Já escrevi aqui em algumas
oportunidades a respeito da sustentabilidade dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. A menos de
dois anos do maior evento esportivo do planeta, volto ao tema. Uma tecla que
sempre bati sobre esse assunto, é o potencial de mudança positiva que os Jogos
são capazes (e devem) de proporcionar para as cidades-sedes.
Temos grandes exemplos de mudança
positiva impulsionados pelos Jogos, como Barcelona 1992 e Sidney
2000. Mas aí que há cinco anos a oportunidade veio para nossa casa. E a dúvida
é: mais do que simplesmente realizar um evento inesquecível, como fazer do Rio
2016 um marco para a sustentabilidade do Rio de Janeiro e do país?
Uma coisa que não é clara para a
maioria é o escopo do Comitê Organizador e o do governo. A grosso modo, a
infraestrutura necessária é responsabilidade governamental (dividida entre as
três esferas). O que confunde muito as pessoas é que muito do que está sendo
feito são obras que já estavam previstas para a cidade (há muito ou pouco
tempo) e que em algum momento seriam tiradas do papel. Os Jogos deram, apenas,
outro senso de urgência para a coisa.
Para facilitar o entendimento,
quando falo das obras de infraestrutura, estou falando de linhas de BRT,
expansão do metrô, melhorias na Baia de Guanabara, obras no aeroporto etc. Para
o Comitê Organizador, cabe a responsabilidade do evento propriamente dito. Ou
seja, toda a operação dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
Mesmo sem a principal
responsabilidade no que diz respeito a grande parte do legado físico para a
cidade, o Comitê Organizador tem papel-chave como um agente de mudanças. E aí a
sustentabilidade vira protagonista. Não sei se sabem, mas para a realização dos
Jogos, o Comitê Rio 2016 precisará adquirir/alugar 30 milhões de itens. Vai
desde o aluguel de um transatlântico, até a compra de 40 mil camas.
Imagina o impacto desses 30
milhões de itens no meio ambiente. Agora imagina inserir critérios de
sustentabilidade na aquisição desses itens. Imaginou? O Rio 2016 faz isso. Mas
Julianna, onde está o agente de mudanças nisso? Ora, meu caro, pergunto a você:
de que adianta colocar sustentabilidade como fator de contratação e não ter
fornecedores qualificados para tal?
Só para ter uma ideia, todo item
com madeira comprado pelo Comitê, obrigatoriamente, tem de possuir a
certificação de cadeia de custódia. Isso quer dizer que não apenas a extração é
sustentável, mas todo o processo até chegar ao consumidor final. A realidade é
que hoje no mercado não existe fornecedores suficientes que possam atender a
demanda de madeira certificada para os Jogos. Por isso o Rio 2016 também faz um trabalho de
desenvolvimento de fornecedores, auxiliando-os na obtenção dessa e de outras
certificações necessárias.
Imagina o que significa para uma
pequena empresa ter uma certificação do FSC, por exemplo? Significa que ela se
torna não apenas um fornecedor em potencial para os Jogos, mas também amplia
seu mercado para clientes que fazem a mesma exigência. E outra, com o potencial
de compras do Comitê, o próprio mercado acaba se forçando a ir para um nível
acima. Então, querido leitor, isso não é uma mudança?
Há muitas outras ações que permitem
ao Rio 2016 se posicionar como agente catalizador de mudanças. Ainda nas exigências de
compras, elas se estendem à certificação de frutos do mar e pescado, à carne 0%
oriunda de desmatamento, à legislação, a questões de trabalho infantil, ao ciclo de vida das matérias primas etc. Mas não fica restrito a isso. Tem uma infinidade de atividades que o Rio 2016 faz para os Jogos, mas que ficará de legado e aprendizado para a cidade, para o país e para as pessoas. Só que isso é papo para outro post.
Enfim, poderia ficar escrevendo
aqui por muito, muito tempo. Mas não é o objetivo. Sem contar que muito da
sustentabilidade do Rio 2016 só será efetivada e percebida com a proximidade
dos Jogos. Ainda temos uns 630 dias para falar disso.