segunda-feira, 24 de março de 2014

O que o capital social tem a ver com sustentabilidade?

Nos últimos seis anos devo ter lido uns 30 livros relacionados à sustentabilidade. Confesso que, com o passar do tempo, eles vão ficando bem repetitivos. Acontece que mesmo o conteúdo sendo bem parecido há sempre aquela perspectiva única do autor que acaba diferenciando uma obra da outra.

Dessa montanha de livros, já li sobre a sustentabilidade do ponto de vista da economia (enquanto ciência, não enquanto parte do triple bottom line), do ponto de vista da filosofia, do marketing, da comunicação, da filantropia, da engenharia de produção, da administração, das relações internacionais, da sociologia (novamente, enquanto ciência, não enquanto parte do triple bottom line) etc etc etc.

E aí que o último livro que li foi Mercado Ético, da economista Hazel Henderson. Sim, tem bastante coisa parecida com que li em outros livros, principalmente os que focam em sustentabilidade corporativa. Mas um capítulo em especial me chamou muita atenção, o que fala da economia do amor.

O que Henderson chama de economia do amor, eu chamo de capital social. Nunca me foquei nessa perspectiva, mas lendo o livro me atentei para o quanto custa para um país o baixo capital social e o quanto isso tem a ver com sustentabilidade. Vou dar um exemplo bem próximo da realidade dos cariocas:

Há alguns meses o prefeito da cidade do Rio de Janeiro botou em prática uma lei que multa aqueles que jogam lixo nas ruas. Sério que isso tinha de virar uma lei com fiscalização e aplicação de multa? Não sei se alguém aqui já foi a Londres, mas por causa do atentado de 2005, não existe lixeira nas ruas. E nem lixo. Quanto não se gasta em cartórios, advogados e afins simplesmente porque nossa palavra não vale de absolutamente nada?

O princípio mais básico da sustentabilidade é uma palavrinha super propalada e pouquíssimo praticada por nós: ética. Uma sociedade fundamentada na ética acredita no ser humano. Ponto. Se eu me comprometo com você a fazer tal coisa, eu faço, independente de um papel assinado.

Trazendo o capital social para o aspecto econômico, Henderson afirma que pelo menos 50% de toda a produção, mercadorias e serviços em todas as sociedades industriais, e de 65% a 70% em muitos países em desenvolvimento, nunca são levados em conta pelas estatísticas do PIB, já que não há envolvimento de dinheiro. E que justamente quando os sistemas monetários entram em crise, como a que estamos vivendo desde 2008, quando milhares de bancos entram em colapso, é que o capital social faz a diferença.

É só fazer uma análise fria. Na zona do euro, quais foram os países mais impactados pela crise econômica? Portugal, Espanha, Grécia? E quais foram os que se mantiveram mais sólidos? Alemanha, Dinamarca, Suécia, Finlândia? Compare o capital social desses países e me deem a resposta.

E aí, fazendo uma análise ainda mais fria do nosso próprio umbigo, vemos um cenário de baixíssimo capital social, pouquíssima ética e uma população e um governo com prioridades completamente diferentes do que é básico e necessário. Talvez precisemos de mais 500 anos para amadurecermos.

Mercado Ético – A força do novo paradigma empresarial
Autores: Hazel Henderson & Simran
Editora: Cultrix / Amana-Key


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