“There are no
sustainable companies without sustainable communities”
(Borders, Lisa – Vice presidente da Coca-Cola mundial. Mulher. Negra.)
Falar de diversidade em um
ambiente corporativo é algo deveras complicado. Condição básica para a
sustentabilidade de qualquer empresa, porém é o ponto nevrálgico da maioria.
Vejamos: na empresa onde você trabalha, qual a proporção de mulheres em cargos
de liderança em relação aos homens? E negros? Ou melhor, quantos negos
trabalham em sua empresa em cargos qualificados (não falo nem de liderança). E
gays? E deficientes?
Mas antes de entrar no mérito da
diversidade corporativa, vamos entrar, simplesmente, no mérito da diversidade.
Dada a nossa formação cultural e colonial, podemos definir o Brasil como um
país diverso. Aqui brancos, negros, índios, amarelos, vermelhos, azuis se
misturaram sem, aparentemente grandes problemas. Não que não haja racismo, mas digamos
que a tensão seja menor. O que, não necessariamente, seja melhor.
Hoje temos no país 52% de uma
população de negros e pardos e uma estatística de pura desigualdade social. Não
vou entrar com números aqui, mas todos estão carecas de saber quem é o público
de maior vulnerabilidade social, os principais ocupantes dos empregos menos
qualificados, os que têm menos acesso ao ensino superior etc etc etc.
É claro que questões relacionadas
à diversidade têm de passar por políticas públicas (não estou falando de
cotas), educação básica inclusiva e famílias menos disfuncionais que criam seus
filhos rodeados de preconceitos... mas e dentro de um espectro corporativo, o
que esse assunto tem a ver com as empresas?
Poderia responder a pergunta por
uma ótica assistencialista, que é a de obrigação moral das empresas ajudar os
menos assistidos. Sim, elas têm esse dever. Mas acho esse argumento muito fraco,
uma vez que empresa não é instituição de caridade. E aí volto à frase que Lisa
Borders proferiu na entrevista coletiva da Coca-Cola para anunciar o apoio a
projetos de inclusão de negros: “não há empresas sustentáveis sem comunidades
sustentáveis”.
Do ponto de vista do negócio, é
fundamental para uma empresa empoderar comunidades e populações de baixa renda,
principalmente se a empresa em questão for de bens de consumo. A matemática é
simples. Uma pessoa empoderada = mais um consumidor em potencial. Em tempos de
ascensão de classes e redução de desigualdade, tratar disso é joia para as
empresas.
E aí, atenta às demandas dos seus
stakeholders, a Coca-Cola Brasil anunciou em coletiva de imprensa na semana
passada o investimento de cinco milhões de reais em projetos de inclusão
socioeconômica de negros, tendo como foco educação, cultura e comunidade. A
coletiva contou com a presença de Joe Beasley, ativista americano para direito
dos negros, que atuou na seleção das instituições beneficiadas. Os projetos
financiados impactarão diretamente cerca de 100 mil pessoas nos próximos três anos.
Os primeiros contemplados com o
aporte financeiro da Coca-Cola são a Afrobras (mantenedora da Faculdade Zumbi
dos Palmares - SP), o Instituto Cultural Steve Biko (BA), o Jornal Voz das
Comunidades (RJ), Instituto Feira Preta (SP), Instituto Mídia Étnica (BA) e a
ONG Ser-Alzira de Aleluia (RJ). Outras parcerias surgirão a partir da criação
de um fundo que está em processo de desenvolvimento.
É claro que não acho que
patrocinar projetos voltados para a comunidade negra exima qualquer empresa de
resolver suas questões internas relacionadas à diversidade. É obrigação moral,
e, principalmente, é inteligência de negócios levar a diversidade para dentro
de um ambiente corporativo. Mas que o primeiro passo seja e que iniciativas
assim se multipliquem em progressão geométrica no país.
E não se esqueçam: curso de Comunicação e Sustentabilidade dias 15 e 22 de fevereiro! Mais informações: http://goo.gl/hMjcjK