quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Por que a área de suprimentos é tão importante para a sustentabilidade?

Se a gente pensar na sustentabilidade do ponto de vista de processos, a área mais crítica e mais importante é, sem dúvidas, a de suprimentos. Ok, ok, ok, a área de operações também é crítica, também é importante (como todas, aliás), mas a capacidade de interferência e controle da empresa é muito menor na área de suprimentos e isso a torna fundamental para a sustentabilidade. Porque o risco de dar problema é muito grande. 

Além do alto risco e baixo controle, dependendo do seu tamanho e do seu negócio, o número e o tipo de fornecedores torna a área extremamente complexa. Se olharmos para trás, salvo raríssimas exceções, os maiores escândalos/problemas de sustentabilidade de grandes empresas não aconteceram com elas diretamente, mas por meio de algum fornecedor. Sério que alguém acreditou, por exemplo, que Nike faria uso de mão de obra infantil? 

Não sei se todos que leem este blog são familiarizados com o trabalho de suprimentos, mas uma das metas da área é sempre a redução de custos. Sempre. Não tem uma que eu conheça que não haja assim. Mas a forma como o suprimentos de cada empresa encara a redução de custos varia bastante. Só que o como lidar impacta diretamente a sustentabilidade. 

Tem empresa que combina custo x capacidade produtiva ou experiência da empresa em fornecer o produto ou serviço. Tem empresa que cria requisitos-chave, pré-seleciona os fornecedores que cumprem esses requisitos e a partir daí trabalha com o menor preço. Mas tem empresa, e aí isso é crítico no setor público, que a área de suprimentos trabalha simplesmente compras pelo menor preço. Ponto. 

(P.S. Só lembrando que desde dezembro a justiça proíbe de ser divulgada a lista de empresas que fazem uso de mão de obra análoga à escrava. Ou seja, documentação em dia, que já significa pouco, agora significa menos ainda.) 

Só que simplesmente comprar pelo menor preço pode ter um custo muito alto que é, inicialmente, invisível e vai muito além do dinheiro, pois mexe com a reputação. O conselho que eu dou para qualquer empresa, para qualquer pessoa é: sempre desconfie quando algo está muito barato. O custo Brasil é imenso e quando o cinto aperta, tenham certeza, a última a cair vai ser a margem de lucro dos donos de empresa/fornecedores. 

Além do risco na escolha de um fornecedor, a área de suprimentos lida com a complexidade de se monitorar uma cadeia por muitas vezes extensa, onde, além da quantidade, cada fornecedor tem uma visão própria sobre direitos humanos, corrupção, meio ambiente, responsabilidade social e, até mesmo, requisitos legais, que é o básico do básico. E uma visão própria sobre sustentabilidade. 

O conjunto de muitas visões próprias colocam os milhares de fornecedores em momentos, maturidade e exposição ao riscos distintos, o que dificulta bastante o trabalho da área de suprimentos e da área de sustentabilidade.

A solução que vejo muitas empresas tomando, sinceramente, não sei se adianta de muita coisa. A maioria faz treinamento para fornecedores. Acho muito simplório e não garante absolutamente nada. E se a empresa tiver 2 mil, 5 mil fornecedores, geral vai ser treinado ou a solução vai ser entubar um e-learning para todo mundo (afinal, reduzir custos é preciso)? 

Outras empresas, um pouco mais avançadas na estratégia de suprimentos, colocam requisitos de sustentabilidade como critério de seleção. É o início, é importante, mas o problema não está aí, está no monitoramento e controle. Não sei se fazer auditoria seria viável financeiramente ou se o caminho é exigir certificação de tudo o que for possível. Por isso pergunto: como as empresas onde vocês trabalham lidam com a questão da sustentabilidade na cadeia de fornecedores?

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