre o impacto que isso teria nos investimentos em biocombustíveis, que, por uma série de fatores como lobby da indústria de óleo e gás, falta de criação de mercado, falta de regulamentação governamental e afins, ainda é mais caro que a energia suja. Quando escrevi esse texto, o barril custava por volta de 60 dólares.

Mas agora o petróleo está num preço que, dependendo do tipo de exploração, pode torná-lo inviável. E mesmo nas regiões onde ele ainda é encontrado em abundância, torna-se desvantajoso porque a lucratividade é baixa. Lembrando que nos países do Oriente Médio, a economia é basicamente toda voltada para o petróleo e para o funcionalismo público. Que é mantido às custas do petróleo, obviamente. Sem contar a queda mundial de demanda, capitaneada pela China.

Falemos de Brasil. Nossa outrora maior empresa fez em 2007 a descoberta do tal campo de Libra, amplamente divulgado pelo governo como a salvação da pátria, nossa carta de alforria energética diante de um mundo capitalista e opressor. Pois bem, eis que o governo demorou seis anos para fazer o leilão dos poços, quando o petróleo já começava a ter instabilidade de preço para baixo e o shale dava sinais de vida.

Para quem não conhece o processo de exploração de petróleo em pré-sal, digo que ele é bem complexo e bem caro, bem mais caro que as técnicas comuns de exploração. Para ele ser viável, o preço do barril tem de estar, geralmente, entre 60 e 80 dólares. Coisa completamente irreal para um futuro de curto, médio e, mesmo, longo prazo.

Ok, pré-sal não rola. Partiu plano B. Que plano B, minha gente? Historicamente a Petrobras mantém uma média de 2% em pesquisa e desenvolvimento para energia limpa. Não sei se sabem, mas a nossa melhor alternativa ao combustível derivado de petróleo, o etanol de cana, teve sua indústria pouco a pouco detonada e só não fechou totalmente as portas porque o governo aumentou o teor de álcool na composição da gasolina.

Cadê o nosso mercado para biocombustível de segunda geração? Temos? Alguém conhece alguma usina que utilize o bagaço da cana para fazer etanol? Conheço uma só. E convenhamos, etanol de cana, de milho de óleo de palma, de qualquer vegetal é tão old school e tão pouco sustentável...

O governo apostou todas as fichas num modelo energético em que todos os países desenvolvidos vêm tentando há tempos se desvencilhar, ainda que o lobby para o petróleo seja pesado. Tirando o etanol, que nem é a melhor opção econômica para o consumidor nos dias de hoje, o que temos de efetivo em relação a combustíveis limpos? Biomassa? Hidrogênio? Algas? Não temos nada.

E aí, qual será a saída? Importarmos 100% do petróleo a 20 e poucos dólares o barril e largamos de vez os combustíveis limpos? Ou invertemos a ordem dos 98/2 de investimento que a Petrobras vem fazendo há anos?


Num cenário apocalíptico, pergunto: dá tempo? Ou caso a era do petróleo tenha finalmente chegado ao fim, estaremos relegados a duas opções: transformar o país numa imensa plantação de cana ou sermos obrigados, mais uma vez, a importar combustível ou tecnologia de países desenvolvidos.

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