Quando se fala de planejamento
estratégico da sustentabilidade, muita gente da área não dá o devido valor a
uma ferramenta importantíssima, que é a matriz de materialidade. A bem da
verdade é que a maioria, mas maioria mesmo, acha que ela só tem valor na hora
de fazer relatório de sustentabilidade.
A modo bem grosso, matriz de
materialidade é a representação gráfica dos temas de sustentabilidade importantes
para uma empresa. O problema é que ela é utilizada, basicamente, para definir
quais indicadores do GRI serão reportados no relatório de sustentabilidade da
empresa.
Gente, é esforço demais e
informação estratégica demais para utilizar quase que exclusivamente numa das
coisas que deveria ser de menor importância para a área de sustentabilidade de
uma empresa! Lembrando que o conceito de relatório é colocar no papel aquilo
que foi feito de verdade pela empresa. O principal é o fazer, não o registro
disso!
Por ser tratada como mera
coadjuvante, muitas vezes a empresa terceiriza a criação da sua matriz de
materialidade (a ponto de não ter ninguém da área de sustentabilidade
acompanhando o processo!) ou muitas vezes faz nas coxas. Alguém consegue
entender como uma empresa de mineração não tem em sua matriz a questão da
biodiversidade? Eu não consigo entender, mas já vi.
A questão é que para uma pessoa
com visão estratégica ou para uma empresa que encara a sustentabilidade como
área estratégica, a matriz de materialidade serve para outras funções que não apenas
escolher o que vai ou não no relatório. Ela é uma baita ferramenta de gestão
que auxilia, e muito, na tomada de decisão.
No planejamento, por exemplo, ela
aglutina de forma inteligente informações valiosas para análise de cenários, análise
de riscos, análise swot e plano de ações. Para mapeamento de stakeholders, a
matriz de materialidade pode ser utilizada como parte do processo para definir questões
relevantes que a empresa deve considerar, levando-se em conta o impacto e o
interesse do público de relacionamento.
O G4 fez as
empresas falarem mais da matriz de materialidade, já que a premissa agora é o
que é importante de se relatar e não mais quantos indicadores de sustentabilidade
relatar. E para isso funcionar, a cada ciclo de revisão de indicadores, em tese,
um esforço considerável é feito para se definir a materialidade de uma organização.
Quer dizer, ao menos deveria ser,
apesar de já ter visto empresa definindo materialidade em uma reunião de duas
horas com cinco pessoas presentes e zero de consulta a qualquer stakeholder. Mas
pensando no mundo ideal, partindo do princípio que sim, as empresas definem suas
matrizes como tem de ser, pergunto: sério mesmo que uma informação desse nível
estratégico fica restrita, na maioria das vezes a um relatório que ninguém lê?