segunda-feira, 4 de maio de 2015

O pragmatismo e a sustentabilidade nas empresas

Posso dizer que sou uma pessoa pragmática. Muito até. Mas diria que sou uma pragmática com valor. No sentido de que, corporativamente falando, o lucro tem de estar junto da responsabilidade e de um propósito maior. E é basicamente essa a visão que construí da sustentabilidade ao longo dos anos, desde quando resolvi trabalhar nisso. No caso, é o inverso: não adianta falar de valor, responsabilidade e propósito maior se nada disso estiver atrelado ao lucro. Porque senão estaremos falando de utopia e não é o caso.

Por ter essa visão pragmática, confesso que muitas pessoas, principalmente de responsabilidade social, (ainda) olham torto para a minha visão de sustentabilidade e, consequentemente, para o meu trabalho. Como se lucro fosse pecado. Não é, pelo contrário, é fundamental e paga o salário de qualquer um que trabalha na iniciativa privada. Gente, vamos atualizar o discurso. Coração bom é muito anos 90!

Enfim, nunca vi problema em defender a sustentabilidade com um viés de retorno financeiro, ao contrário do que acontece em quase todos os casos, quando as empresas usam a área para pura e simples alavancagem de imagem. Nunca vi problema em trazer a linguagem do pessoal de finanças. Compromisso com o dinheiro nunca me incomodou, talvez por saber que ele não dá em árvore.

Acontece que mesmo provando por AxB que a sustentabilidade é boa em retorno financeiro, as empresas têm dificuldade de associá-la a investimento e dinheiro. Volto a bater na tecla da mentalidade da maioria das pessoas que trabalha e gerencia a área ser de responsabilidade social. Ou então, em muitos casos, a sustentabilidade existe nas empresas porque elas apenas seguem o fluxo.

Confesso, ficar insistindo nisso cansa.

A questão é que os anos passam, o discurso é sempre o mesmo, as ações são sempre as mesmas e os resultados ridículos são sempre os mesmos. A grande verdade é que a área de sustentabilidade, sequer, precisava existir nas empresas, já que ela é transversal a todas as outras áreas. No máximo umas duas, três pessoas fazendo controle e monitoramento. E só.

Falo isso há uns 10 anos. Há seis comprovadamente documentado no blog. Pergunto: as empresas são maduras para isso? As empresas querem isso? Ou melhor: os profissionais de sustentabilidade querem que isso aconteça? Sejamos realistas, o discurso e o plano de ação de sustentabilidade das empresas parecem que estão em looping. Quando a gente acha que vai pra frente e o negócio vai engrenar, volta pro ponto inicial.

Cansa, gente. Cansa muito. E eu, sinceramente, cansei.

Desde 2013, por exemplo, já nem falo tanto de estratégia e processos, mas do impacto da sustentabilidade no modelo de negócios das empresas. Tipo, sair de uma empresa de manufatura e virar uma empresa de serviços, de sair de uma empresa de petróleo e gas e virar, de verdade, uma empresa de energia limpa, de sair de uma empresa siderúrgica e virar uma empresa de reciclagem.

Sabe como eu sou vista? Quando consigo me fazer entender, sou a alien que veio do futuro apocalíptico falar de sustentabilidade. Por que uma empresa de “energia”, que tem mais de 90% do investimento em petróleo, vai se preocupar com a economia de baixo carbono ser um possível agente a comprometer o seu modelo de negócios? Por que uma empresa de mineração teria de se preocupar menos com o esgotamento das minas e mais com a logística reversa, se isso só vai impactar o seu negócio daqui a, sei lá, cinquenta anos?

No ano passado escrevi que muitos amigos meus que trabalham na área estavam frustrados e pensando em mudar de ares. Vários já mudaram. E mudaram radicalmente. E isso vai ser uma constante enquanto a sustentabilidade das empresas estiver na mão de quem não tem visão de futuro e, principalmente, visão fora da caixa. Ou melhor, vai ser uma constante enquanto o principal objetivo da área for fazer o presidente da empresa, no dia do programa de voluntariado, tirar foto com criança com meleca no nariz.

Não, obrigada.

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