Vocês já repararam o tamanho da
boca da embalagem da pasta de dente e o quanto ela faz com que utilizemos muito
mais pasta do que o necessário? Alguém aqui consegue tomar iogurte até o final
sem precisar enfiar o dedo pra raspar o tacho? Dependendo da embalagem, quase
que a metade do produto fica retido! Você sabe o quanto de shampoo ainda tem na
embalagem depois que, aparentemente, o produto acaba?
O design tem um papel fundamental
na sustentabilidade e isso é um fato. Seja através do design thinking, da
remodelagem de processos e mesmo no caso da arquitetura e da construção civil.
É fácil as empresas praticarem o design nessa perspectiva. Traz eficiência
operacional, eficiência de recursos. Economiza dinheiro.
Mas e quando falamos de uma
prática onde o design é responsável não apenas por estimular o desperdício, mas
também para aumentar, desnecessariamente o consumo de um produto? Ou seja, e
quando o propósito do design é meramente aumentar as vendas, pergunto: cadê a
sustentabilidade?
Sempre cito um exemplo meu, de um
dia em que o shampoo acabou e só me dei conta quando estava no banho. Por
razões que não vêm ao caso, havia quatro embalagens da mesma marca supostamente
vazias. Por conta da necessidade, virei todas de cabeça para baixo na esperança
de que a soma do resto de todas permitisse uma lavagem de cabelo. Resultado: só
precisei comprar shampoo novo 15 dias depois.
E aí fico pensando: o que as
empresas entendem como sustentabilidade de verdade? Neste caso específico, o
que uma empresa de bens de consumo entende como sustentabilidade? Será que é só
coleta seletiva, de consumo eficiente de água, energia? Será que é só a
divulgação da foto do presidente numa creche do lado de crianças com meleca no
nariz? Será que é só relatório de sustentabilidade?
Ah, Julianna, já cansei de ver empresas
de bens de consumo olhando para o ciclo de vida das embalagens, estimulando o
uso de refil, usando materiais biodegradáveis, embalagens compactas e bla bla
bla bla. Ok, entendo e sei o quanto isso é fundamental. Mas cadê o design de
embalagens voltado para o consumo responsável, para o consumo com redução de
desperdício?
Alguém já pensou na quantidade de
matéria prima, na quantidade de produto que é desperdiçado todos os dias porque
o design da embalagem não facilita o seu consumo pleno? Não faço ideia de números,
mas contando por baixo com 1% de desperdício de produto, dado o grande volume, qual
o impacto disso no meio ambiente, na fauna, na flora, na biodiversidade
inteira, ainda mais se levarmos em conta que a maioria esmagadora desses
produtos são feitos com matéria prima extraída da natureza?
E aí eu pergunto diretamente para Natura, para
Unilever, para Danone e para um monte de empresa de bens de consumo: será mesmo
que vocês são empresas sustentáveis?