Se a minha memória não falha, a última
vez que o mundo pareceu se preocupar com uma Conferência das Partes, o encontro
anual promovido pela ONU sobre o clima, foi a COP-15, em Copenhagen, em 2009. A
bem da verdade, não me lembro exatamente o porquê de ela ter sido tão noticiada.
Do ponto de vista de marcos, a
COP-18, em Doha, em 2012, era muito mais emblemática: mesmo ano da Rio+20 e fim
do Protocolo de Kyoto. Na ocasião a expectativa era um novo acordo e o máximo
que conseguimos foi uma prorrogação do acordo vigente (que já era limitado) até
2020 (e com menos países signatários).
Pois bem, estamos a poucos dias
da abertura da COP-21. COP esta que acontecerá sob a sombra do terrorismo em Paris,
COP esta em que o Brasil participará pressionado tanto pela profunda crise
econômica que o país enfrenta (lembrando que crise sempre é desculpa para se deixar
a sustentabilidade de lado - como se economia e sustentabilidade não fossem
integradas!), como pelo fantasma do maior desastre ambiental do país.
E a pergunta é: o que podemos
esperar dessa COP-21? Mais do mesmo? Algum acordo que quebre paradigmas? Metas de
redução realmente efetivas? Resultados práticos?
Confesso que nos últimos anos,
principalmente nesses últimos 12 meses, tenho andado um pouco mais confiante em
relação a esses acordos ambientais intragovernamentais. E minha confiança
aumentou porque duas figuras importantes entraram na jogada: Papa e Obama, apesar
de não entender porque o Obama demorou tanto tempo para se posicionar. Quer
dizer, entender, eu entendo, mas fica a sensação de dúvida se o tempo que ele ainda
tem como presidente é suficiente para o engajamento e regulamentações necessárias.
Além da expectativa do papel de
dois líderes globais para a sustentabilidade, essa COP vai expor uma ferida
grave, que foi o resultado pífio do Protocolo de Kyoto (isso deveria ter sido
debatido em 2012, não?) Outro ponto crítico, é que muito já se discutia, mas
agora vai entrar na jogada a participação e a responsabilidade dos países
emergentes (aleluia, irmãos!) em relação à redução das emissões, que se dará a
partir de um novo acordo global que deverá ser definido neste ano (e posto em
prática a partir de 2020).
É importante ressaltar que todas
essas expectativas são azeitadas por afirmações recentes de que a temperatura
de 2015 superou em 1ºC os níveis de temperatura verificados na era pré-industrial.
Ou seja, tá ficando quentinho. E vai piorar, já que estamos nos aproximando da
perigosa marca dos 2ºC, que muitos climatologistas apontam como o ponto de
ruptura, gerando uma série de consequências, como elevação perigosa do mar,
perdas irreparáveis na agricultura, dentre outros problemas.
Não posso esquecer-me de
mencionar que há alguns meses o governo brasileiro divulgou suas metas de
redução que eu, surpreendentemente, achei boas. Não sei se viáveis, mas boas. Não
sei se haverá coalizão ou mesmo vontade do setor público, do setor privado e da
sociedade para o cumprimento das metas, mas, repito, elas são boas.
De qualquer forma, de boas
intenções, o inferno está cheio. Em um mundo que compra petróleo do Estado
Islâmico e depois reclama de terrorismo, em um mundo onde o barril de petróleo está
em queda livre (leiam: Com
o preço do petróleo caindo, qual o futuro dos biocombustíveis?) e o preço e
o excesso de lobby fazem com que a economia de alto carbono seja “mais
vantajosa” que a economia de baixo carbono, em um mundo que vem falhando há vinte
COPs, o mínimo que se pode fazer é ter um pé atrás nesse vigésimo primeiro encontro
mundial do clima. Ou seja, aguardemos. De preferência numa sala com ar
condicionado.