quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A COP-21 retratada pela mídia de massa


A maioria das pessoas tem, quando tem, um conhecimento superficial sobre sustentabilidade. Isso não é problema, já que o tema não desperta grande interesse. Eu também tenho conhecimento superficial naquilo que não me interessa. Só que tem temas que, bem ou mal, as pessoas precisam saber.

Há tópicos específico de sustentabilidade, que por mais chatos que sejam, também precisam ser passados para o público médio, como mudanças climáticas, por exemplo. Só que sustentabilidade é um tema complexo, não muito direto e cheio de relação causa e efeito. Mas a maioria do público médio acha que é plantar e abraçar árvore. E isso é culpa da mídia de massa, que passa o conceito erroneamente para a população.

A COP-21 começou essa semana e de cara vi que a Maju, a jornalista do tempo da Rede Globo, está fazendo a cobertura do evento. Entenderam o que a Globo acha o que é aquecimento global e o tipo de informação que ela passa para o público médio? Maju, absolutamente nada contra você como jornalista, te acho primorosa no seu ofício, mas sério mesmo que aquecimento global é a jornalista dizer que vai fazer calor amanhã no Rio de Janeiro?

Ontem mesmo no Jornal Nacional, dentro da cobertura da COP, passou uma matéria de não mais que uns 30 segundos falando da falta de chuva como consequência do desmatamento. Não que esteja errado, mas o assunto já está mais do que batido e pouco acrescentou para o telespectador. O que ele vai fazer? Sair plantando árvore no meio da rua?

Tirando programas específicos, a cobertura da COP-21 pela mídia de massa está muito fraca, como é fraca a cobertura de qualquer COP, como foi fraca a cobertura da Rio+20 no nosso quintal, como é fraca qualquer matéria jornalística cujo tema não seja sustentabilidade, mas que precise de um olhar sobre o assunto.

Por que não uma matéria sobre os refugiados do clima? Ou então o impacto das mudanças climáticas na economia de um país como o Brasil? Ou das consequências indiretas, como inchaço das zonas urbanas, aumento de pobreza,  aumento de violência? Ou, melhor ainda, por que não uma matéria sobre como a gente, sociedade civil, pode reduzir as emissões de CO2 sem cair no senso comum de troque o seu carro por uma bicicleta?

Caramba, imagina uma matéria em cadeia nacional a respeito da nossa responsabilidade individual sobre as mudanças climáticas! Cadê um jornalista comum para fazer uma matéria dessas para passar em um programa comum para gente comum assistir e começar a pensar no assunto?

Entra ano, sai ano, as oportunidades aparecem para colocarmos a sustentabilidade como um tema convergente a qualquer assunto de relevância para as pessoas, seja ele economia, ciência, tecnologia, política, cotidiano, assuntos da cidade, cultura, esporte e whatever. Mas ao mesmo tempo em que essas oportunidades aparecem, elas se esvaem por pura falta de gente qualificada na mídia para falar sobre sustentabilidade de forma simples, inteligente e inovadora.

Quando digo gente qualificada, falo não apenas de gente treinada no assunto, com os conhecimentos específicos necessários para comunicar a sustentabilidade, mas gente diferenciada, que não se importa em sair da zona de conforto das pautas que lhe são dadas e ao invés de fazer mais do mesmo sempre, usa a sua competência para fazer o seu público pensar mais criticamente. Porque essa é a função social do jornalismo.

E em temas complexos e importantes como a sustentabilidade, é mais do que função social, é obrigação do jornalismo não só informar o óbvio, mas também usar a comunicação para formar cidadãos mais conscientes. O que não vem sendo feito pela mídia de massa, diga-se de passagem.


P.S. Sonho meu: um jornalista, em uma coletiva de imprensa para anunciar a redução do IPI para os carros, perguntar para o ministro da economia diante da expectativa de aumento de vendas do setor, se o ministério fez um estudo para avaliar os impactos sociais, ambientais e econômicos do custo de mais carros nas ruas.

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