Quando se fala em fazer a transição de uma economia baseada em combustíveis fósseis para uma economia de baixo carbono, duas questões-chave vêm à tona: o pico do petróleo e as mudanças climáticas. São duas premissas polêmicas e relativamente incertas, mas que podem impactar as empresas do setor de petróleo e gás em médio e longo prazo.
A economia de baixo carbono ganhou força a partir da COP-3, em 1997, com a assinatura do Protocolo de Kyoto pela maioria dos países desenvolvidos. O conceito se fundamenta numa economia onde os setores produtivos minimizam as emissões de gás carbônico através de eficiência e inovação de processos e na utilização de recursos energéticos de matriz renovável.
No que diz respeito a mudanças climáticas, especialistas já apontam o aumento de eventos climáticos extremos, que desencadeiam a perda de biodiversidade e impactos profundos em alguns setores da economia, principalmente o de seguros. Segundo o IPCC, os aumentos globais de CO2 se devem principalmente pelo uso de combustíveis fósseis, que continuará respondendo por quase 80% da energia global até 2040.
De acordo com o Dr. Fatih Birol, economista-chefe da IEA (International Energy Agency), se as ações coordenadas para limitar o aumento da temperatura global a 2°C derem certo, a demanda mundial por petróleo em 2030 será de 89 milhões de barris diários. Caso nenhuma medida seja tomada, a demanda será de 105 milhões de barris por dia.
Em 2010, um relatório divulgado pela Força-Tarefa da Indústria Britânica Sobre o Pico do Petróleo e Segurança da Energia recomendava a aceleração imediata da “revolução do transporte verde”, a introdução da tecnologia de baixo carbono e testes com biocombustíveis sustentáveis para veículos particulares e também para a rede pública de transporte.
Devido à alta dependência do petróleo no setor de transporte, especialistas afirmam ser fundamental a produção de carros eficientes aliada ao uso de biocombustíveis. Em 2009 a produção de biocombustível de 1ª geração ultrapassou 100 bilhões de litros. Isso significou a substituição diária de 1,15 milhão de barris de petróleo, além de eliminar 215 milhões de toneladas de emissões de gases do efeito estufa. De acordo com a FAO, estima-se que em 2022 a produção alcance 168 bilhões de litros de etanol e 41 bilhões de litros de biodiesel.
Quando se fala em regiões referência em economia de baixo carbono, a Europa, principalmente a Comunidade Europeia, larga na frente. Além de regulamentações governamentais mais restritivas, a própria população é mais consciente em relação às questões de sustentabilidade.
Na Holanda, por exemplo, um país com mais bicicletas que habitantes, esse mercado movimenta 1,4 bilhões de dólares por ano. Já o governo alemão estabeleceu a meta de encerrar a geração de energia nuclear e reduzir a geração de energia termoelétrica. O plano oficial é que em 2050, 80% da matriz seja oriunda de matriz renovável, principalmente eólica, solar e biomassa.
Seja por fatores ambientais, por oportunidades de negócios, seja para minimizar a dependência do petróleo, ou mesmo para retardar o seu pico, a economia de baixo carbono vem, lentamente, entrando na pauta da política econômica global. A grande pergunta é o papel que as empresas de petróleo e gás terão a partir dessa nova configuração.
Segundo o especialista em petróleo Robert L Hirsch, por conta do pico do petróleo, uma empresa do setor precisará de 10 anos ou mais para fazer uma transição de modelo de negócios. No entanto, a questão ganha contorno mais importante quando se adiciona o fator climático, a eficiência da indústria automobilística, o fortalecimento dos biocombustíveis, principalmente os de segunda geração, e a agricultura orgânica.
Não se espera que devido à economia de baixo carbono e a maturidade das sociedades o petróleo deixe de ser consumido ou que uma empresa do setor deixe de existir. Mas é fato que elas deverão remodelar seus negócios de forma que outras fontes energéticas façam parte de seu portfolio muito além do que acontece hoje. A pergunta é quando irá acontecer, já que o tempo, neste caso, é um fator crítico.
Este texto foi baseado na sinopse do artigo “Perspectivas para o setor de petróleo e gás numa economia de baixo carbono”, que foi submetido e aprovado para a Rio Oil & Gas 2014. Para ler o artigo na íntegra, acesse: http://goo.gl/hv9e2E