quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A greve dos bancos e o que isso tem a ver com sustentabilidade

Sempre que os bancos entram em greve, o povo se pergunta: como em greve se esse é o setor que mais lucra em qualquer cenário econômico do Brasil? Pois é, é muito fácil sair xingando funcionário de agência. E aí eu te pergunto: quem realmente lucra nos bancos? Não que eu defenda a classe, longe disso, mas vocês sabem quanto ganha um gerente de agência? Em média de seis a sete mil reais. E aí pergunto de uma forma diferente: para o bolso de quem vai o lucro dos bancos?

Recentemente li uma matéria cujo título era: Bancos preveem aumento de até 81% em supersalários de diretores (a quem interessar possa: http://economia.ig.com.br/empresas/2015-10-06/bancos-preveem-aumento-de-ate-81-em-supersalarios-de-diretores.html). Segundo a matéria, a maioria dos bancos listados na Bovespa prevê aumentar a remuneração fixa de seus executivos acima da inflação. Ué, mas não foram esses mesmos bancos que ofereceram aos grevistas um aumento de 5,5%, sendo que a inflação só até setembro já rompeu a barreira dos 7%? Isso fora bônus e remuneração variável. 

Trazendo essa informação para o mundo da sustentabilidade, ou melhor, antes de se falar de sustentabilidade, ainda no campo da responsabilidade corporativa, um dos preceitos mais básicos, quase lá junto com a ética, é a diferença entre o maior e o menor salário de uma empresa. No Santander, por exemplo, o corpo diretivo vai receber esse ano, só de fixos, 2,576 milhões de reais. Ao passo que um gerente de banco (nem é a ponta inicial dessa corda), ganha em média 6,1 mil reais por mês. É claro que as responsabilidades são diferentes, mas sabe quando a conta não fecha? 

Independente disso, sempre questionei a sustentabilidade no setor bancário. Por mais que tenha uma grande capacidade de dissociar produto de processo (eu trabalhei na Souza Cruz, gente!), não consigo ver sustentabilidade no o sistema bancário atual, que nada mais é do que a continuidade de um modelo vigente do século XX. Modelo este que está longe de ser sustentável. Muito longe. 

De que adianta o banco implantar um sistema de microcrédito para população de baixa renda, e colocar juros de 17% no cheque especial? De que adianta suportar projetos para obtenção de créditos de carbono e cobrar 6% ao mês no empréstimo pessoal? De que adianta ser signatário dos Princípios do Equador e não oferecer educação financeira básica para seus clientes? Desafio qualquer um a falar de sustentabilidade e ficar um ano pagando o mínimo do cartão de crédito. De novo, a conta não fecha. 

Mesmo que tenha uma cacetada de bancos no ISE Bovespa, no DJSI, por mais, até, que o Itaú seja líder do setor, o sistema bancário é qualquer coisa, menos sustentável. Pior, é um grande gerador de desigualdade. Aliás, o sistema financeiro como um todo, da forma como está, é o grande culpado pela desigualdade do mundo. É um modelo que só é bom para meia dúzia de rentistas e pros gestores do dinheiro. Não adianta, a conta não fecha. 

Acontece que mudar isso é difícil, para não dizer impossível. Enquanto for mais vantajoso arriscar na roleta russa das finanças do que produzir, gerar emprego e fazer a economia girar, vamos ser sempre suscetíveis às piores mazelas que o capitalismo pode gerar. 

Win-win, gente.

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