sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A sustentabilidade corporativa e a questão da diversidade

“There are no sustainable companies without sustainable communities”
(Borders, Lisa – Vice presidente da Coca-Cola mundial. Mulher. Negra.)

Falar de diversidade em um ambiente corporativo é algo deveras complicado. Condição básica para a sustentabilidade de qualquer empresa, porém é o ponto nevrálgico da maioria. Vejamos: na empresa onde você trabalha, qual a proporção de mulheres em cargos de liderança em relação aos homens? E negros? Ou melhor, quantos negos trabalham em sua empresa em cargos qualificados (não falo nem de liderança). E gays? E deficientes?

Mas antes de entrar no mérito da diversidade corporativa, vamos entrar, simplesmente, no mérito da diversidade. Dada a nossa formação cultural e colonial, podemos definir o Brasil como um país diverso. Aqui brancos, negros, índios, amarelos, vermelhos, azuis se misturaram sem, aparentemente grandes problemas. Não que não haja racismo, mas digamos que a tensão seja menor. O que, não necessariamente, seja melhor.

Hoje temos no país 52% de uma população de negros e pardos e uma estatística de pura desigualdade social. Não vou entrar com números aqui, mas todos estão carecas de saber quem é o público de maior vulnerabilidade social, os principais ocupantes dos empregos menos qualificados, os que têm menos acesso ao ensino superior etc etc etc.

É claro que questões relacionadas à diversidade têm de passar por políticas públicas (não estou falando de cotas), educação básica inclusiva e famílias menos disfuncionais que criam seus filhos rodeados de preconceitos... mas e dentro de um espectro corporativo, o que esse assunto tem a ver com as empresas?

Poderia responder a pergunta por uma ótica assistencialista, que é a de obrigação moral das empresas ajudar os menos assistidos. Sim, elas têm esse dever. Mas acho esse argumento muito fraco, uma vez que empresa não é instituição de caridade. E aí volto à frase que Lisa Borders proferiu na entrevista coletiva da Coca-Cola para anunciar o apoio a projetos de inclusão de negros: “não há empresas sustentáveis sem comunidades sustentáveis”.

Do ponto de vista do negócio, é fundamental para uma empresa empoderar comunidades e populações de baixa renda, principalmente se a empresa em questão for de bens de consumo. A matemática é simples. Uma pessoa empoderada = mais um consumidor em potencial. Em tempos de ascensão de classes e redução de desigualdade, tratar disso é joia para as empresas.

E aí, atenta às demandas dos seus stakeholders, a Coca-Cola Brasil anunciou em coletiva de imprensa na semana passada o investimento de cinco milhões de reais em projetos de inclusão socioeconômica de negros, tendo como foco educação, cultura e comunidade. A coletiva contou com a presença de Joe Beasley, ativista americano para direito dos negros, que atuou na seleção das instituições beneficiadas. Os projetos financiados impactarão diretamente cerca de 100 mil pessoas nos próximos três anos.

Os primeiros contemplados com o aporte financeiro da Coca-Cola são a Afrobras (mantenedora da Faculdade Zumbi dos Palmares - SP), o Instituto Cultural Steve Biko (BA), o Jornal Voz das Comunidades (RJ), Instituto Feira Preta (SP), Instituto Mídia Étnica (BA) e a ONG Ser-Alzira de Aleluia (RJ). Outras parcerias surgirão a partir da criação de um fundo que está em processo de desenvolvimento.

É claro que não acho que patrocinar projetos voltados para a comunidade negra exima qualquer empresa de resolver suas questões internas relacionadas à diversidade. É obrigação moral, e, principalmente, é inteligência de negócios levar a diversidade para dentro de um ambiente corporativo. Mas que o primeiro passo seja e que iniciativas assim se multipliquem em progressão geométrica no país.


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