Eis que o preço do barril de
petróleo chegou a menos de 30 dólares. Apesar de o plano de negócios da
Petrobras, lançado na semana passada, projetar 45 dólares para o barril no
futuro, a verdade é que não há projeção alguma de alta para os próximos anos.
Pelo contrário, com a volta do Irã para o jogo, o preço tende a cair ainda
mais.
Mas o que isso significa do ponto
de vista da sustentabilidade?
No início do ano passado, quando
o preço do barril começou a cair de vez, escrevi sobre o impacto
que isso teria nos investimentos em biocombustíveis, que, por uma série de
fatores como lobby da indústria de óleo e gás, falta de criação de mercado,
falta de regulamentação governamental e afins, ainda é mais caro que a energia
suja. Quando escrevi esse texto, o barril custava por volta de 60 dólares.
Mas agora o petróleo está num
preço que, dependendo do tipo de exploração, pode torná-lo inviável. E mesmo
nas regiões onde ele ainda é encontrado em abundância, torna-se desvantajoso
porque a lucratividade é baixa. Lembrando que nos países do Oriente Médio, a
economia é basicamente toda voltada para o petróleo e para o funcionalismo
público. Que é mantido às custas do petróleo, obviamente. Sem contar a queda
mundial de demanda, capitaneada pela China.
Falemos de Brasil. Nossa outrora
maior empresa fez em 2007 a descoberta do tal campo de Libra, amplamente
divulgado pelo governo como a salvação da pátria, nossa carta de alforria energética
diante de um mundo capitalista e opressor. Pois bem, eis que o governo demorou
seis anos para fazer o leilão dos poços, quando o petróleo já começava a ter instabilidade
de preço para baixo e o shale dava sinais de vida.
Para quem não conhece o processo
de exploração de petróleo em pré-sal, digo que ele é bem complexo e bem caro,
bem mais caro que as técnicas comuns de exploração. Para ele ser viável, o
preço do barril tem de estar, geralmente, entre 60 e 80 dólares. Coisa
completamente irreal para um futuro de curto, médio e, mesmo, longo prazo.
Ok, pré-sal não rola. Partiu
plano B. Que plano B, minha gente? Historicamente a Petrobras mantém uma média
de 2% em pesquisa e desenvolvimento para energia limpa. Não sei se sabem, mas a
nossa melhor alternativa ao combustível derivado de petróleo, o etanol de cana,
teve sua indústria pouco a pouco detonada e só não fechou totalmente as portas
porque o governo aumentou o teor de álcool na composição da gasolina.
Cadê o nosso mercado para
biocombustível de segunda geração? Temos? Alguém conhece alguma usina que
utilize o bagaço da cana para fazer etanol? Conheço uma só. E convenhamos,
etanol de cana, de milho de óleo de palma, de qualquer vegetal é tão old school
e tão pouco sustentável...
O governo apostou todas as fichas
num modelo energético em que todos os países desenvolvidos vêm tentando há
tempos se desvencilhar, ainda que o lobby para o petróleo seja pesado. Tirando
o etanol, que nem é a melhor opção econômica para o consumidor nos dias de
hoje, o que temos de efetivo em relação a combustíveis limpos? Biomassa?
Hidrogênio? Algas? Não temos nada.
E aí, qual será a saída?
Importarmos 100% do petróleo a 20 e poucos dólares o barril e largamos de vez
os combustíveis limpos? Ou invertemos a ordem dos 98/2 de investimento que a
Petrobras vem fazendo há anos?
Num cenário apocalíptico,
pergunto: dá tempo? Ou caso a era do petróleo tenha finalmente chegado ao fim,
estaremos relegados a duas opções: transformar o país numa imensa plantação de
cana ou sermos obrigados, mais uma vez, a importar combustível ou tecnologia de
países desenvolvidos.