Quem acompanha esse blog sabe que
não sou lá muito fã de relatórios de sustentabilidade. É claro que acho que deve haver uma prestação
de contas pública a respeito das ações de sustentabilidade. Mas acho que
relatório é nada mais do que isso. Prestação de contas. Ponto.
Acontece que para muitas empresas,
o relatório ganhou um protagonismo que, para mim, não faz o menor sentido. Em
tese, repito, ele é apenas a prestação de contas daquilo que foi feito. DAQUILO QUE FOI FEITO. Relatório não
passa da ponta final de todo um processo de gestão de sustentabilidade. Por que
tanto cuidado com o final se o meio e o início são, simplesmente, relegados a
um segundo plano?
Sinceramente acho que pouco deveria
importar a metodologia de coleta de dados (sério, isso é simples demais para a
montanha de dificuldade que as empresas dizem ter nessa ação) ou em qual versão
GRI o relatório é baseado. Mais sinceramente ainda, é um documento que pouca
gente lê. Sem contar que a forma como os indicadores são reportados hoje não
despertam nenhum interesse do mercado financeiro.
Conheço empresas que cobram R$
200.000,00 (e muitas vezes até mais) para escrever um relatório. ESCREVER. Conheço empresas que mal
fazem sustentabilidade e criaram uma gerência de GRI. GERÊNCIA. Com direito a analistas e suporte de consultoria. Conheço
universidade que criou linha de pesquisa de mestrado/doutorado para GRI. Imaginem,
sofrer que nem um cão num mestrado para no final escrever uma dissertação sobre
a importância de relatar o que as empresas fingem que fazem para um mercado que
finge que acredita.
E aí pergunto: para que tanto
investimento, não apenas financeiro, mas principalmente de tempo, de esforço, de
estratégia corporativa para um mero relatório de sustentabilidade? Será que ele
é mais importante do que colocar em prática a sustentabilidade dentro de uma
empresa?
Não, não é!
O que acontece é que preocupadas basicamente
com reputação e de olho no que seus pares fazem, as empresas investem na
construção de relatórios que beiram a ficção. Sim, porque o que se tem hoje são
relatórios que contam uma história onde acidentes não acontecem, onde conflitos
sociais são problemas de fácil solução, onde fauna e flora não são impactadas
pelas operações industriais, onde as emissões não contribuem para as mudanças
climáticas e, principalmente, onde as externalidades são apenas externalidades.
E com um monte de livros de
ficção (sim, relatórios com mais de 80 páginas em tamanho A4 são livros,
convenhamos!) publicados anualmente, as empresas vão fingindo que fazem
sustentabilidade. Não, elas não fazem. Muito longe disso. Inclusive empresas
com relatórios impecáveis são verdadeiramente insustentáveis.
Acho que está na hora de sairmos
da fase de enrolação e amadurecermos de fato a sustentabilidade dentro das
empresas. O ano de 2013 foi particularmente ruim para quem é da área, seja
pelas muitas demissões, seja (para quem trabalha com consultoria) pela falta de
projetos estratégicos (sempre aquele basicão de condicionantes
ambientais/sociais) e seja, principalmente, pela (falta de) profundidade do
discurso de sustentabilidade corporativa. O fato é que, passado o oba-oba da
Rio+20, nós regredimos. E regredimos feio.
Mas como não costumo desistir no
meio do caminho e muito menos me entregar ao que é mais fácil, proponho, aproveitando
que 2014 ainda está no início: que tal pararmos de pensar um pouquinho em
relatórios, GRIs, G4 e afins e começarmos a praticar sustentabilidade
corporativa de gente grande?