E aí que vira e mexe o tema
sempre volta à tona. Empresas “líderes” em sustentabilidade ou presente nos
índices de sustentabilidade das bolsas de valores espalhadas pelo mundo sendo
qualquer coisa, menos empresas sustentáveis. Ano passado já havia comentado que
dias depois, DIAS DEPOIS, de ser anunciada no ISE Bovespa, a Renner foi denunciada por trabalho escravo na sua cadeia produtiva.
Agora foi a vez da Volkswagen,
que, líder do setor automotivo no DJSI, vem utilizando um mecanismo para
mascarar as emissões de poluentes de seus carros. E acaba que esse caso é
emblemático pelo momento em que vivemos.
Às vésperas de mais uma,
possivelmente, fracassada COP, o mundo realmente começa a prestar atenção na
questão das mudanças climáticas. É claro que não no timing necessário, mas
caceta, até o Papa está falando desse assunto! Só que mais do que isso, o que
acaba entrando em cheque é, justamente,
o modelo de negócios do setor automotivo.
A Volks e todas as outras
empresas do setor estão no centro do debate da sustentabilidade não só da
indústria automotiva, mas também do setor de transporte. Para as montadoras, o
foco da sustentabilidade está, quando está, nos processos produtivos e só.
Caramba, sério que o mundo quer saber de automóvel que roda 50km/l de gasolina
e uso de materiais reciclados em 5% da carroceria quando o problema hoje é
infinitamente maior do que esse?
Olhando para o setor automotivo
como um todo, o buraco é muito mais embaixo do que um “simples” greenwashing
cometido pela Volks ou a busca insana pelo produto sustentável. Num mundo que caminha para 2/3 das pessoas
vivendo em áreas urbanas em 2050, num mundo em que a (falta de) mobilidade
causa prejuízos de bilhões todos os anos, num mundo que caminha para uma
transição para a economia de baixo carbono, sério que as montadoras acham que
sustentabilidade é carro que consome menos gasolina? Para que, para ficar preso
em ecoengarrafamentos?
Além de ser cansativo ficar vendo
essas histórias se repetindo à exaustão, de empresas que investem em marketing
pesado de premiações, certificações e índices de sustentabilidade, deixando de
lado a prática efetiva da sustentabilidade, isso tudo é, na verdade, um assunto
muito velho. Estamos no século XXI, o mundo passa por uma profunda mudança que
começa nos valores pessoais, chegando ao modelo de negócios da empresa.
A agonia é ver que as empresas
que se consolidaram em um modelo econômico do século XX não se atentam que não
só as pessoas mudaram, mas as necessidades mudaram, o mundo evoluiu e a
economia mudou. Estou falando não só de modelos necessários, como a economia de
baixo carbono, mas modelos que estão mudando a forma de se consumir, como a
economia compartilhada. E aí pergunto: num mundo novo de Airbnbs, Zipcars, Bike
shares, qual o papel de velhas empresas como a Volks?