quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Muito além da economia verde

Dos nove últimos livros que li, cinco tinham como tema central a sustentabilidade do ponto de vista da economia. Não falo do tripé de finanças, falo sobre os preceitos clássicos de economia analisados pela ótica da sustentabilidade. Um dos últimos que li foi Muito além da economia verde, do professor Ricardo Abramovay. Li e gostei.

Gostei, primeiro, porque o livro não faz cerimônias. Não, o que as empresas fazem hoje e estão dispostas a fazer num futuro próximo não são, nem de longe, o suficiente. Como diz o  professor, “Apesar do aumento na eficiência material e energética da economia contemporânea, a pressão sobre os ecossistemas continua a aumentar”.

Seguindo essa lógica, de que adianta uma empresa de bebidas dizer que na última década reduziu em 30% o consumo de água no processo produtivo do refrigerante, se, ao mesmo tempo, ela aumentou a produção em 50%? A conta não fecha. E no modelo econômico em que vivemos, onde crescimento é medido pelo volume de dinheiro do PIB, a conta não pode fechar.

Gostei, também, porque o livro incomoda. Na verdade, confesso, Ricardo Abramovay me incomoda desde que li seu artigo intitulado Metabolismo social. A questão base é: com uma população que chegará, em breve, a nove bilhões, uma classe média ávida por bens e o planeta sendo apenas um (e com seus recursos naturais limitados), a nossa relação com o consumo terá de mudar.

Essa mudança começa lá em cima, com as empresas, na questão ética e moral da produção (já questionei, por exemplo, para onde vai o minério virgem - se para uma indústria armamentista ou para a indústria de equipamentos médicos), passando a bola para nós, pessoas, na forma de como as sociedades utilizam os produtos.

De que adianta, por exemplo, uma indústria automobilística trabalhando em consonância aos preceitos de economia verde, fabricando carros de fibra de carbono, leves, de baixo impacto ambiental, com absurda eficiência no consumo de combustível, se as pessoas usam o automóvel de forma individualizada, congestionando vias e tornando cada vez mais estressante a relação homem x cidade?

Sob esse aspecto, torna-se fundamental aliar o tripé economia verde, tecnologia e sociedade em rede. O compartilhamento é a palavra-chave para viabilizar uma nova economia, completamente distinta do que vem sendo feito nos últimos séculos. Uma economia que vai muito além da eficiência de processos e permitirá um crescimento que meça, não somente a questão financeira, mas também qualidade de vida e preservação ambiental. Ou seja, o verdadeiro "PIB"

Para finalizar, dois dados que me chamaram muito a atenção e, talvez, sintetizem todo o contexto do livro:

De 2000 a 2011 a renda bruta per capita cresceu 32% no Brasil. No mesmo período, a expectativa de vida escolar caiu de 14,5 anos para 13,8 anos;

15% dos habitantes do globo consomem 90% dos remédios que o setor farmacêutico coloca no mercado.



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