Para quem não sabe, a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) está batendo na nossa porta. Aprovada em
2010, muitos dos itens da lei, obrigatoriamente, devem entrar em vigor a partir
de 2014. E 2014 está logo ali. O item mais complexo, em minha opinião, é o fim
dos lixões. Muitas cidades, como Brasília, por exemplo, já disse com antecedência
que não conseguirá acabar com os lixões nem em 2014 e nem nos próximos anos.
E aí que quando falamos de PNRS,
além da questão dos lixões, muitos assuntos transversais vêm à tona, como
logística reversa e reciclagem. Entrando no detalhe da reciclagem, no Brasil e
em vários outros países, acontece um comportamento típico de regiões muito
desiguais, que é a presença do catador de material reciclável.
Com baixíssima qualificação,
pouco ou nenhum estudo, zero de autoestima, na maioria das vezes à margem da
sociedade, eis que esse personagem, o catador, de uma hora para outra está
virando protagonista de um cenário que pode (e deve) mudar a nossa relação com
o consumo e a nossa relação com o ambiente. Sem contar, ainda, que vai mudar a
forma como as empresas lidam com seus processos produtivos.
Mesmo sendo um dos protagonistas
da PNRS, sabemos o quão complexo é organizar um grupo de catadores com os
mesmos interesses e transformá-los em responsáveis pela gestão de um negócio. No
alto de seus oito anos de experiência, o Instituto de Projetos e Pesquisas
Socioambientais (IPESA) desenvolveu uma metodologia de trabalho que foca não
somente no aspecto técnico, mas também humano do catador, fazendo um resgate da
autoestima dessas pessoas que, quase sempre, são invisíveis para a sociedade.
E para coroar esse conhecimento,
o IPESA, o lançou esse ano, em parceria com a Editora Peirópolis e apoio do
Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) o livro “Do
lixo à cidadania: guia para formação de cooperativas de materiais recicláveis”.
Para ser possível, a obra teve o patrocínio da Natura e da Ambev.
O livro, destinado a gestores
municipais, ONG’s, associações, incubadoras, universidades, pesquisadores,
empreendedores sociais, empresários e entidades apoiadoras, além das próprias
organizações de catadores, mostra alternativas sobre como lidar com o lixo de
maneira organizada e sustentável.
O livro está
sendo enviado gratuitamente para os mais 5.500 municípios brasileiros com o
intuito de despertar no poder público, em conjunto com organizações sociais e
população o desenvolvimento de sistemas de coleta seletiva e inclusão social
dos catadores. Além da versão impressa, há a versão eletrônica do livro, que
pode ser baixada junto com outros conteúdos no site http://www.dolixoacidadania.org.br.
É uma leitura super simples e
super didática, o que facilita a replicação do conhecimento. E mesmo para quem não tem interesse específico
na PNRS ou cooperativas ou relacionamento com comunidades, ela é válida tanto
pelo aprendizado, quanto pelo desenho da metodologia (que pode ser utilizado em
outras situações) e pela forma como os indicadores de sustentabilidade são
tratados. Para quem trabalha com planejamento, é uma delícia ler esse livro!