É imperativo das empresas dizerem que promove a diversidade em seu ambiente corporativo da mesma forma que é
imperativo dizerem que sustentabilidade está no DNA. Se isso acontece de verdade,
não faço a mínima ideia. Quer dizer, em algumas empresas eu até sei se é só bla
bla bla ou se realmente elas trabalham em prol de sustentabilidade e
diversidade. Mas a questão é que, discurso ou prática, todas dizem que fazem.
TODAS.
Independente das que só falam que
promovem a diversidade, pô-la em prática não apenas é uma das bases da
sustentabilidade, como também traz uma série de benefícios para a empresa. A começar
por pessoas com diferentes histórias de vida, diferentes realidades, diferentes
formas de encarar a vida e diferentes formas de encarar os mesmos problemas.
Para uma pessoa branca como eu,
por exemplo, a simples cor da pele pode não significar nada. Mas pega um negro
da mesma classe social, com o mesmo padrão de vida, público-alvo das mesmas
marcas. Veja se a história de vida dele não é influenciada de alguma forma pela
cor da sua pele. E veja se isso não pode impactar a forma como ele trabalha. E
gente, isso é bom!
Não sei se vocês sabem, mas assim
que me formei, eu passei em um programa de trainee de uma grande empresa. Na época
era o maior programa e o mais disputado (hoje não faço ideia do desejo dos
jovens em participar desse tipo de processo seletivo). E talvez por conta da
concorrência, os filtros tinham de ser bem altos. Faculdade de primeira linha,
inglês fluente (coisa nunca necessária enquanto trabalhei lá), intercâmbio...
Sabe o resultado da alta concorrência
e dos filtros de corte? Trinta robozinhos todos os anos eram selecionados e
treinados para assumirem os cargos de liderança em um futuro próximo. Não, isso
não é sustentável. E não, gente, isso não é bom.
Esqueçam o nosso colapso
econômico dos últimos anos e olhemos para uma década atrás. O que aconteceu? Uma
classe então pobre e invisível para o mercado emergiu, com uma gana nunca vista
para o consumo. Durante um bom tempo as empresas bateram a cabeça para aprender
a vender para esse público. Até hoje acho que poucas aprenderam.
Mas o que isso significou? Que os
robozinhos com a mesma história de vida, com a mesma realidade social e
econômica, com a mesma cor, tiveram de descer do salto e aprender a vender para
pobre. E se ferraram. Dez anos se passaram e a diversidade nas empresas continua
mínima. Quando muito, cumpre-se requisito legal. E às duras penas.
Acontece que enquanto vivíamos
numa pajelança econômica, vender era muito fácil, para quem quer que fosse. Só que
agora, com a crise instalada, será preciso muito mais do que um marketing
padrão para vender. Aliás, será preciso muito mais que um bom marketing para
vender. Será preciso ter bons processos. E bons processos não são feitos por
robozinhos.
E aí pergunto para as empresas: onde
estão os negros? Onde estão as mulheres líderes? Onde estão os gays assumidos? Onde
estão os deficientes? Onde estão os jovens que não moram na Zona Sul?