Posso dizer que sou uma pessoa
pragmática. Muito até. Mas diria que sou uma pragmática com valor. No sentido
de que, corporativamente falando, o lucro tem de estar junto da
responsabilidade e de um propósito maior. E é basicamente essa a visão que construí
da sustentabilidade ao longo dos anos, desde quando resolvi trabalhar nisso. No
caso, é o inverso: não adianta falar de valor, responsabilidade e propósito
maior se nada disso estiver atrelado ao lucro. Porque senão estaremos falando de
utopia e não é o caso.
Por ter essa visão pragmática,
confesso que muitas pessoas, principalmente de responsabilidade social, (ainda)
olham torto para a minha visão de sustentabilidade e, consequentemente, para o
meu trabalho. Como se lucro fosse pecado. Não é, pelo contrário, é fundamental
e paga o salário de qualquer um que trabalha na iniciativa privada. Gente,
vamos atualizar o discurso. Coração bom é muito anos 90!
Enfim, nunca vi problema em
defender a sustentabilidade com um viés de retorno financeiro, ao contrário do
que acontece em quase todos os casos, quando as empresas usam a área para pura
e simples alavancagem de imagem. Nunca vi problema em trazer a linguagem do
pessoal de finanças. Compromisso com o dinheiro nunca me incomodou, talvez por
saber que ele não dá em árvore.
Acontece que mesmo provando por
AxB que a sustentabilidade é boa em retorno financeiro, as empresas têm
dificuldade de associá-la a investimento e dinheiro. Volto a
bater na tecla da mentalidade da maioria das pessoas que trabalha e gerencia a
área ser de responsabilidade social. Ou então, em muitos casos, a
sustentabilidade existe nas empresas porque elas apenas seguem o fluxo.
Confesso, ficar insistindo nisso
cansa.
A questão é que os anos passam, o
discurso é sempre o mesmo, as ações são sempre as mesmas e os resultados ridículos
são sempre os mesmos. A grande verdade é que a área de sustentabilidade,
sequer, precisava existir nas empresas, já que ela é transversal a todas as
outras áreas. No máximo umas duas, três pessoas fazendo controle e
monitoramento. E só.
Falo isso há uns 10 anos. Há seis
comprovadamente documentado no blog. Pergunto: as empresas são maduras para
isso? As empresas querem isso? Ou melhor: os profissionais de sustentabilidade
querem que isso aconteça? Sejamos realistas, o discurso e o plano de ação de sustentabilidade
das empresas parecem que estão em looping. Quando a gente acha que vai pra
frente e o negócio vai engrenar, volta pro ponto inicial.
Cansa, gente. Cansa muito. E eu,
sinceramente, cansei.
Desde 2013, por exemplo, já nem
falo tanto de estratégia e processos, mas do impacto da sustentabilidade no
modelo de negócios das empresas. Tipo, sair de uma empresa de manufatura e
virar uma empresa de serviços, de sair de uma empresa de petróleo e gas e
virar, de verdade, uma empresa de energia limpa, de sair de uma empresa
siderúrgica e virar uma empresa de reciclagem.
Sabe como eu sou vista? Quando consigo
me fazer entender, sou a alien que veio do futuro apocalíptico falar de
sustentabilidade. Por que uma empresa de “energia”, que tem mais de 90% do
investimento em petróleo, vai se preocupar com a economia de baixo carbono ser
um possível agente a comprometer o seu modelo de negócios? Por que uma empresa
de mineração teria de se preocupar menos com o esgotamento das minas e mais com
a logística reversa, se isso só vai impactar o seu negócio daqui a, sei lá,
cinquenta anos?
No ano passado escrevi que muitos
amigos meus que trabalham na área estavam frustrados e pensando em mudar de
ares. Vários já mudaram. E mudaram radicalmente. E isso vai ser uma constante
enquanto a sustentabilidade das empresas estiver na mão de quem não tem visão
de futuro e, principalmente, visão fora da caixa. Ou melhor, vai ser uma
constante enquanto o principal objetivo da área for fazer o presidente da
empresa, no dia do programa de voluntariado, tirar foto com criança com meleca
no nariz.
Não, obrigada.
Quer levar palestras gratuitas de sustentabilidade para sua cidade / empresa / organização / universidade: http://goo.gl/WRt8EM
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