segunda-feira, 10 de março de 2014

Muito além da globalização

Desde o ano passado tenho lido e estudado compulsivamente sobre economia e sustentabilidade. Não isoladamente, mas a forma como ambas se integram; a economia enquanto ciência, a sustentabilidade, ainda, enquanto conceito. E o que vejo como tendência é que será cada vez mais difícil dissociar a sustentabilidade da economia tanto em um cenário macro, quanto em um cenário micro.

Falando em leitura, um dos últimos livros que li foi Além da globalização, da Hazel Henderson, economista inglesa. Livros de economia, a menos que sejam sobre teorias econômicas, costumam ser datados. Publicado no Brasil em 2007, Além da Globalização foi, na verdade, escrito em 1999, quando o tema era uma grande incógnita para o mundo inteiro.

E aí que a maioria pode pensar: vale a pena ler um livro escrito há 15 anos sobre um assunto que nem está mais em voga hoje? Respondo: vale! Vale, inicialmente, pelo registro histórico e para ver como 15 anos no mundo de hoje parecem 150 anos no passado. Vale, para entendermos o que, efetivamente, precisa ser feito daqui em diante. E vale, principalmente (e infelizmente), para entender porque o processo de transição deu errado.

Lá atrás, há 15 anos, falava-se que a globalização transformaria o mundo em uma sociedade da informação em contraposição à sociedade da indústria. O que vemos hoje, por exemplo, é a Ucrânia, que ensaiou uma mobilização popular poucos meses atrás para destituir um governo corrupto, à beira de uma guerra com a Rússia por conta de logística de óleo e gás. E pior, vemos uma Europa ocidental, há muito tempo com uma agenda moderna para a sustentabilidade se submetendo às exigências russas.

Falando ainda de petróleo, o lobby americano do setor na década de 80 era da ordem de U$ 150 milhões/ano. Em 2009 ele bateu os U$ 500 milhões, mantendo uma média anual de U$ 300 mi. Isso significa que inovações voltadas para eficiência energética e combustíveis alternativos ficam travadas ad eternum no legislativo e regulamentações de baixo carbono viram praticamente lenda urbana.

Por um acaso vocês sabiam que o protótipo do carro de fibra de carbono existe há mais de 20 anos e é capaz de funcionar não apenas com combustíveis limpos, mas também com gasolina, rodando até 80 km/l? A quem não interessa que esse produto chegue ao mercado?

Uma das principais queixas apontadas pelo livro é que com a globalização a tendência da economia era virar um cassino global. Bingo! Apesar de termos vivido crises sequenciais nas últimas décadas, com a globalização esse efeito se torna ainda mais devastador. Mesmo sabendo que a causa das crises é, basicamente, a mesma.

O segundo capítulo é dedicado ao PIB e de como o seu sistema de medição está falido. É simplesmente inviável que um modelo criado, sei lá, na década de 40, meramente financeiro e de curtíssimo prazo, seja o guia de políticas econômicas dos países. . Só para entenderem mais fácil: pela lógica do PIB não se deve investir em educação porque o resultado é em longuíssimo prazo. Vamos vender carro que o crescimento é mais rápido e mais visível!

Enfim, confesso que o livro é de um incômodo ímpar. E incomoda, principalmente porque Hazel Henderson não só já apontava falhas do, então, recém-iniciado processo de globalização, como também apontava caminhos para que o processo fosse sustentável. Quinze anos depois temos uma crise que assola o mundo sem previsão de fim, democracias cada vez mais frágeis e uma postura econômica equivalente ao que se pregava para o capitalismo século XIX.

Além da globalização - Modelando uma economia global sustentável
Autora: Hazel Henderson
Editora: Cultrix / Amana-Key



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