segunda-feira, 8 de junho de 2015

O brasileiro, a sustentabilidade e o consumo colaborativo

Se você conversar com economistas que não se engessaram no tempo, a maioria vai dizer que o futuro passa pela economia colaborativa/ compartilhada. Em Corporação 2020 e Muito Além da Economia Verde, livros sensacionais e presentes na lista do top 10 de sustentabilidade aqui do blog, Pavan Sukhdev e Ricardo Abramovay, respectivamente, apontam o porquê dessa economia ser uma das principais soluções para o fim da sequência de crises e para a sustentabilidade.

Mas o que é exatamente a economia compartilhada?

De forma bem grosseira, é um modelo onde os produtos são compartilhados. A base do consumo está no uso ao invés da posse. Estou falando de compartilhamento de carro, bicicleta, hospedagem, moradia, alimento, roupa, informação, tecnologia... qualquer coisa. E pelo lado do modelo de negócios, significa uma empresa sair da manufatura e fazer a transição para um modelo de serviços.

O consumo colaborativo não é novo, pelo contrário, mas ele foi potencializado pelo uso da tecnologia e dos aplicativos do gênero, como o Uber, o Air BNB, o Bike Rio dentre outros. E ele, de cara, minimiza um problema crítico da sustentabilidade: a obsolescência programada. Mas não é só isso. Além de toda a cadeia da obsolescência (geração de resíduos, descarte incorreto, consumo excessivo de matéria prima etc), tem também outras questões que devem ser consideradas pela sustentabilidade ocasionada a partir da economia compartilhada.

Eu, como pesquisadora e apaixonada pela economia de baixo carbono, tenho alguns dados para exemplificar o impacto da economia compartilhada/colaborativa na sustentabilidade, na mobilidade, nas finanças e na remodelagem de negócios de velhas empresas.

Em 2013, apenas nos EUA, o mercado de compartilhamento de carros movimentou quase um bilhão de dólares. A tendência é que esse mercado chegue a mais de seis bilhões de dólares em 2020. Além do dinheiro circulante, esse tipo de compartilhamento vai evitar a compra de 1,2 milhões de automóveis nos próximos cinco anos e evitar a emissão de muitas toneladas de CO2 na atmosfera. Isso é louco. Estou falando de algo que vai acontecer praticamente amanhã!     
          
E aí pergunto para vocês: e aqui no Brasil, qual o tamanho do consumo colaborativo?

Uma pesquisa recente conduzida pela Market Analysis com 900 brasileiros adultos, apontou que 20% deles já ouviram falar ou leram alguma coisa sobre consumo compartilhado. Pouco. Muito pouco. O índice mais que dobra (42%) quando as pessoas estão no topo da pirâmide socioeconômica e tem alta escolaridade. Esperado. Mas ainda pouco para a facilidade no acesso à informação que esse grupo tem.

Um dado curioso é que no principal centro de consumo do país, a região sudeste, o índice de conhecimento sobre consumo colaborativo é abaixo da média nacional das cidades consultadas, sendo o Rio de Janeiro a capital com menor conhecimento (14%). Já Recife, uma das cidades pioneiras no compartilhamento de automóveis, o índice alcança 50%.

No Brasil, a economia compartilhada ainda está engatinhando. No caso de compartilhamento de carros, a expectativa é que se chegue a uma base de cerca de 200 mil clientes até 2018, o que é bem tímido em relação aos EUA e Europa. Além disso, para consolidarmos esse modelo de negócios, ainda há um longo caminho a ser percorrido, que vai desde superar barreiras de desconfiança, regulamentações governamentais e de mercado, até maturidade da sociedade, afinal, nosso país não é reconhecido como um grande prestador de serviços, não é mesmo?

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