Por mais que há muito se falem no
pico do petróleo, no esgotamento das reservas e no custo cada vez mais alto de
extração, a verdade é que o mundo está longe de estar preparado para o fim do
petróleo ou para usá-lo com menos frequência. No ano passado, finalmente, o
shale entrou no mercado e com isso o preço do barril do ouro negro foi para o
ralo. Acontece que do ponto de vista da sustentabilidade, nem em sonho o shale
é a melhor saída. Mas é barato.
Por outros motivos que não têm a
ver com cenário externo do petróleo, o setor de etanol no Brasil agoniza. E
mesmo agonizando, o país conduz pesquisas sobre biocombustível de segunda
geração da cana. O que seria isso, afinal? Seria, fundamentalmente, produzir
etanol com mais eficiência, já que partes da cana até então não utilizadas, podem
virar combustível. Como o seu bagaço, por exemplo.
Particularmente, nem sou entusiasta
da cana como combustível, e os motivos são inúmeros: desde a cadeia produtiva
ser bem controversa, do tipo que usa trabalho análogo ao escravo na plantação,
até a questão de desmatamento, monocultura, agrotóxicos e afins. Mas mais do
que isso, não sou fã porque já existe pesquisa e tecnologia suficientes para
produzir um biocombustível em escala comercial ainda mais limpo e que não tenha
base agrícola.
Acho que já citei aqui
timidamente sobre o que eu acho ser o biocombustível do futuro: algas, algas,
algas (Solazyme, ó, só amor, viu?) As vantagens vão do altíssimo teor energético a áreas infinitamente
menores de cultivo, zero desmatamento, absorção de CO2 durante o seu crescimento
etc. Sem contar que a alga dá aos borbotões e só é preciso tanques com água,
luz e gás carbônico.
O avanço da tecnologia nos últimos
anos ajudou a impulsionar o mercado de combustível de algas, tornando-o mais
competitivo e mais barato. E aí vem o problema. Mais competitivo quando o
barril de petróleo estava acima dos 100 dólares. Acontece que o preço do barril
de petróleo despencou e o shale entrou no jogo. E aí que o mundo inteiro entrou
em guerra com a OPEP e eu, uma defensora fervorosa da economia de baixo
carbono, pergunto: diante desse cenário, como fica o mercado dos
biocombustíveis?
Um sheik que eu não me lembro o
nome, há vários anos soltou a pérola, que, para mim, está muito mais para
mantra: não foi preciso acabar a pedra para que o mundo saísse da idade da
pedra. Assim como não é preciso acabar com o petróleo para que o mundo saia da
era do petróleo. Concordo totalmente com a afirmação e digo que o mundo de hoje
está muito mais complexo do que as demandas que o petróleo podem atender.
Infelizmente, a nossa visão ainda
é de muito curto prazo e o dinheiro, no final das contas, é o que acaba
prevalecendo. Some essa lógica perversa a um câncer do século passado, ainda
incurável nos dias de hoje: o poder do lobby. Lembrando que a indústria do
petróleo é altamente subsidiada no mundo inteiro, o que muitas vezes coloca o
preço da gasolina artificialmente barato, afastando com a justificativa econômica
qualquer tentativa de uso de energia sustentável em escala comercial.
Acontece que o mundo já vem dando
sinais da necessidade de uma transição para a economia de baixo carbono. Muitas
sociedades estão amadurecendo e já cobram soluções com menos petróleo. Só que,
muito menos utópico que sociedades maduras, as mudanças climáticas são um
fantasma que nos assombra há bastante tempo e de forma cada vez mais crítica. Se
mesmo com o problema, já fazíamos muito pouco, temo sobre o que vai ser feito
com essa reviravolta de preços.