Intrigada com os recentes
desdobramentos da operação Lava Jato, que culminaram com a prisão dos
corruptores, me senti tentada a procurar o relatório de sustentabilidade da
Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, IESA, Mendes Junior, Queiroz
Galvão, OAS e UTC para ver o que era falado sobre corrupção. Porque,
convenhamos, ler missão, visão e valores era piada pronta.
Pois bem, sanei a tentação e,
confesso, fiquei chocada. Camargo Corrêa, IESA, Queiroz Galvão, Engevix, Galvão
Engenharia, Mendes Junior, e UTC, nenhuma, eu disse NENHUMA delas possui
relatório de sustentabilidade. A única que possui é a OAS e mesmo assim só
publica de dois em dois anos.
E lá fui ver o relatório de
sustentabilidade da OAS. O que tem disponível é o de 2011/2012. Quando fui no
índice remissivo, até encontrei a menção aos indicadores SO2, SO3 e SO4, que
tratam de corrupção. Achei estranho não ter a indicação das páginas
correspondentes, mas como Deus inventou o control + F, digitei a palavra
corrupção e, pasmem, ela é citada 4 vezes em todo relatório. O problema é que
ela só é citada no índice remissivo. Ou seja, não tem absolutamente nada no
relatório que trate do tema.
E aí não satisfeita com a
situação, fui olhar o link relativo à sustentabilidade/responsabilidade social/ambiental
da página dessas empresas. Coisa linda de Deus. #SQN
Camargo Corrêa:
Tem um instituto lindo de morrer, mas sustentabilidade e transparência que é
bom, necas. Minto, sustentabilidade é baseado em três pilares: agenda
climática, gestão de carbono e prêmio de inovação sustentável. Juro, achava que
isso era meio ambiente. Inclusive, achava que agenda climática e gestão de
carbono era um consequência do outro.
IESA Oil & Gas:
O link de gestão social se resume a apresentar os balanços sociais da empresa,
sendo que a última edição do relatório data de 2011. O link QSMSRS, que eu
chuto ter a ver com meio ambiente, ao clicar aparece uma página em branco. Na IESA Projetos &
Equipamentos, no link de gestão social, o último balanço data de 2012 e o
que eles chamam de Fundação Inepar é apenas o que nas empresas normalmente se
convenciona a ser a área de benefícios. Ah, também tem link para o site de
voluntariado deles. O link de sustentabilidade é nada mais que as ações
ambientais da empresa, sendo que com exceção do programa de desperdício de
alimentos (que dá números de 2011), o resto nada mais é que cumprimento de
requisito legal.
Queiroz
Galvão: Não apresenta nada de gestão, apenas projetos. Destaco o patrocínio
à Orquestra Sinfônica Brasileira (isso é cultura, não RSE e, muito menos,
sustentabilidade. Sem contar que é lei Rouanet; sai de graça pra eles!) e
reforma do Parque Zoobotânico (que, curiosamente, está dentro de meio
ambiente!)
Engevix:
O link de responsabilidade socioambiental é subdividido em Pacto Global (que
não significa absolutamente nada, já que, sem desmerecer o esforço da ONU, a
participação é a coisa mais simplória e fácil de ser obtida. E longe de
significar sustentabilidade), Instituto Engevix (projetos sociais da empresa),
Ambiental (os destaques são a ISO 14001 e o Prêmio Fritz Muller ganho em 2007)
e Cultural (projetos bancados pela lei Rouanet, ou seja, a empresa tem o nome
estampado como patrocinador, mas o dinheiro é governamental).
Galvão Engenharia:
Não existe, sequer um link no site que trate de sustentabilidade,
responsabilidade social ou ambiental. O máximo que se consegue é um link para o
código de ética dentro da seção de governança corporativa. No código de ética
eles mencionam os pilares sociedade, comunidades e meio ambiente, tudo isso em
uma única página e com letra grande. O documento tem 11 páginas e a palavra
corrupção foi citada uma única vez, já nas considerações finais e no seguinte
contexto: “O combate à pirataria, sonegação, fraude e corrupção são
fundamentais para a formação de um ambiente de trabalho saudável e uma
sociedade mais justa.” Ponto.
Mendes
Junior: O conteúdo de responsabilidade social da empresa se resume a meia
página, uma foto grande e fala dos três pilares que eu não entendi muito bem,
mas são recursos financeiros (doação de dinheiro para as instituições),
voluntariado e apoio a comunidades (ela diz que apoia as comunidades do seu
entorno. Eu digo que ela apenas cumpre a lei).
UTC: De todas as
empresas, acredito que é a que tem a disposição de informações mais próxima do
que a realidade demanda. Gaba-se pelas certificações SA 8000 e ISO 26000. Falta
alguém avisar que, do ponto de vista da sustentabilidade, essas certificações
não são praticamente nada. Dá bastante
espaço para os projetos sociais. No link de QSMS, o espaço dado ao meio
ambiente é pequeno e, mais uma vez, ressalta a posse da certificação ISO 14001.
Enfim, independente dos
escândalos recentes, essas são empresas que trabalham diretamente com o setor
de construção e/ou petróleo e gás. São dois setores altamente nocivos para a
sustentabilidade de onde se espera uma atuação completamente diferente do que essas
empresas apresentam para o seu público.
E se a falta de compromisso com a
ética e transparência fica clara quando se vê executivos sendo presos por
corrupção, essa pequena pesquisa que fiz só me dá a certeza de que eles (e a
maioria das empresas) tratam sustentabilidade como algo de segunda classe.
Também tenho notado em vários relatórios, de empresas de diferentes ramos para dizer a verdade, uma falta de objetividade enorme. Muito texto e pouca ação. Falta uma metodologia adequada para mensuração de resultados, quantificar o uso dos insumos, estabelecer metas de melhorias, enfim mostrar relatórios onde possamos ver resultados práticos. Investimentos em novas tecnologias, em diferentes processos. Falta muita coisa.
ResponderExcluirÓtimo levantamento!!! Se já existiam diversas evidências de que empresas sustentáveis são mais lucrativas, agora estamos percebendo também que empresas sustentáveis são menos corruptas!
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