Desde o ano passado tenho lido e
estudado compulsivamente sobre economia e sustentabilidade. Não isoladamente,
mas a forma como ambas se integram; a economia enquanto ciência, a
sustentabilidade, ainda, enquanto conceito. E o que vejo como tendência é que
será cada vez mais difícil dissociar a sustentabilidade da economia tanto em um
cenário macro, quanto em um cenário micro.
Falando em leitura, um dos
últimos livros que li foi Além da globalização, da Hazel Henderson, economista
inglesa. Livros de economia, a menos que sejam sobre teorias econômicas,
costumam ser datados. Publicado no Brasil em 2007, Além da Globalização foi, na
verdade, escrito em 1999, quando o tema era uma grande incógnita para o mundo
inteiro.
E aí que a maioria pode pensar:
vale a pena ler um livro escrito há 15 anos sobre um assunto que nem está mais
em voga hoje? Respondo: vale! Vale, inicialmente, pelo registro histórico e
para ver como 15 anos no mundo de hoje parecem 150 anos no passado. Vale, para
entendermos o que, efetivamente, precisa ser feito daqui em diante. E vale,
principalmente (e infelizmente), para entender porque o processo de transição
deu errado.
Lá atrás, há 15 anos, falava-se
que a globalização transformaria o mundo em uma sociedade da informação em
contraposição à sociedade da indústria. O que vemos hoje, por exemplo, é a
Ucrânia, que ensaiou uma mobilização popular poucos meses atrás para destituir
um governo corrupto, à beira de uma guerra com a Rússia por conta de logística
de óleo e gás. E pior, vemos uma Europa ocidental, há muito tempo com uma
agenda moderna para a sustentabilidade se submetendo às exigências russas.
Falando ainda de petróleo, o
lobby americano do setor na década de 80 era da ordem de U$ 150 milhões/ano. Em
2009 ele bateu os U$ 500 milhões, mantendo uma média anual de U$ 300 mi. Isso significa
que inovações voltadas para eficiência energética e combustíveis alternativos
ficam travadas ad eternum no legislativo e regulamentações de baixo carbono
viram praticamente lenda urbana.
Por um acaso vocês sabiam que o
protótipo do carro de fibra de carbono existe há mais de 20 anos e é capaz de funcionar
não apenas com combustíveis limpos, mas também com gasolina, rodando até 80
km/l? A quem não interessa que esse produto chegue ao mercado?
Uma das principais queixas
apontadas pelo livro é que com a globalização a tendência da economia era virar
um cassino global. Bingo! Apesar de termos vivido crises sequenciais nas
últimas décadas, com a globalização esse efeito se torna ainda mais devastador.
Mesmo sabendo que a causa das crises é, basicamente, a mesma.
O segundo capítulo é dedicado ao
PIB e de como o seu sistema de medição está falido. É simplesmente inviável que
um modelo criado, sei lá, na década de 40, meramente financeiro e de curtíssimo
prazo, seja o guia de políticas econômicas dos países. . Só para entenderem
mais fácil: pela lógica do PIB não se deve investir em educação porque o
resultado é em longuíssimo prazo. Vamos vender carro que o crescimento é mais
rápido e mais visível!
Enfim, confesso que o livro é de
um incômodo ímpar. E incomoda, principalmente porque Hazel Henderson não só já
apontava falhas do, então, recém-iniciado processo de globalização, como também
apontava caminhos para que o processo fosse sustentável. Quinze anos depois
temos uma crise que assola o mundo sem previsão de fim, democracias cada vez mais
frágeis e uma postura econômica equivalente ao que se pregava para o
capitalismo século XIX.
Além da globalização -
Modelando uma economia global sustentável
Autora: Hazel Henderson
Editora: Cultrix / Amana-Key
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