quinta-feira, 1 de outubro de 2015

E a Volks era líder do setor automotivo no DJSI...

E aí que vira e mexe o tema sempre volta à tona. Empresas “líderes” em sustentabilidade ou presente nos índices de sustentabilidade das bolsas de valores espalhadas pelo mundo sendo qualquer coisa, menos empresas sustentáveis. Ano passado já havia comentado que dias depois, DIAS DEPOIS, de ser anunciada no ISE Bovespa, a Renner foi denunciada por trabalho escravo na sua cadeia produtiva.

Agora foi a vez da Volkswagen, que, líder do setor automotivo no DJSI, vem utilizando um mecanismo para mascarar as emissões de poluentes de seus carros. E acaba que esse caso é emblemático pelo momento em que vivemos.

Às vésperas de mais uma, possivelmente, fracassada COP, o mundo realmente começa a prestar atenção na questão das mudanças climáticas. É claro que não no timing necessário, mas caceta, até o Papa está falando desse assunto! Só que mais do que isso, o que acaba entrando  em cheque é, justamente, o modelo de negócios do setor automotivo.

A Volks e todas as outras empresas do setor estão no centro do debate da sustentabilidade não só da indústria automotiva, mas também do setor de transporte. Para as montadoras, o foco da sustentabilidade está, quando está, nos processos produtivos e só. Caramba, sério que o mundo quer saber de automóvel que roda 50km/l de gasolina e uso de materiais reciclados em 5% da carroceria quando o problema hoje é infinitamente maior do que esse?

Olhando para o setor automotivo como um todo, o buraco é muito mais embaixo do que um “simples” greenwashing cometido pela Volks ou a busca insana pelo produto sustentável.  Num mundo que caminha para 2/3 das pessoas vivendo em áreas urbanas em 2050, num mundo em que a (falta de) mobilidade causa prejuízos de bilhões todos os anos, num mundo que caminha para uma transição para a economia de baixo carbono, sério que as montadoras acham que sustentabilidade é carro que consome menos gasolina? Para que, para ficar preso em ecoengarrafamentos?

Além de ser cansativo ficar vendo essas histórias se repetindo à exaustão, de empresas que investem em marketing pesado de premiações, certificações e índices de sustentabilidade, deixando de lado a prática efetiva da sustentabilidade, isso tudo é, na verdade, um assunto muito velho. Estamos no século XXI, o mundo passa por uma profunda mudança que começa nos valores pessoais, chegando ao modelo de negócios da empresa.

A agonia é ver que as empresas que se consolidaram em um modelo econômico do século XX não se atentam que não só as pessoas mudaram, mas as necessidades mudaram, o mundo evoluiu e a economia mudou. Estou falando não só de modelos necessários, como a economia de baixo carbono, mas modelos que estão mudando a forma de se consumir, como a economia compartilhada. E aí pergunto: num mundo novo de Airbnbs, Zipcars, Bike shares, qual o papel de velhas empresas como a Volks?


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