segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A sustentabilidade dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos como catalizadora de mudanças


Já escrevi aqui em algumas oportunidades a respeito da sustentabilidade dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. A menos de dois anos do maior evento esportivo do planeta, volto ao tema. Uma tecla que sempre bati sobre esse assunto, é o potencial de mudança positiva que os Jogos são capazes (e devem) de proporcionar para as cidades-sedes.

Temos grandes exemplos de mudança positiva impulsionados pelos Jogos, como Barcelona 1992 e Sidney 2000. Mas aí que há cinco anos a oportunidade veio para nossa casa. E a dúvida é: mais do que simplesmente realizar um evento inesquecível, como fazer do Rio 2016 um marco para a sustentabilidade do Rio de Janeiro e do país?


Uma coisa que não é clara para a maioria é o escopo do Comitê Organizador e o do governo. A grosso modo, a infraestrutura necessária é responsabilidade governamental (dividida entre as três esferas). O que confunde muito as pessoas é que muito do que está sendo feito são obras que já estavam previstas para a cidade (há muito ou pouco tempo) e que em algum momento seriam tiradas do papel. Os Jogos deram, apenas, outro senso de urgência para a coisa.

Para facilitar o entendimento, quando falo das obras de infraestrutura, estou falando de linhas de BRT, expansão do metrô, melhorias na Baia de Guanabara, obras no aeroporto etc. Para o Comitê Organizador, cabe a responsabilidade do evento propriamente dito. Ou seja, toda a operação dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Mesmo sem a principal responsabilidade no que diz respeito a grande parte do legado físico para a cidade, o Comitê Organizador tem papel-chave como um agente de mudanças. E aí a sustentabilidade vira protagonista. Não sei se sabem, mas para a realização dos Jogos, o Comitê Rio 2016 precisará adquirir/alugar 30 milhões de itens. Vai desde o aluguel de um transatlântico, até a compra de 40 mil camas.

Imagina o impacto desses 30 milhões de itens no meio ambiente. Agora imagina inserir critérios de sustentabilidade na aquisição desses itens. Imaginou? O Rio 2016 faz isso. Mas Julianna, onde está o agente de mudanças nisso? Ora, meu caro, pergunto a você: de que adianta colocar sustentabilidade como fator de contratação e não ter fornecedores qualificados para tal?

Só para ter uma ideia, todo item com madeira comprado pelo Comitê, obrigatoriamente, tem de possuir a certificação de cadeia de custódia. Isso quer dizer que não apenas a extração é sustentável, mas todo o processo até chegar ao consumidor final. A realidade é que hoje no mercado não existe fornecedores suficientes que possam atender a demanda de madeira certificada para os Jogos. Por isso o Rio 2016 também faz um trabalho de desenvolvimento de fornecedores, auxiliando-os na obtenção dessa e de outras certificações necessárias.

Imagina o que significa para uma pequena empresa ter uma certificação do FSC, por exemplo? Significa que ela se torna não apenas um fornecedor em potencial para os Jogos, mas também amplia seu mercado para clientes que fazem a mesma exigência. E outra, com o potencial de compras do Comitê, o próprio mercado acaba se forçando a ir para um nível acima. Então, querido leitor, isso não é uma mudança?

Há muitas outras ações que permitem ao Rio 2016 se posicionar como agente catalizador de mudanças. Ainda nas exigências de compras, elas se estendem à certificação de frutos do mar e pescado, à carne 0% oriunda de desmatamento, à legislação, a questões de trabalho infantil, ao ciclo de vida das matérias primas etc. Mas não fica restrito a isso. Tem uma infinidade de atividades que o Rio 2016 faz para os Jogos, mas que ficará de legado e aprendizado para a cidade, para o país e para as pessoas. Só que isso é papo para outro post.

Enfim, poderia ficar escrevendo aqui por muito, muito tempo. Mas não é o objetivo. Sem contar que muito da sustentabilidade do Rio 2016 só será efetivada e percebida com a proximidade dos Jogos. Ainda temos uns 630 dias para falar disso.

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