quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Com o preço do petróleo caindo, qual o futuro dos biocombustíveis?

Por mais que há muito se falem no pico do petróleo, no esgotamento das reservas e no custo cada vez mais alto de extração, a verdade é que o mundo está longe de estar preparado para o fim do petróleo ou para usá-lo com menos frequência. No ano passado, finalmente, o shale entrou no mercado e com isso o preço do barril do ouro negro foi para o ralo. Acontece que do ponto de vista da sustentabilidade, nem em sonho o shale é a melhor saída. Mas é barato.

Por outros motivos que não têm a ver com cenário externo do petróleo, o setor de etanol no Brasil agoniza. E mesmo agonizando, o país conduz pesquisas sobre biocombustível de segunda geração da cana. O que seria isso, afinal? Seria, fundamentalmente, produzir etanol com mais eficiência, já que partes da cana até então não utilizadas, podem virar combustível. Como o seu bagaço, por exemplo.

Particularmente, nem sou entusiasta da cana como combustível, e os motivos são inúmeros: desde a cadeia produtiva ser bem controversa, do tipo que usa trabalho análogo ao escravo na plantação, até a questão de desmatamento, monocultura, agrotóxicos e afins. Mas mais do que isso, não sou fã porque já existe pesquisa e tecnologia suficientes para produzir um biocombustível em escala comercial ainda mais limpo e que não tenha base agrícola.

Acho que já citei aqui timidamente sobre o que eu acho ser o biocombustível do futuro: algas, algas, algas (Solazyme, ó, só amor, viu?) As vantagens vão do altíssimo teor energético a áreas infinitamente menores de cultivo, zero desmatamento, absorção de CO2 durante o seu crescimento etc. Sem contar que a alga dá aos borbotões e só é preciso tanques com água, luz e gás carbônico.

O avanço da tecnologia nos últimos anos ajudou a impulsionar o mercado de combustível de algas, tornando-o mais competitivo e mais barato. E aí vem o problema. Mais competitivo quando o barril de petróleo estava acima dos 100 dólares. Acontece que o preço do barril de petróleo despencou e o shale entrou no jogo. E aí que o mundo inteiro entrou em guerra com a OPEP e eu, uma defensora fervorosa da economia de baixo carbono, pergunto: diante desse cenário, como fica o mercado dos biocombustíveis?

Um sheik que eu não me lembro o nome, há vários anos soltou a pérola, que, para mim, está muito mais para mantra: não foi preciso acabar a pedra para que o mundo saísse da idade da pedra. Assim como não é preciso acabar com o petróleo para que o mundo saia da era do petróleo. Concordo totalmente com a afirmação e digo que o mundo de hoje está muito mais complexo do que as demandas que o petróleo podem atender.

Infelizmente, a nossa visão ainda é de muito curto prazo e o dinheiro, no final das contas, é o que acaba prevalecendo. Some essa lógica perversa a um câncer do século passado, ainda incurável nos dias de hoje: o poder do lobby. Lembrando que a indústria do petróleo é altamente subsidiada no mundo inteiro, o que muitas vezes coloca o preço da gasolina artificialmente barato, afastando com a justificativa econômica qualquer tentativa de uso de energia sustentável em escala comercial.

Acontece que o mundo já vem dando sinais da necessidade de uma transição para a economia de baixo carbono. Muitas sociedades estão amadurecendo e já cobram soluções com menos petróleo. Só que, muito menos utópico que sociedades maduras, as mudanças climáticas são um fantasma que nos assombra há bastante tempo e de forma cada vez mais crítica. Se mesmo com o problema, já fazíamos muito pouco, temo sobre o que vai ser feito com essa reviravolta de preços.

2 comentários:

  1. Olá Julianna, meu nome é Siddharta Junior....parabéns pelo artigo... mto interessante..
    Apenas uma ponto qto ao trabalho escravo no plantio de cana...
    Hj esta atividade de plantio em sua maior parte é mecanizada... exite o trabalho manual, mas reduziu mto...este processo hj está basicamente mecanizado..

    Parabéns pelo artigo!!

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  2. Muito bom!

    http://www.valdeirvieira.com/melodia-condominio-e-lazer/

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