quinta-feira, 21 de maio de 2015

As dificuldades de se por em prática o consumo consciente

Um dia desses estava pensando na questão do consumo consciente. Não do ponto de vista do produto, do uso, do descarte, da cadeia produtiva, dos processos... mas do ponto de vista, digamos, filosófico.

Para a maioria das pessoas, consumir é um prazer, para alguns outros é uma válvula de escape. Para todos esses, o marketing é uma ferramenta poderosa. Na verdade, o marketing é uma ferramenta poderosa para qualquer pessoa. Mesmo aquelas que não encaram o consumo como um hábito, mas uma mera necessidade.

E é sobre isso que quero falar. E eu quero falar sobre mim. Não sou uma pessoa consumista. Não mesmo. E isso não tem nada a ver com a minha ligação com a sustentabilidade, mas com criação baseada em valores e nas próprias escolhas que fiz. E seria assim trabalhando em qualquer área que fosse. 

Por exemplo: não tenho carro. Primeiro, não o vejo como sinal de status. Segundo, não preciso. Para mim carro é só um meio de transporte que se torna inútil pelo fato de eu morar do lado de uma estação de metrô e trabalhar do lado de uma estação de metrô. Seria burrice e perda de dinheiro ter um. Não preciso ter 50 vestidos, 30 calças, 80 blusas. Só uso uma coisa de cada vez. E comprar para deixar guardado não é a minha vibe.

Quando se ganha pouco ou não se tem muito para gastar, manter uma disciplina de consumo consciente é fácil. Ou melhor, é obrigatório. Mas e quando não é o caso? Eu respondo: a pressão é enorme. E vem de todos os lados. Da publicidade, do marketing, dos amigos, da família, do banco...

Julianna, você tem um iPhone 4, por que não troca o seu celular? Para o que faço com celular, o que eu tenho me atende. Julianna, já te vi com essa roupa três vezes esse mês. Por que não renova o seu guarda roupa? Porque não comprei roupa para usar uma vez. Julianna, todos os seus amigos têm carro. Não acha que está na hora de comprar o seu? Minha vontade de ter carro é tanta que minha carteira está vencida há dois anos e não tenho a menor pretensão de renová-la.

Não, meus caros, não fiz voto de pobreza. Muito longe disso. E também não sofro nem sinto dor quando gasto dinheiro. Apenas não gasto se não houver necessidade. Isso deveria parecer simples, mas não é. Quando você tem dinheiro para gastar e não gasta, o mundo simplesmente não entende a sua opção.

Você tem um bom salário, você não tem dívidas, você tem dinheiro guardado no banco para todas as emergências e planos B possíveis. Você tem um patrimônio que julga necessário e mesmo assim o dinheiro sobra no final do mês. Mas você não se rende aos apelos do marketing, à sedução da publicidade, ao apelo do seu circulo de convívio, que acha você alternativo demais.

As pessoas acham que você não se diverte, que não tem vida social, que é uma pão dura contumaz e está deixando a vida passar. Como assim estou deixando a vida passar apenas porque optei por não ser consumista? Onde que comprar é aproveitar a vida? Pelo que eu me lembre, os melhores momentos da minha vida estão relacionados a experiências, não coisas. E nisso, meus caros, estou muito bem, obrigada!

Repito, não fiz voto de pobreza, mas escolhi não ser refém do dinheiro. E quando fiz essa opção, na verdade, me dei um passaporte para a liberdade. Porque ao não me guiar pelos hábitos de consumo que o mundo quer, não fico presa a um lugar, a um emprego frustrante e, muito menos, a pessoas entediantes. E mais do que pensar em menor impacto no meio ambiente ou responsabilidade financeira, digo que isso é sustentabilidade para a alma. Não é fácil, precisa de disciplina, mas recomendo a todos a tentativa.

Um comentário:

  1. Texto excelente, muito bom encontrar mais alguém que pensa assim! Me achava uma extraterrestre por ter sempre dinheiro no banco, mesmo sendo estudante!

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